Rede enfrenta a pandemia bem próxima a seus franqueados e prepara inovações que melhoram a experiência nas praças de alimentação
Por Patricia Trudes
Em 2004, desossando um bovino atrás do balcão de um açougue em Itu, no interior de São Paulo, Ricardo José Alves da Silva, então com 32 anos, enxergou uma oportunidade: inaugurar um restaurante especializado em carnes, o Griletto.
Dez anos depois, com 120 unidades e no comando do maior grupo de grelhados fast-food do Brasil, comprou a Montana Grill, da dupla Chitãozinho & Xororó, então com 98 franquias: “Era a referência, a marca que a gente queria ser”.
Hoje o CEO da Holding de Alimentação e Participações (Halipar), fusão dos grupos J. Alves e Ornatus, da rede Jin Jin, se diz “muito orgulhoso” de ver suas três marcas dividindo o pódio das 64 redes de alimentação avaliadas pela Serasa Experian – e Montana Grill ser eleita Franquia do Ano pela PEGN.
De 2020 para 2021, Montana Grill deu um salto em plena pandemia: saiu de quatro para cinco estrelas, com notas altas em satisfação do franqueado (8,56), qualidade da rede (8,41) e desempenho (8,15). “Tive empatia com os parceiros”, diz Silva.
Idas e vindas
Além de isentar a rede de todas as taxas, usou a força da marca para negociar, caso a caso, com fornecedores e shoppings – 100% das unidades estão em praças de alimentação. “Buscamos alternativas, como se o negócio fosse nosso.”
E não foi só em março de 2020. Em janeiro de 2021, com a violenta segunda onda do novo coronavírus, as intermediações retomaram, “mas foram mais difíceis, porque toda a cadeia já estava mais machucada”.
Até setembro, conduziu webinars semanais sobre crédito, leis trabalhistas, inflação. “Alguns foram para chorar junto, porque a gente sabia que o que tinha de fazer era dar colo e se mostrar presente.”
A prioridade era não fechar unidades; no entanto, quatro não resistiram. “Em um cenário normal, o repasse seria uma possibilidade, mas, em meio a idas e vindas da pandemia, a incerteza sobre a economia prejudicou os negócios. As pessoas se sentiam muito inseguras para fazer novos investimentos.”
A recuperação da Montana Grill veio forte em setembro de 2021, até mais do que o esperado; foi abalada em dezembro e janeiro, com a ômicron, mas reverteu: das 13 unidades previstas para 2022, cinco foram inauguradas no primeiro quadrimestre. “O delivery, em alguns momentos, foi a tábua de salvação e respondeu por 90% das vendas. Não tínhamos uma operação estruturada e tivemos jogo de cintura para nos adaptarmos rapidamente.”
Hoje, a equação está mais equilibrada, em 15%. “É uma operação bem mais cara, porque, além do custo das embalagens, que chegou a subir 200%, há as taxas cobradas pelos marketplaces, que são altas.”
Para Silva, a força da marca impulsionou o desempenho em 2021 e 2022. “Mesmo nas cidades onde não estamos, todo mundo conhece e associa ao Chitãozinho & Xororó.” E também o relacionamento com o franqueado. “Quando ele tem um problema, não é só dele, é nosso, e juntos vamos encontrar uma solução. Essa forma de trabalhar cooperando faz diferença.”
Atualmente, um em cada três franqueados tem mais de uma unidade. O ex-executivo Emerson Augusto Paula da Silva, 52 anos, com três unidades em Brasília, diz que optou pelo Montana Grill por oferecer um cardápio diversificado, produtos de qualidade com preço acessível e suporte. “Na pandemia, o fluxo de caixa caiu consideravelmente, mas recebemos um apoio importante da franqueadora, com isenção de taxas, além de várias ações para inovar e deixar o delivery mais atrativo.”
Digitalização é o foco das inovações em 2022. A primeira foi lançada em abril – um cardápio exclusivo para o iFood, que tem como destaque combos, com carnes nobres, que podem ser compartilhados. A expectativa é um aumento de 20% no faturamento.
Nos próximos meses, deve ir ao ar uma plataforma própria com as quatro marcas do grupo, incluindo a Croasonho. A ideia é melhorar a experiência do consumidor nas praças de alimentação: do celular, ele faz o pedido, paga e é notificado quando o prato está pronto – e só vai ao balcão uma vez, para retirá-lo. “Ele não pode ter a sensação de que está em um refeitório”, diz Silva.
Outra novidade vem num formato pensado para centros comerciais/corporativos e universidades: o Halifood, que reúne de duas a quatro marcas do grupo numa cozinha compartilhada. Ele reduz os custos operacionais e promete aumentar a rentabilidade para novos franqueados.
Aliás, o CEO da Halipar diz que “o momento é muito bom para quem pensa em investir em franquias em shoppings”, porque ainda há resquícios de pandemia que proporcionam boas negociações de ponto comercial.
Mas ele dá um recado: para se dar bem no franchising de alimentação, é preciso gostar de trabalhar com gente – seja cliente, seja colaborador. “Esse, sem dúvida, é o maior desafio.”
Fonte: PEGN