Em seu primeiro movimento para investir em startups, a instituição está aportando capital em três veículos de Venture Capital: Solum e ACE e o fundo Maverick
Por Danylo Martins
Nos últimos anos, o Banco Carrefour desenvolveu uma agenda de inovação aberta que ganha agora um novo capítulo. Em seu primeiro movimento para investir em startups, a instituição está aportando capital em três veículos de Venture Capital: as brasileiras Solum e ACE e o fundo israelense Maverick (que também tem como investidor o banco BV).
“Estamos começando essa jornada de CVC [Corporate Venture Capital] com US$ 1 milhão, entre esses três [veículos]”, revela Charles Schweitzer, head de inovação do Banco Carrefour, ao Finsiders. “Mais até do que a construção de um fundo próprio, já começamos navegando dentro de portfólios montados, com uma curadoria por trás, e um nível de maturidade importante.”
O tamanho desse primeiro cheque é pequeno, em comparação com os aportes feitos por outros bancos que construíram estratégias semelhantes, optando por alocar recursos em fundos de Venture Capital. Mas representa uma evolução na jornada de inovação aberta construída por Charles, desde que chegou ao Banco Carrefour, em setembro de 2019.
De lá pra cá, o executivo — ex-gerente de inovação da Leroy Merlin — vem liderando a implantação de um framework de inovação dentro do banco, que tem se posicionado mais recentemente como uma ‘fintail’, o que seria equivalente a uma fintech do varejo.
Dentro de casa, o banco estimula o intraempreendedorismo por meio de um portal de inovação, aberto para os funcionários colocarem suas ideias, com foco em melhorar a experiência do cliente; aperfeiçoar produtos e processos; e melhorar resultados. “Tem a ver com inovação incremental”, explica Charles.
A esteira longa do intraempreendedorismo tem, ainda, hackathons — maratonas de programação — e bootcamps, que ocorrem três meses depois dos hackathons. “São os colaboradores imersos em programação, desenvolvendo PoCs [sigla em inglês para provas de conceito]”, diz o executivo.
O primeiro negócio a partir dessa experiência está em fase de incubação neste momento. “Vai se criando uma esteira de projetos que são potenciais novos produtos ou negócios para o Banco Carrefour.”
Open innovation
‘Da porta para fora’, o banco fez parte de um programa de aceleração de startups desenvolvido pela aceleradora Liga Ventures, em uma iniciativa que contou também com o Grupo Boticário. “Pudemos escolher três startups (Meu Acerto, Pluggy e Conpass) e desenvolvemos pilotos com elas”, conta Charles. A única que não teve ‘fit’ com o que o banco estava buscando foi a Conpass, que ajuda pequenas e médias empresas a melhorar a experiência dos clientes em produtos digitais.
A Meu Acerto, plataforma de negociação online de dívidas, começou sendo testada com 135 mil clientes e já está disponível para toda a base de clientes do banco, que tem como carro-chefe o cartão de crédito. “Hoje, o cliente inadimplente é acionado de forma digital e negocia como vai pagar a dívida pela plataforma. O número de acordos é muito superior ao processo antigo de cobrança que tínhamos.”
O banco também está na reta final de desenvolvimento de um protótipo com a fintech Pluggy, especializada no desenvolvimento de APIs para acesso aos dados financeiros do Open Finance. “O protótipo está em fase de finalização, e a integração deve acontecer nas próximas semanas”, conta Charles. “Vamos requalificar o cliente se ele topar abrir os dados bancários. São dois cenários possíveis de aplicação: o cliente preencheu a proposta do cartão e foi recusado; ou foi aprovado, mas com limite baixo.”
Depois da primeira experiência na aceleração de startups, em conjunto com outra companhia, o Banco Carrefour agora quer um programa para chamar de seu. A instituição acaba de lançar o Be Ocean, programa de aceleração de startups desenvolvido pela Liga Ventures.
“Queremos olhar para novos modelos de negócio, adjacentes ao business, o que seria o ‘oceano azul’, outras oportunidades de chegar ao cliente, e olhar para o ecossistema. Por exemplo, negócios em cobrança”, explica Charles, em primeira mão ao Finsiders. Segundo ele, a ideia é acelerar seis startups.
O Banco Carrefour aposta, ainda, em outro modelo de programa de inovação aberta, com foco em testes de curta duração com startups que, por meio de PoCs, se juntam ao banco para resolver desafios mapeados pelas áreas internas.
Em sua edição mais recente, o Startup Jam — que é realizado em parceria com a Kyvo Design-Driven Innovation — o objetivo foi encontrar soluções para crédito pessoal e contabilidade. “Em média, por ano, passam pouco mais de 50 startups nesse programa”, conta Charles.
Na primeira edição deste ano, o Startup Jam teve mais de 300 inscrições. “Neste momento, estamos assistindo aos pitches para entender quais startups têm mais fit com o desafio”, diz o executivo. Para cada desafio, em geral, são selecionadas de 6 a 8 startups. Dessas, 3 ou 4 seguem para as provas de conceito.
Em outra frente, o Banco Carrefour lançou no fim de março a primeira edição do bootcamp Woman in Tech, desenvolvido para atrair e desenvolver mulheres para a área de tecnologia. As startups selecionadas serão contratadas por três meses, para realizarem prova de conceito com o banco.
Mercado
As estratégias de Corporate Venture Capital (CVC) estão crescendo de maneira acelerada no Brasil. De acordo com estudo feito recentemente pela Bain & Company, existem 61 CVCs ativos no país e outros 13 em processo de criação. O setor mais ativo é o de serviços financeiros, com 12 iniciativas, seguido por varejo/bens de consumo (10).
Grandes bancos, como Bradesco, Itaú, Santander e BTG Pactual, têm estruturas e fundos dedicados a Corporate Venture Capital há bastante tempo. O banco BV vem fazendo investimentos diretos em startups, além de cheques indiretos por meio de alocações em fundos de Venture Capital, conforme noticiou no ano passado o site NeoFeed.
Empresas de tecnologia também vêm criando iniciativas de Corporate Venture Capital, e fintechs estão na mira. Em novembro do ano passado, a Totvs anunciou a criação de um fundo de CVC de R$ 300 milhões, em que uma das áreas prioritárias é serviços financeiros — nessa frente, inclusive, a companhia fez recentemente joint-ventures com players como Itaú Unibanco e B3.
Em janeiro de 2021, a Sinqia também resolveu entrar no CVC com o lançamento do Torq Ventures, que já tem um portfólio com mais de 60 startups, incluindo investimentos indiretos — a empresa de tecnologia aloca capital na Darwin Startups e nos fundos de Venture Capital Astella Investimentos, Parallax Ventures e Canary. No ecossistema estão empresas como Celcoin, CashWay, CondoConta, Klavi e Traive, entre outras.
Fonte: FInsiders