Empresa afirma que contratou especialistas reconhecidos após invasão, e que investigação ainda deve levar semanas. Companhia também muda comissão do marketplace
Por Adriana Mattos
O comando da Americanas disse nessa sexta-feira (25), em teleconferência de resultados, que as vendas em janeiro começaram fortes, com alta de 40% em relação ao ano anterior, quando o crescimento foi de 83%. “Em fevereiro, vivemos uma continuidade disso, em ritmo parecido”, disse Marcio Cruz, CEO da plataforma digitalda empresa.
No braço físico, Timotheo Barros, CEO dessa operação e diretor financeiro, disse que “vê retomada continua de fluxo no mês contra mês”.
A Ame, plataforma de negócios mobile, que inclui a carteira digital, atingiu em novembro, pela primeira vez, um equilíbrio entre despesas totais e receita. Isso foi alcançado antes da meta, de 2022, e perguntada se esse equilíbrio se manteve nos meses seguintes, ou foi apenas um momento de melhora, a empresa não respondeu a dúvida do analista.1 de 1 Empresa afirma que contratou especialistas reconhecidos após invasão, e que investigação ainda deve levar semanas — Foto: Leo Martins/Agência O Globo
“[O breakeven] veio de receita e eficiência de custo de aquisição de clientes e queremos evoluir esse indicador, e ele veio evoluindo por trimestre e a Ame tem papel de monetizar a Americanas”, disse Anna Saicali, que lidera a plataforma, ao comentar o questionamento.
Sobre a invasão aos servidores da companhia no sábado, a empresa ainda disse que não há outros danos, além da paralisação das vendas. A Americanas disse que contratou especialistas reconhecidos após invasão, e que a investigação ainda deve levar semanas.
O comando ressaltou algumas vezes o esforço da empresa em “pescar no próprio aquário”, disse o presidente Miguel Gutierrez. Trata-se de explorar mais a atual base de clientes da companhia e maior exploração (do digital e do físico) após a entrada em novas áreas.
“É um conceito que sempre acreditamos e intensificamos com a integração [do braço físico e digital, anunciado em 2021]. Porque quando éramos duas companhias separadas, era preciso ter dinâmicas diferentes. E agora intensificamos esse conceito. Nossa loja não é de destinação, é o prazer de compra e quando entramos em nova cidade, adicionamos novos clientes e exploramos o potencial de compras mais coisas. É uma jornada no começo”, disse ele.
A Americanas disse ainda que está criando um novo conceito de loja, com mais serviços e área de armazenamento de pedidos de entrega a partir do ponto para a casa do consumidor. Com aumento no número de itens saindo da loja, a empresa precisou rever a distribuição de espaços internos.
Também vem criando mais caixas de autoatendimento nas unidades antigas e novas. O nível de serviço e atendimento nas lojas da Americanas, especialmente em momentos de alta circulação, tem sido um ponto de atenção por parte dos analistas, e a expectativa é que isso avance após a integração do digital e do físico.
Americanas muda comissão do ‘marketplace’; veja as alterações já feitas
Depois do Mercado Livre e da Via (Casas Bahia e Ponto), como antecipado pelo Valor em janeiro, agora a Americanas mudou a política de comissionamento no seu “marketplace” (shopping virtual), no dia 1º de fevereiro.
A diferença é que, enquanto as outras empresas fizeram alterações repassando parte de altas em custos aos parceiros lojistas, a Americanas até subiu a comissão em alguns segmentos, mas reduziu em outros que geram alta frequência de clientes, mostrando agressividade maior.
O Valor apurou que a empresa diminuiu a taxa nos segmentos em que quer ser mais combativa e que busca crescer mais rapidamente, como alimentos e itens para pet, diz uma fonte. A empresa ainda decidiu aumentar subsídio ao frete para lojistas que usam sua estrutura logística.
Mudanças implementadas
Segundo fonte, a taxa de comissão agora varia de 12% a 19% sobre o valor da venda de produtos de lojistas — era fixo para todos os segmentos em 16%. Esse índice de 16% se mantém em alguns setores (telefonia e eletrônicos), mas em suplementos alimentares, beleza, esporte e lazer, por exemplo, a taxa foi para 17%. Em 19%, estão relógios, moda e malas. Porém, em alimentos e pet shops, caiu para 12%.
Por exemplo, se um item custa R$ 40 e o frete é R$ 10, será cobrado a taxa de comissão já alterada (nova tabela) em cima de R$ 50 — com a taxa a depender do tipo de item. Essa cobrança de taxa sobre preço do produto e do frete ocorre nos lojistas que não usam a estrutura de distribuição da empresa (Americanas Entrega).
Antes, havia uma comissão fixa de 16% em cima do valor de cada item. E nos produtos com valor abaixo de R$ 40 era cobrado uma taxa extra de R$ 5.
Lojistas do marketplace da empresa que já usam a Americanas Entrega pagam comissão apenas sobre o valor do produto e não arcam com o frete. A companhia mencionou, sem detalhar, a analistas nessa sexta-feira as alterações na taxa de comissão.
“Fizemos mudança em fevereiro, nas regras de comissionamento por categoria, com diferenças na taxa fixa”, disse o diretor Raoni Lapagesse. “A ideia foi trazer mais inteligência. Ainda ficou um fixo de 16%, mas em algumas categorias isso varia a depender do segmento, e até com acréscimo em algumas, de forma que o ‘economics’ ficasse estável”.
Além disso desde fevereiro, nos pedidos de entrega própria (Americanas Entrega), não será mais cobrada a comissão sobre os pedidos cancelados por solicitação do cliente. O Valor apurou outra alteração, segundo lojistas ouvidos. Foi revista a política de subsídio — o desconto dado ao vendedor para ele não subsidiar o valor total do frete.
O subsídio de frete grátis para os parceiros que usam a estrutura de logística e entrega da empresa subiu de 60% para 80% em produtos leves. Nos itens pesados (geladeiras, lavadoras), foi de 35% para 55%.
“Produtos que antes não tinham subsídio deles em frete, que são produtos com mais de 29 quilos que custam de R$ 40 a R$ 79,99, também agora têm subsídio”, disse uma fonte.
As mudanças acontecem num ambiente em que outras empresas concorrentes fazem o caminho oposto e vêm repassando custos maiores, com alta de juros e aumento da inflação, para lojistas. Mercado Livre e Casas Bahia fizeram ajustes nesse sentido.
Fonte: Valor Econômico