O comando nega que seja necessário uma provisão para perdas com estoques por conta desse cenário
Por Adriana Mattos
A Via (holding das Casas Bahia e Ponto) está reduzindo estoques e aumentou o prazo de pagamento à indústria, após um fim de ano e janeiro mais desafiadores, disse a direção da empresa em teleconferência com analistas. Em material de resultados, ela informa que tomou a decisão “estratégica” de diminuir a posição de estoques em 2022.
O comando nega que seja necessário uma provisão para perdas com estoques por conta desse cenário. A empresa fechou 2021 com R$ 1 bilhão a mais de estoques em relação ao ano anterior. São R$ 7,1 bilhões em estoques, versus R$ 7,8 bilhões no terceiro trimestre e R$ 6,1 bilhões no fim de 2020.
“Vamos vender mais e comprar um pouco menos”, resumiu Roberto Fulcherberguer, CEO da companhia.
No material de resultados, a rede fala que tomou “a decisão estratégica de reduzir a posição de estoques ao longo de 2022, considerando o cenário mais regular de abastecimento, bem como a normalização no prazo de pagamento de fornecedores”. Isso indica um possível aumento no prazo de pagamento à indústria.
A ideia é que isso tenha um efeito positivo para uma redução da necessidade de capital de giro e consequentemente uma melhora na geração de caixa operacional.
Ou seja, a empresa busca melhorar o seu ciclo operacional, que pode ser benéfico no consumo de caixa anual.
Nos últimos 12 meses, a posição de caixa líquido ajustado da Via caiu em R$ 3,3 bilhões em função do investimento de R$ 1 bilhão em 2021 e da decisão de elevar estoque em 2021, para evitar falta de produto, o que poderia causar queda na venda. A receita líquida da empresa recuou 14% no quarto trimestre, enquanto no ano subiu 7%.
“Em 2022 vamos ter uma forte recuperação no capital de giro”, disse Orivaldo Padilha, diretor financeiro.
O nível de estoques na Via chegou a 137 dias de venda em outubro, considerado adequado na época pelo comando. Pelo resultado publicado ontem, o número fechou o ano passado em 120 dias.
O CEO disse a analistas que janeiro foi “desafiador”, mas em fevereiro o fluxo de clientes melhorou de forma significativa nas lojas.
Ele ainda informou que não há sinal mais crítico em abastecimento e em [reajustes de] preço. E relatou que a queda no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) deve ter efeito pequeno em preços.
“Vamos repassar [a queda] e buscar a venda, mas o IPI [no setor] varia de 10% a 15% então é uma redução em preço de 2% a 4%, não é extremamente relevante”.
A Via deve abrir de 80 a 100 lojas em 2022, foram 101 aberturas em 2021.
Quadro de funcionários
A Via não repôs 1,2 mil vagas — de vendedores que deixaram a empresa nos últimos meses — por conta de ganhos de produtividade. E também não contratou 1,5 mil empregados temporários, normalmente contratados no fim de ano, pelo mesmo motivo.
As informações foram dadas pela direção como resposta a dúvida de analista relativa a cortes no grupo.
A companhia ainda disse que as recentes demissões e fechamento de turno na fabricante de móveis Bartira também foi por ganhos de eficiência e de produção. O sindicato de empregados informou que houve 500 demissões meses atrás por conta da queda nas vendas na empresa.
Outra dúvida de analistas foi relativa ao recuo nas despesas gerais e administrativas, de cerca de 30% no quarto trimestre. Padilha disse que foi pelo não pagamento de remuneração variável em 2021, ao contrário do verificado em 2020, por causa de “resultados negativos”.
A Via disse ainda que vendeu R$ 200 milhões em créditos em janeiro, e que pode eventualmente voltar a vender.
Sobre o “marketplace”, informou que fez reajuste de comissão no seu shopping virtual “para ter crescimento sustentável”. A taxa hoje chega a pouco mais de 20%, mas, no passado, chegou a ser reduzida para 5% a 10%, a depender da categoria de produto, segundo lojistas afirmaram.
Fonte: Valor Econômico