Renner, C&A, Riachuelo e Marisa já afirmaram que analisaram acordos ou aquisições de startups para aprimorar seus braços financeiros digitais, de sistemas e de distribuição
Por Adriana Mattos
O varejo de moda deverá ter que enfrentar, no curto prazo, fragilidades de sua operação de distribuição de produtos na venda digital se quiser avançar na operação on-line. E essa agenda já está na mesa das empresas hoje, por meio da avaliação de aquisição de negócios, e volume maior de investimentos, que possam tornar mais eficientes seus braços de logística.
Com a pandemia, as grandes varejistas de vestuário tiveram que acelerar seu comércio eletrônico, por conta do aumento da demanda em sites e aplicativos, mas a capacidade de escoar essas mercadorias ainda era voltada ao varejo físico. Houve um avanço nesses dois últimos anos nessa área, mas ainda há “gaps” a serem reduzidos, especialmente na entrega da “última milha” — fase de envio de produtos até a casa do cliente.
Sinais de que essa operação precisa evoluir ficaram mais claros com movimento da Renner, na semana passada, com a aquisição da startup Uello, que tem software próprio de gestão e 2 mil motoristas cadastrados. A ideia é tentar melhorar a eficiência logística, de modo a reduzir o prazo de envio de mercadorias.
A meta da Renner é aumentar de 45% para 80% o volume de entregas realizadas em até 48 horas, ao longo dos próximos dois anos. Ou seja, a maior rede de moda do país — e uma das mais focadas em aprimorar o on-line hoje — ainda tem menos da metade de sua entrega sendo feita em dois dias, número abaixo da média de grandes varejistas em outros setores, como tecnologia e eletrônicos.
Em outras cadeias, como Marisa, a entrega de mercadorias para a capital paulista, ocorre em até três dias úteis, segundo simulações no site, e na C&A, em dois dias úteis (em ambos os casos, pedidos acima de R$ 100).
Nos últimos tempos, as empresa têm afirmado que estão usando mais as lojas como área de armazenagem de produtos para envio de compras feitas pela internet. Isso é crucial para reduzir prazos de entrega e o valor do frete. O ponto central é que só isso não é o bastante, segundo consultores do setor, e as companhias já perceberam isso.
As centenas de lojas das grandes cadeias de moda ajudam nesse processo, ao deixar as mercadorias compradas no digital mais perto da casa dos clientes, mas é preciso ter uma estrutura de entrega dedicada às companhias, de forma exclusiva, na avaliação de especialistas. Ainda é necessário fazer, sem maiores ruídos e rupturas, a logística reversa dos pedidos de itens de vestuário e calçado — um segmento que tem índice de devolução de itens acima da média do varejo.
“A questão é que as varejistas sempre dependeram de transportadoras terceirizadas para cuidar do ‘last mile’, mas elas precisam ter esse controle muito mais próximo para garantir rapidez e melhorar o nível de serviço ao cliente”, critica um ex-executivo do setor, hoje atuando numa varejista de outro setor.
As notas das redes no Reclame Aqui, que recebe reclamações de milhares de clientes diariamente, melhoraram após o início da pandemia, num sinal de que ações internas podem estar dando resultado. Na operação digital da Marisa, a nota era 6,4 em 2020, e neste ano, está em 8. Na C&A, passou de 6,1 para 8 no mesmo intervalo. Na Renner, a nota era 7,4 em 2020 e está hoje em 7,8.
Renner, C&A, Riachuelo e Marisa já afirmaram que analisaram acordos ou aquisições de startups para aprimorar seus braços financeiros digitais, de sistemas e de distribuição, mas boa parte das iniciativas têm sido tomadas por meio de investimentos em estruturas próprias.
Fonte: Valor Econômico