Para analistas, pressão inflacionária e alta dos juros não devem trazer trégua ao desempenho em 2022
Por Adriana Mattos
A Via abriu a temporada de balanços do primeiro trimestre das varejistas de bens duráveis mostrando vendas fracas em lojas e aumento na inadimplência de curto prazo, mas com sinais mais animadores na demanda nos últimos meses e rentabilidade acima do previsto.
Na visão do mercado, mesmo com eventual retorno da venda, a Via buscará defender margens em 2022. E a base de comparação alta no braço digital, pressão inflacionária e a escalada dos juros ainda não devem trazer trégua ao desempenho até o fim do ano. “Apesar de mostrar primeiros sinais de inflexão em termos de crescimento, os resultados não alteram significativamente nossa visão”, escreveram Victor Saragiotto e Pedro Pinto, analistas do Credit Suisse.
“Investidores continuam céticos em relação às empresas de longa duração [que dependem mais de ganhos futuros], diante das incertezas no caminho”, dizem. A ação da Via teve desvalorização de 2,23% ontem (o Ibovespa caiu 0,14%). O Magazine Luiza divulga seu balanço trimestral no dia 16.
Na Via, dona de Casas Bahia e Ponto, houve queda de 1% na receita bruta de janeiro a março, com lojas físicas recuando 3,5% e o on-line avançando 2,8%. As vendas em lojas com mais de um ano de operação tiveram tímida alta de 0,3%, mas pararam de cair dois dígitos como nos últimos dois trimestres.2 de 2
Em teleconferência sobre os números, o comando da varejista falou em melhora sequencial e reforçou que o fluxo de clientes tem se recuperado nas lojas desde a metade de fevereiro. O CEO da Via, Roberto Fulcherberguer, afirmou que o Dia das Mães foi a melhor data em vendas desde 2018 e disse que “não dá para [escrever em] pedra essa melhora, mas o consumidor está voltando” para as lojas.
As vendas on-line totais – que também consideram os lojistas do marketplace – atingiram R$ 5,2 bilhões, alta de 3,7%. A venda de terceiros na plataforma subiu 12% e as da própria Via cresceu 1,5%. O comércio eletrônico no país está sentido menos a crise, mas não tem saído ileso da queda na renda e da escalada inflacionária.
A Via teve lucro líquido de R$ 18 milhões, queda de 90% na base anual. O lucro foi afetado pela alta de 80% nas despesas financeiras. Analistas dizem que um dos destaques positivos foi a queda nos estoques e o lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda, da sigla em inglês), acima do esperado – subiu 15%, para R$ 673 milhões. Ao se considerar os valores não recorrentes, avançou 30%. “Refletiu maior controle de despesas com vendas gerais e administrativas”, escreveu em relatório Danniela Eiger, analista da XP.
De janeiro a março, a margem Ebitda ajustada subiu 1,4 ponto, para 9,1%, reflexo de maior diluição de despesas. A margem bruta caiu 0,7 ponto, para 30,7% de janeiro a março.
Sobre o assunto, o diretor financeiro, Orivaldo Padilha, disse que há pressões de custos, que a empresa vem negociando muito, especialmente em logística.
A respeito de rentabilidade, Fulcherberguer citou os efeitos do aumento das taxas de comissão aos lojistas do marketplace, anunciada em dezembro, e afirmou que a empresa “vem trabalhando com margem estável nos últimos trimestres e a pressão de competitividade continua”, diz. “A expectativa nos próximos trimestres é patamar próximo de rentabilidade ao desse trimestre.”
As equipes do Citi e da XP ainda ressaltaram, como ponto de destaque, a carteira de crédito. A XP disse que a perda sobre a carteira ativa de crédito subiu no ano contra ano (1,2 ponto, para 3,6%), mas houve queda de 0,4 ponto frente ao trimestre anterior. Para o Citi, deterioração da qualidade de crédito foi a notícia negativa. A inadimplência de 90 dias, disse o banco, foi a 9%, versus 8,7% de outubro a dezembro e 7,9% um ano antes. A empresa disse a analistas que em abril os números já melhoraram.
“Continuamos acreditando que a Via continuará priorizando as margens (pelo menos este ano), que é o movimento lógico diante da realidade macro mais dura. A grande questão é como e quando a Via deve retomar o crescimento e ganhos de participação de mercado, principalmente em um ambiente mais desafiador no mundo on-line”, disse o Citi em relatório. (Colaborou Cristiana Euclydes)
Fonte: Valor Econômico