LVMH, L’Oréal, Shiseido e L’Occitane fazem consultas ao grupo brasileiro sobre a empresa australiana, avaliada em cerca de US$ 2 bilhões
Por Monica Scaramuzzo
A Natura &Co começou a receber consultas preliminares para a compra de uma participação na Aesop, marca de luxo da gigante brasileira de cosméticos, apurou o Valor. A agência Bloomberg informou nesta segunda-feira que o maior grupo de produtos de luxo LVMH, a também francesa L’Oréal, e a japonesa Shiseido estão entre os interessados, em uma transação que avaliaria a Aesop em cerca de US$ 2 bilhões.
Fontes a par do assunto ouvidas pelo Valor confirmaram o interesse das três empresas na Aeosop e informaram que o grupo L’Occitane e fundos de private equity, como CVC Partners, também estão buscando dados financeiros da marca nascida na Austrália e comprada pela Natura em 2013. A Natura avalia vender uma participação no negócio, mas não descarta se desfazer de 100% da marca, a depender das propostas.
A estimativa feita pelo mercado na Aesop em cerca de US$ 2 bilhões é maior que o esperado, segundo relatório do Citi. Os analistas do banco informaram que esse valor implica em um múltiplo de 16,5 vezes o valor sobre o Ebitda (lucro antes de juros, impostos depreciação e amortização, na sigla em inglês), o que seria positivo para a Natura, caso a participação realmente seja vendida nesses valores. O banco também destaca que a venda de uma fatia de 25% nesses termos reduziria a alavancagem da empresa de 2,9 vezes a dívida líquida sobre o Ebitda, ao fim do terceiro trimestre, para 2 vezes.2 de 2
O Citi tem recomendação neutra para a Natura &Co, com preço-alvo em R$ 13. Nesta segunda-feira, as ações da companhia fecharam em alta de 5,49%, a R$ 13,65, impulsionadas pelo interesse de concorrentes na Aesop. No ano, os papéis da empresa acumulam aumento de 17,5%. Em 12 meses, contudo, as ações recuam 36,1%, de acordo com levantamento do Valor Data. O valor de mercado da Natura é R$ 18,9 bilhões.
Ainda não há proposta firme pelo negócio, de acordo pessoas familiarizadas com o tema. Inicialmente, a Natura pretendia fazer a cisão da marca ou mesmo uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês). No entanto, as condições de mercado ainda não estão favoráveis à abertura de capital.
A companhia brasileira está sendo assessorada pelo Bank of America e Morgan Stanley na operação. Os bancos estão avaliando qual deve ser o melhor arranjo financeiro para dar maior liquidez à companhia brasileira, que anunciou no ano passado uma ampla reestruturação dos seus negócios.
Em junho do ano passado, a Natura trocou o comando do grupo para dar uma guinada, depois de amargar resultados negativos e ver os preços de suas ações caírem durante a pandemia. O executivo Fábio Barbosa, que já fazia parte do conselho de administração da companhia brasileira, assumiu a presidência global da Natura & Co., no lugar de Roberto Marques.
Convidado pelos principais acionistas do grupo, Fábio Barbosa chegou com a missão de simplificar a estrutura da holding, melhorar as margens e os resultados da companhia e promover o reposicionamento das marcas Aesop, Avon, Natura e The Body Shop.
No terceiro trimestre, a receita líquida da companhia somou R$ 9 bilhões, com queda de 5,7% no comparativo anual. No período, a holding registrou um prejuízo atribuído aos controladores de R$ 560 milhões, ante lucro de R$ 273 milhões no terceiro trimestre do ano passado. O faturamento da marca Aesop cresceu 21,5%, encerrando o terceiro trimestre em R$ 602,6 milhões.
Em entrevista recente ao “Financial Times”, Fábio Barbosa afirmou que o foco da companhia será mais nas margens e geração de caixa do que no crescimento das vendas. O movimento de expansão do grupo também cessou. A direção tem revisto o modelo de negócios da Natura e a presença de marcas da empresa em mercados de baixo desempenho.
A companhia está trabalhando para fazer a integração da Natura e Avon na América Latina, movimento que já era cobrado pelo mercado financeiro.
Procurada, a Natura não comentou o assunto. LVMH, L’Oréal e Shiseido também não quiseram comentar. CVC Partners e o grupo L’Occitane não retornaram os pedidos de entrevista até o fechamento desta edição. (Colaborou Felipe Laurence)
Fonte: Valor Econômico