Os dados do segundo Relatório Anual de Tendências de Luxo Consciente dão conta de que a pandemia foi responsável por outra mudança no comportamento
Por Pedro Diniz
Talvez não haja maneira mais crível de medir o interesse do consumidor de luxo por artigos sustentáveis do que analisar seus hábitos de compra. Líder global no comércio eletrônico focado em moda de alto padrão, a inglesa Farfetch registrou em 2021 um aumento de 93% na procura por “produtos conscientes”, no comparativo com o ano anterior, e viu crescer em 60% as compras nesse segmento “verde”.
Os dados do segundo Relatório Anual de Tendências de Luxo Consciente dão conta de que a pandemia foi responsável por outra mudança no comportamento de seus mais de 3 milhões de clientes ativos. Cerca de 20% de toda a base fizeram alguma compra na aba de produtos de segunda mão, mercado que, segundo a consultoria GlobalData, pode chegar a valer US$ 30 bilhões até 2030.
O interesse pujante por consumir moda com algum ativo vinculado à sustentabilidade, desde materiais menos nocivos, a exemplo do couro de curtimento sem químicos, ou roupas cujo tecido consome menos carbono em sua produção, levou a empresa a lançar neste mês uma plataforma exclusiva para que as 1.400 marcas abrigadas no site possam medir seu grau de responsabilidade.
Batizado de Good Measures, o espaço foi criado em parceria com o selo de classificação Good On You e faz parte da estratégia para atingir a meta auto imposta de que todos os artigos vendidos na Farfetch tenham algum nível de responsabilidade ambiental até 2030.
O diretor de sustentabilidade da empresa, Thomas Berry, afirma que o projeto consumiu quatro anos de trabalho e atende à série de dúvidas que o mercado tem na hora de traçar planos para se tornar mais ecológico.
“Esse é um tema enorme e difícil porque mexe com a cultura da empresa. Elas sabem que devem agir, e nossos números comprovam isso, mas não sabem por onde começar ou como evoluir um planejamento que já iniciaram”, explica o executivo.
Os clientes não têm acesso à plataforma, que passa a ser um ambiente personalizado para cada marca, mas, à medida que uma etiqueta evolui em cada meta atingida, ela ganha pontos e pode figurar no espaço “conscious” da página principal, além de ganhar visibilidade no e-commerce. Também pesa na conta o aspecto social do tripé sustentável, ou seja, contará pontos na classificação das marcas que comprovarem a origem de seus produtos e a confecção em condições dignas de trabalho.
Berry acredita que o interesse por sustentabilidade é uma oportunidade para o mercado de luxo crescer, haja vista que 80% dos clientes da Farfetch entrevistados para um dos levantamentos do relatório afirmam ter ampliado a compra de artigos luxuosos pela ideia de maior durabilidade.
“É preciso desvincular o crescimento de uma marca ao uso indiscriminado dos recursos do planeta. Provamos que é possível. Uma marca pode, por exemplo, vender mais itens usados, que não têm impacto zero, mas têm muito menos impacto do que aqueles com matérias-primas novas”, diz.
“As empresas precisam expandir enquanto exploram novas formas de produção que respondam a essa pressão global por consciência.”
Fonte: Valor Econômico