Menor do que as rivais no Brasil, companhia planeja seguir ampliando a estrutura de logística
Por Lucianne Carneiro
Gigante do comércio mundial, perde apenas para Walmart, a maior varejista do mundo, a Amazon investiu nos últimos dois anos no Brasil para ampliar sua participação no mercado brasileiro. A companhia passou, desde 2020, de um para 12 o número de centros de distribuição no país, com tamanhos entre 30 mil e 50 mil metros quadrados. A logística, apontam especialistas, ganha mais importância na atuação do varejo, diante de um consumidor que quer receber suas compras em prazos cada vez menores.
Mesmo com a expansão, o número de unidades da Amazon é menor que o de concorrentes, que chegam a ter 30 centros, como é o caso da Via (dona de Casas Bahia e Ponto). A Americanas S.A. (Lojas Americanas e B2W Digital) tem 25 de centros de distribuição, enquanto o total da Magazine Luiza é de 24. Mercado Livre tem 10.
Muitos varejistas também apostam no modelo “cross-docking” – um galpão menor para redirecionamento de entregas dentro da própria rede, como um entreposto. Ou ainda no uso de lojas físicas como “mini-hubs” de distribuição, não apenas de produtos próprios (1P, no jargão do setor), mas também de terceiros (conhecidos como “sellers”, no chamado 3P) – caso do Magazine Luiza.
Ao contrário do mercado mundial, onde é vice-líder, a Amazon ainda tem desempenho no Brasil muito aquém dos rivais, segundo estimativas de mercado. Ranking da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) dos maiores “marketplaces”, plataformas on-line que comercializam produtos próprios e de terceiros, aponta a Amazon como sexta colocada, com R$ 3,832 bilhões de mercadorias vendidas em 2021. O valor não inclui as vendas de terceiros. Se consideradas essas outras vendas, o número estimado sobe para R$ 10 bilhões, de acordo com a consultoria Varese Retail.
Ainda assim, são cifras menores do que as das primeiras do ranking: Mercado Livre (R$ 68 bilhões), Americanas S.A. (R$ 42,195 bilhões), Magazine Luiza (R$ 39,751 bilhões) e Via (R$ 26,423 bilhões).
Sem revelar valores de investimentos nem de receita, Ricardo Pagani, líder de Operações da Amazon no Brasil, diz que foram feitos “investimentos importantes” e que a empresa está apenas no início de sua atuação no Brasil. Embora tenha chegado em 2012, inicialmente vendendo apenas livros digitais e o Kindle (leitor), a ampliação da oferta de produtos e categorias foi gradual. Os livros físicos começaram a ser vendidos em 2014, depois vieram os itens em parceria com terceiros (“sellers”) e só em 2019 passou a adquirir produtos para revenda e vender dispositivos como a assistente virtual Alexa.
Atualmente, a Amazon tem uma variedade de 50 milhões de produtos à disposição dos clientes, em 30 categorias.
“Assim como em outros mercados, a Amazon está no Brasil com uma visão de longo prazo. Estamos construindo uma operação de forma sustentada. São investimentos importantes feitos agora, inicialmente com um horizonte de retorno de cinco a dez anos”, afirma. Pagani minimizou a disputa por uma posição de liderança no Brasil e reforçou que é possível avaliar a posição de cada concorrente em diferentes categorias. No caso de livros vendidos pelo canal on-line, por exemplo, a Amazon está na dianteira.
Os investimentos em centros de distribuição, segundo o executivo, estavam previstos antes da covid-19 chegar ao país, mas foram acelerados durante a pandemia.
Cinco dos 12 centros estão na cidade de Cajamar (SP), dois em Cabo de Santo Agostinho (PE), um em Nova Santa Rita (RS), um em São João de Meriti (RJ), um em Santa Maria (DF), um em Betim (MG) e o outro em Itaitinga (CE). Cada um deles leva o nome do aeroporto mais próximo. Os de Cajamar, por exemplo, são GRU5 ou GRU8, em referência ao aeroporto de Guarulhos.
A Amazon pretende continuar a investir em novos centros de distribuição. A ideia é também ampliar o número de estações de entrega, que hoje são cinco: (três em São Paulo, além de Rio de Janeiro e Minas Gerais). As unidades respondem pela “última milha” da operação, que é a etapa final até o consumidor, e funcionam em determinadas situações.
A logística, diz o fundador e diretor da 360Varejo, Luiz Claudio Dias de Melo, é a bola da vez do varejo, e exige investimentos elevados. Um sinal da preocupação da Amazon com as entregas, segundo ele, é a compra recente de 10% da Total Express, empresa de logística e distribuição.
Só que a Amazon chegou depois nessa ofensiva do varejo em ampliar centros de distribuição no Brasil, observa Melo, que diz que a companhia enfrenta “um campo minado”. Enquanto domina o mercado americano, no Brasil enfrenta concorrentes maiores e à frente em termos de estrutura logística: “Esse movimento que a Amazon faz é tardio. O mercado é bastante ocupado e ‘minado’. Os investimentos dos grandes operadores vêm ocorrendo há anos”, diz ele.
A avaliação da chegada tardia é compartilhada pelo sócio e fundador da consultoria Varese Retail, Alberto Serrentino, que aponta uma escalada agressiva da varejista fundada por Jeff Bezos. “A Amazon começou depois, está se estruturando, mas vem escalando muito agressivamente, com investimentos pesados, com muitos ‘fulfillment centers’ “, diz Serrentino.
O especialista em varejo faz referência a centros que recebem os itens, estocam, embalam e despacham o produto, além de atender o cliente quando há alguma reclamação depois de ter recebido a encomenda. No caso do centro de Cajamar (GRU8), onde há operações de marketplace, também oferecem este tipo de serviço a terceiros que usam a plataforma. Os centros de distribuição que a Amazon está montando no país “vão dar a infraestrutura e a musculatura para melhorar o nível de serviço e a capacidade de prestar serviços de logística para os ‘sellers’, que é a fortaleza deles nos Estados Unidos”.
Um dos caminhos para a empresa ampliar a base de clientes no Brasil, diz Serrentino, é o programa Prime, que prevê entrega grátis para uma gama de produtos, independente do valor, e o Prime Video, que é o serviço de “streaming”.
Procuradas para comentar sobre o avanço da Amazon no Brasil, Mercado Livre, Americanas S.A., Magazine Luiz e Via preferiram não responder, mas deram indicadores sobre os prazos de entregas, um dos parâmetros nessa disputa pelo consumidor.
Segundo o diretor executivo de Logística da dona de Casas Bahia e Ponto, Fernando Gasparini, mais de 15% das entregas da empresa são feitas atualmente no mesmo dia da compra e mais de 40% dos produtos chegam no prazo de 24 horas. Na Americanas S.A., 61,2% das entregas são feitas em 24 horas, sendo 40% realizadas em apenas três horas, segundo dados do segundo trimestre do ano.
No Magazine Luiza, 80% dos pedidos de produtos próprios (ou seja, sem considerar os “sellers”) são entregues em até 48 horas, sendo uma parcela “importante” em até 24h, de acordo com a empresa.
A própria Amazon não divulga esses números, mas revela que, pelo Amazon Prime, o frete grátis em até um dia está em 100 cidades e o de dois dias, para mais de 1 mil municípios.
Fonte: Valor Econômico