Brasileiro que comprava produtos de luxo no exterior antes da covid, agora consome mais localmente
Por Raquel Brandão
Impulsionado pelo consumidor de alta renda – menos afetado pela escalada inflacionária -, o grupo Iguatemi viu um crescimento de 31% nas vendas de seus shoppings em abril, até o dia 22, na comparação com o mesmo mês de 2019, antes da pandemia. Os dados preliminares foram apresentados ontem pelo comando da companhia em teleconferência com analistas sobre o balanço do primeiro trimestre.
“As vendas do mês [de abril] vão superar isso e maio deve ser ainda melhor, pois os lojistas estão bastante animados com o Dia das Mães”, disse o diretor financeiro da Iguatemi, Guido de Oliveira.
No primeiro trimestre, as vendas totais do grupo cresceram 77,2% ante mesmo período de 2021, para R$ 3,3 bilhões, superando, também, em 14,8% o mesmo período de 2019. A Iguatemi teria registrado lucro líquido de R$ 41 milhões se não tivesse investimentos na empresa de serviços para comércio on-line Infracommerce, cujas ações caíram quase 70% desde o começo do ano – com isso, o Iguatemi reportou prejuízo de R$ 17,33 milhões.
“O [crescimento] mais evidente é a parte de luxo, porque teve uma mudança de hábito de consumo desse mercado no Brasil”, disse a presidente da Iguatemi, Cristina Anne Betts. Quem comprava lá fora percebeu que aqui se pode comprar com o mesmo preço, parcelando e com atendimento em português. Esse bom momento tem atraído grifes internacionais que ainda não operam no país, diz ela.
“Mas o mais emocionante é que vemos esse movimento de melhora em todas as categorias e todos nossos shoppings. A remoção das máscaras nesse trimestre foi muito importante: dá uma sensação de normalidade”, acrescenta, citando o exemplo das redes de cinema, que voltaram a ter sessões lotadas e lançamentos de filmes ‘blockbuster’.
A executiva argumenta que o aumento das vendas tem ajudado a elevar a ocupação nos empreendimentos, que chegou a 92,7% no fim do primeiro trimestre. “Estamos num ritmo muito forte de reposição de área.”
O crescimento de 0,7 ponto percentual na taxa de ocupação no primeiro trimestre, período sazonalmente mais fraco, chamou atenção dos analistas de mercado. Os resultados do Iguatemi de janeiro a março foram em linha com os da Multiplan, evidenciando uma recuperação consistente em shoppings de alta renda, observaram os analistas do Citi.
Outro ponto que chamou atenção do mercado foi a melhora do valor de aluguel. Tanto analistas do BTG Pactual quanto do Bradesco BBI consideraram as receitas com aluguel “mais fortes do que o esperado”. A receita de aluguel total somou R$ 198 milhões, ficando 29,7% acima do mesmo período de 2021 e 42,8% superior a 2019.
Diante da melhora do tráfego e as vendas nos shoppings, a empresa diminuiu os descontos e, segundo a presidente, começou a colher os benefícios de assumir uma vacância mais alta em meados de 2021. “Nunca preenchemos área vaga no desespero.” (Colaborou Felipe Laurence)
Fonte: Valor Econômico