Varejista de eletro fundada por ex-sócio da Máquina de Vendas deve atingir 50 lojas
Por Marina Falcão
“Nesse setor, às vezes se sobressai não quem vende mais, mas quem perde menos”. É assim que Cristiano Vilar, presidente da rede Império, acredita ser possível ganhar dinheiro no varejo de eletroeletrônicos no Brasil, acrescentando que o segmento combina margens baixas e necessidade de oferecer financiamento ao cliente. Controlada pelo ex-presidente e sócio da Máquina de Vendas Richard Saunders, a rede Império deve atingir R$ 717 milhões em vendas neste ano em quatro Estados e projeta dobrar de tamanho até 2026.
Thank you for watching
Saunders vendeu o controle da pernambucana Eletroshopping para Máquina de Vendas em 2012, se tornando sócio de um negócio gigante em um momento de consolidação do setor. Em 2014, o empresário assumiu a presidência da companhia, função que ocupou por oito meses, substituindo Ricardo Nunes, fundado da Ricardo Eletro. Em 2015, quando o modelo da empresa dava sinais de fraqueza, deixou a função vendendo o restante das suas ações para os demais sócios do grupo. Aos mais próximos, Saunders justificou a saída afirmando que a Eletroshopping não era mais a empresa que ele tinha fundado.
Na época, o empresário pernambucano assinou um acordo de não competição de quatro anos, mas em 2017 conseguiu antecipar o fim da quarentena e voltou ao setor, com a rede Império, juntamente com mais quatro sócios, dois dos quais também ex-Máquina de Vendas. Em plena recessão, enquanto os principais concorrentes apostavam em um tíquete baixo, a primeira loja Império, no shopping Riomar no Recife, foi inaugurada com um sortimento de produtos de maior preço. A oferta de móveis, segmento em que as margens são melhores do que em eletro, era particularmente mais ampla, algo que se tornou característico nas unidades da rede.
“Não estávamos começando do zero. Sabemos o que funciona e o que não funciona, quais os pontos que de fato vendem, qual o mix adequado, os melhores shoppings, como lidar com os fornecedores”, afirma Vilar, que teve boa parte de sua carreira na varejista Bompreço, antes de se unir a Saunders.
Até o fim do ano, a Império deve atingir 50 lojas nos Estados de Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Ceará. De 2017 para cá, a rede abriu 38 lojas – das quais 32 são em pontos antes ocupados por alguma bandeira da Máquina de Vendas no Nordeste (Ricardo Eletro, Eletroshopping ou Insinuante).
O plano da Império é alcançar 90 lojas só no Nordeste até 2026 e faturamento de R$ 1,5 bilhão em sete dos nove Estados do Nordeste – Bahia e Sergipe ficarão para uma segunda fase de expansão. A empresa já nasceu com auditoria externa e publicando balanço como uma S.A de capital fechado, pois pretende de fazer uma oferta inicial de ações na bolsa.
Em 2020, os sócios queriam ir a mercado aproveitando o embalo de IPOs de empresas nordestinas como a supermercadista Mateus e a incorporadora Moura Dubeux, mas a janela se fechou para ofertas. “Seguramos um pouco, não tem pressão. Mas está no nosso radar”, afirma Vilar. As ações das concorrentes nacionais Magazine Luiza e Via Varejo caem 67% e 45% no ano, respectivamente, diante de um cenário de juros maiores, inflação e desemprego em alta.
Vilar reconhece o amplo histórico de quebradeira de empresas do ramo, especialmente em momentos de crise macroeconômica. Com o acirramento da concorrência com Amazon e Mercado Livre, que têm caixa para queimar para ganhar participação de mercado no Brasil, o ambiente é ainda mais desafiador.
Ele lembra que Saunders fundou a Eletroshopping em 1994 e sobreviveu a diversos momentos ruins da economia. Em 2010, dois anos antes de ser comprada pela Máquina de Vendas, a rede chegou a um faturamento de R$ 850 milhões e era reconhecida no ramo por sua rígida disciplina financeira. Para repetir essa história, a estratégia da Império será permanecer uma especialista em eletro e móveis regional, sem cair na “armadilha” de se expandir para outras categorias no on-line, diz Vilar. “Na crise, a gente tem que apostar no que conhece muito bem para errar menos”, afirma.
A disciplina financeira e a cautela com eventuais aquisições também devem guiar a operação da rede. “Se gerar caixa, abre loja, se não gerar, não abre. Nisso, Saunders é muito rigoroso”, diz. O empresário é presidente do conselho de adminitração da Império e tem 55% das ações da rede.
O balanço de 2021 da empresa ainda não foi publicado. O mais recente, de 2020, revela uma receita líquida de R$ 239 milhões e um lucro de R$ 5,6 milhões. Antes dos juros e dos impostos, o ganho registrado dois ano atrás foi de R$ 16,5 milhões.
No próximo ano, a empresa vai migrar suas operações para um novo centro de distribuição de 58 mil metros quadrados em Igarassu, na região metropolitana no Recife. Atualmente, a empresa usa um centro em Paulista, com 20 mil metros quadrados. A holding patrimonial de Saunders fará o investimento de R$ 70 milhões no novo empreendimento, que será alugado à rede Império. Espaços ociosos do local serão sublocados a fornecedores.
Fonte: Valor Econômico