Por Carmem Nery
Em 2021, mais de 3.500 marcas anunciaram inaugurações de novas lojas em shopping centers, de acordo com a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce). Entre as dez marcas que mais inauguraram novas unidades nesses estabelecimentos, apenas uma não adota modelo de franchising. Das 1.160 marcas franqueadoras integrantes da Associação Brasileira de Franchising (ABF), 48% possuem unidades em shopping.
Os últimos dois anos de pandemia, contudo, não foram fáceis para os dois setores. Após um 2020 de concessões por partes dos shoppings, as negociações ficaram um pouco mais duras a partir do ano passado, especialmente devido ao episódio extraordinário da alta excessiva do IGP-M, índice usado nos contratos de aluguéis, que superou 30%.
“Foram desafios que levaram as empresas a reformular seus modelos de negócio. Os shoppings investiram em e-commerce, drive-thru e a BRMalls e a Multiplan criaram o delivery center para todas as redes”, diz Renata Rouchou, coordenadora da comissão de expansão e shoppings da ABF. Ela explica que shoppings maduros localizados em áreas residenciais e comerciais já recuperaram 95% dos números de 2019. “Em compensação shoppings localizados em áreas corporativas, como a Avenida Paulista, ainda têm menos 25% de gente transitando”, diz Renata.
A Divino Fogão tem 197 restaurantes, todos em shoppings e 99% são franquias. Em março de 2020, a rede conseguiu que as lojas pagassem o aluguel apenas pelo tempo em que ficaram abertas e seguiu com as negociações para os demais meses, e várias administradoras concordaram em não cobrar o aluguel enquanto as lojas estivessem fechadas. A franquia negociou ainda o ajuste de locação baseado no IPCA no lugar do IGP-M.
A empresa também isentou os lojistas dos royalties e do fundo de propaganda a partir de março de 2020, iniciou o treinamento em delivery e lançou o modelo dark kitchen. “Hoje já temos 112 lojas com delivery em 19 Estados e sete dark kitchens, além de seis em implementação”, diz Rodrigo Varela, diretor de planejamento e novos negócios do Divino Fogão.
Andrea Kohlrausch, presidente da Calçados Bibi, informa que, em 2020, o faturamento caiu 19%. Mas, em 2021, a Bibi abriu 17 lojas no Brasil e quatro no exterior, e cresceu 49% em relação a 2019, alcançando 149 franquias – 16 internacionais e 95% em shoppings. “Os franqueados receberam consultoria, apoio nos pagamentos e orientações na questão dos aluguéis e taxas com os shoppings. As vendas digitais saltaram de 3% para 11%, sendo que mais de 32% do faturamento é das franquias. Em 2022, queremos crescer 29% e inaugurar 25 lojas no Brasil e 12 no exterior”, informa Andrea.
Elton Deretti, diretor comercial do grupo Hope, conta que a empresa havia acabado de faturar a coleção de inverno quando veio o lockdown. Em um primeiro momento, postergou os pagamentos por 90 dias e lançou um aplicativo para girar o estoque com campanha da Anitta. Focou em treinamento e ensinou até a fazer live. Hoje, 97% da rede são franquias, e 195 lojas (85%) estão em shoppings, e a Hope negociou diretamente com as administrações. “Cada uma teve uma forma de agir, mas a maioria isentou condomínio por dois a três meses, e muitos deram descontos de 30% a 50% nos aluguéis”, diz Deretti.
O Grupo Uni.co – detentor das marcas Imaginarium, Puket, Casa MinD e Love Brands – chegou a avaliar um IPO, mas, em 2021, foi adquirido pela Americanas S.A e vai liderar a divisão de franchising da nova controladora. A Imaginarium tem 194 operações, 100% franquias e 90% em shoppings, e fez um ajuste de 10% no tamanho da rede. A Puket tem 200 lojas, todas franquias e 95% em shoppings.
“Houve flexibilidade dos shoppings em 2020, mas o ano passado foi mais complexo, sobretudo no segundo semestre. Tivemos de criar uma estratégia para cada operação porque os shoppings estavam irredutíveis e aceitando apenas negociações de curto prazo, porque havia uma incerteza grande”, analisa Wellington Santos, CEO do Grupo Uni.co.
Paulo Cardamone, diretor da Casa Bauducco, diz que a empresa reduziu os royalties, postergou pagamentos dos franqueados e liderou uma negociação conjunta em relação aos shoppings. A Casa Bauducco tem 114 lojas (85 em shoppings), sendo nove próprias e o restante de franquias. “Fortalecer a posição dos franqueados foi fundamental para sairmos vivos e até fortalecidos da pandemia”, observa Cardamone, reclamando da correção dos alugueis pelo IGPM.
A Cacau Show foi atingida pelo lockdown a 20 dias da Páscoa, que representa, para o segmento, 30% do faturamento anual. Em 2020, a empresa encerrou 58 operações, 2,4% das 2.368 unidades existentes à época. Em 2021, foram 46 lojas fechadas. Hoje são 2.930 lojas em funcionamento, sendo 250 próprias e 28% em shoppings.
“Com todo o desafio de 2020, tivemos um giro de Páscoa de 93%. Buscamos descontos e conseguimos algumas negociações com os shoppings, mas de forma desproporcional. Adotamos alternativas como vendas em estacionamento e iFood, e resgatamos as vendas diretas que deram origem à Cacau Show”, diz Arlan Roque, gerente de expansão da marca.
Fonte: Valor Econômico