Taxa de crescimento de 6% no primeiro semestre é a menor desde 2016
Por Adriana Mattos
Relatórios sobre as vendas no varejo on-line no país, de consultorias tradicionais do setor, confirmam a queda no ritmo de crescimento no ano e indicam que o atacarejo – e sua agressiva política de preços e ampliação de portfólio – pode estar ganhando mercado, inclusive, sobre os grandes “marketplaces”.
Dados ainda mostram que as plataformas estrangeiras, parte delas com operação na Ásia, não vêm ampliando a base de consumidores em ritmo tão acelerado – um possível sinal de que os sites internacionais não ficaram imunes à crise no consumo, com a alta da inflação e repasses de aumentos de custos a lojistas on-line e clientes.
Relatório semestral “Webshoppers” (46ª edição), elaborado pela NielsenIQ | Ebit, e antecipado ao Valor, mostra alta de 6%, em termos nominais, nas vendas do comércio eletrônico no primeiro semestre, para R$ 118,6 bilhões. É a mais baixa taxa de expansão semestral desde 2016 – após 2020, os números passaram a considerar os dados do Mercado Livre.
O crescimento é visto como tímido, diz o responsável pela área de e-commerce da NielsenIQ, Marcelo Osanai, principalmente ao se considerar o avanço de 47% no primeiro semestre de 2021. E não se trata apenas de um efeito da base de comparação mais forte do ano passado, já que em anos anteriores, mesmo com taxas comparáveis elevadas, as expansões foram expressivas.
Há um impacto negativo do cenário “macro”, mas a NielsenIQ | Ebit, que elabora o estudo em parceria com a Bexs Pay, entende que há diferenças nos desempenhos. Categorias de alto giro como alimentos e bebidas, perfumaria e saúde mantêm ritmos mais fortes, diz Osanai. Esses segmentos tiveram aumento de 128%, 24% e 15%, respectivamente. Mas telefonia, eletrônicos e eletrodomésticos caíram 18%, 6% e 1%, mais afetados pela alta de juros.
A projeção da empresa é de uma alta de 7% no ano, ligeiramente acima do acumulado até junho, num possível efeito um pouco mais positivo da Black Friday e da Copa do Mundo na segunda metade do ano.
Há um fluxo maior de consumidores no on-line, porém os gastos por compra estão caindo. De acordo com a pesquisa, há 49,8 milhões de compradores no digital no Brasil, alta de 18% sobre o ano anterior. Mas o tíquete médio entre os consumidores recorrentes encolheu 7%.
Ainda no primeiro semestre, 54% dos brasileiros fizeram alguma compra em sites internacionais – Shopee, Aliexpress e Amazon são, nessa ordem, os preferidos. É uma taxa ligeiramente acima dos 52% de um ano atrás, mas ao se olhar a curva anual, em 2021, 68% compraram algo nessas plataformas, versus 71% em 2020.
Vendedores vêm repassando aos consumidores, nos últimos meses, aumento em taxas de serviços cobradas por parte das plataformas de comércio eletrônico, o que pode afetar demanda.
“Houve alguma melhora na logística e nos prazos de entrega de Shopee e AliExpress de um ano para cá, e isso ajuda na venda, mas meus clientes de acessórios em telefonia e roupas femininas sentiram uma queda de 8% a 10% nos pedidos desde março. Ninguém fica imune a essa queda na renda”, diz um fornecedor de serviços de tecnologia para 25 lojistas médios.
Outro estudo, da consultoria Dunnhumby, concluído em agosto, mostra que os atacarejos têm se destacado como opção de local para compra, superando inclusive varejistas on-line tradicionais, com forte apelo em ofertas.
Em uma pesquisa com 10 mil consumidores, com 17 mil avaliações e 47 redes pesquisadas, as lojas com maior frequência de compra foram Assaí (11%), seguidas do Atacadão (10%). Em terceiro empatam Amazon (8%) e Mercado Livre (8%).
Nesta terça-feira, relatório publicado pela equipe do BTG Pactual relata três tendências esperadas para os próximos trimestres no varejo digital. A equipe liderada pelo analista Luiz Guanais espera crescimento de vendas totais fraco neste ano, mas melhorando gradualmente, manutenção de foco na lucratividade (em detrimento de crescimento, uma política que vem sendo adotada desde 2022 por plataformas brasileiras), preservação de caixa e provável maior consolidação do mercado entre algumas empresas.
Fonte: Valor Econômico