Carrefour segura aumentos, enquanto GPA faz promoções mais controladas, Analistas comentaram o impacto dos preços e das despesas operacionais nos resultados
Por Adriana Mattos
O peso das despesas nos números de GPA e Carrefour neste começo de ano afetou as margens das redes de varejo de janeiro a março, segundo balanços publicados. Esses gastos responderam por uma fatia maior das receitas. Além disso, os balanços dos grupos mostram diferenças nas estratégias de repasse dos aumentos de preços ao consumidor, algo que têm impacto na margem bruta.
De forma geral, o Carrefour cresceu em vendas mais que o GPA no primeiro trimestre, porque, propositalmente, decidiu ganhar maior volume de venda neste ano, repassando reajustes gradualmente em supermercados e hipermercados, disse ontem o comando do grupo. O GPA está repassando a maior parte da pressão inflacionária, com promoções mais controladas, e ainda pode manter essa tática.
Enquanto o GPA opera um braço mais premium de varejo – com os supermercados Pão de Açúcar (que representam mais de 40% da receita total) – e fechou a rede de hipermercados Extra meses atrás, o Carrefour é forte nas classes de menor renda, com seus 100 hipermercados. “Estamos revertendo margem em volume, e é uma estratégia pensada, e que vem dando resultado porque nossas vendas trimestrais sobem mais”, disse na noite de ontem David Murciano, diretor financeiro do grupo Carrefour.
“Queremos recuperar mais clientes num momento muito particular do mercado [sem a concorrência do Extra], com um fluxo que não tínhamos, vindo de lojas concorrentes”, disse. “Isso leva a uma negociação que não é tranquila com fornecedores, mas temos tentado defender [preço] o máximo possível. E podemos fazer isso porque compensamos com o Atacadão”, afirmou Murciano, referindo-se ao braço de atacarejo do grupo. O GPA cindiu a sua operação no segmento, o Assaí, em 2021.
Ao ser questionado sobre a razão pela qual valeria a pena buscar ainda mais volume, num ambiente já sem o Extra, Murciano diz que outros “concorrentes continuaram fortes” nos últimos meses.
Os supermercados e hipermercados do Carrefour cresceram 5,6% de janeiro a março em receita líquida. No GPA Brasil houve recuo de 1,8% – os supermercados Pão de Açúcar perderam 1,4% das vendas.
Em teleconferência ontem, o presidente do GPA, Marcelo Pimentel, disse que o grupo repassou boa parte das pressões dos fornecedores aos preços, especialmente em perecíveis, e com ganho de participação de mercado no segmento premium. Ainda afirmou que a empresa tem que crescer mais e ser mais rentável, e que a prioridade hoje são os supermercados Pão de Açúcar, sem sinalizar mudanças na atual política comercial. Ambas as empresas confirmaram recuperação mais acelerada na demanda em abril.
Analistas comentaram o impacto dos preços e das despesas operacionais nos resultados. Marcela Recchia, analista sênior do Credit Suisse diz que, “apesar de uma melhora na margem bruta do GPA devido a esforços promocionais controlados”, as despesas mais altas afetaram a margem Ebitda, que mede lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação. Esse índice caiu 1,1 ponto, para 8,2%. Já a margem bruta (que recua quando as promoções se aceleram) subiu 0,2 ponto, para 27%.
Sobre as despesas, o GPA diz que houve uma menor diluição de custos fixos (pesa nisso frete e pessoal), mas espera ter uma diluição dos custos nos próximos trimestres e evolução na margem.
No Carrefour, as despesas operacionais no braço de varejo também cresceram, e acima da receita (subiram 6,8%). Murciano não considerou a alta representativa, considerando o tamanho dos reajustes salariais e do custo da energia. A margem bruta caiu 0,9 ponto, para 22,6% e a margem Ebitda recuou 1,1 ponto, para 4,4%.
Considerando as operações consolidadas, que incluem o mercado brasileiro e os negócios internacionais (Éxito), o GPA apurou prejuízo de R$ 85 milhões no primeiro trimestre, invertendo um lucro de R$ 118 milhões um ano antes. O montante não considera os recursos da venda dos hipermercados Extra – ao se incluir isso, o GPA atinge lucro R$ 1,4 bilhão (dez vezes acima de um ano antes).
Já o Carrefour apurou recuo de 57% no lucro consolidado, para R$ 406 milhões, incluindo as operações de varejo e do Atacadão.
Fonte: Valor Econômico