Aceitação do meio instantâneo em lojas on-line atingiu recorde de 64% em janeiro, diz estudo
Por Mariana Ribeiro
A aceitação do Pix como meio de pagamento nas maiores lojas on-line do país atingiu o patamar recorde de 64,4% em janeiro, mostra estudo da consultoria Gmattos, antecipado ao Valor. Há um ano, esse percentual era de apenas 16,9%. Mantido o ritmo de crescimento, é possível que, já nos próximos meses, o instrumento de pagamento instantâneo alcance ou até ultrapasse o boleto no ranking das formas de pagamento mais disponibilizadas no e-commerce.
Hoje, o Pix, lançado em novembro de 2020 pelo Banco Central (BC), ocupa a terceira posição da lista, ficando atrás do cartão de crédito (aceito em 98,3% das lojas) e do boleto (aceito em 74,6%). O estudo, realizado desde janeiro de 2021, analisou 59 lojas on-line, que juntas representam 85% do comércio eletrônico do país.
Cofundador e CEO da Gmattos, Gastão Mattos explica que o avanço do pagamento instantâneo não significa, necessariamente, que haverá uma queda na aceitação do boleto. “Nos contatos com as lojas, percebemos que o boleto preenche um espaço necessário. Uma parte das pessoas fica à margem do consumo sem essa opção.” O nível de penetração dessa forma de pagamento no comércio eletrônico permaneceu relativamente estável ao longo do ano.
A pesquisa mostra que, até o momento, o grande afetado foi, na verdade, o cartão de débito. A modalidade era disponibilizada por 37,3% das marcas analisadas em janeiro de 2021, patamar que caiu para 30,5% no mês passado. “O Pix está batendo o débito porque sua usabilidade é muito melhor no e-commerce”, diz o especialista.
De acordo com Mattos, a aceitação do Pix nas lojas on-line pode alcançar a do boleto nos próximos meses, possivelmente até maio. É preciso considerar, no entanto, que daqui para frente o crescimento da modalidade tende a ser mais lento. “Já são 120 milhões de chaves habilitadas e esse é o principal assunto da indústria. Se a loja não colocou essa opção ainda, é porque provavelmente tem alguma dificuldade não trivial de fazê-lo.”
José Luiz Rodrigues, sócio fundador da consultoria JL Rodrigues, especializada em regulação do sistema financeiro, e Marcelo Martins, diretor da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintech), destacam que entre as principais vantagens do uso do Pix estão o menor custo e a velocidade de conclusão da transação. “É imediato e a aprovação acontece na hora”, diz Rodrigues.
Apesar das facilidades para os lojistas, que não precisam ficar esperando a confirmação do pagamento, eles ponderam que, considerando as diferenças regionais e sociais do país, a oferta do boleto ainda é necessária. “Há lugares que estão juntando a opção com o Pix e fazendo a fatura híbrida. Isso já é um movimento de no longo prazo você não ter mais o boleto, mas leva tempo”, acrescenta Martins.
Em relação a eventos de segurança envolvendo o pagamento instantâneo, como o vazamento de chaves, Mattos afirma que são “certamente negativos”, mas não fortes o suficiente para abalar a confiabilidade do pagamento com Pix. Na semana passada, o BC informou o terceiro vazamento de dados em seis meses, alimentando receios sobre a segurança do instrumento.
Já entre os fatores que podem ajudar a manter a disponibilização do Pix em crescimento, ele cita a agenda de novas funcionalidades a ser implementada pela autoridade monetária, como o parcelamento. “Um novo impulso na sua aceitação poderá ser observado.” Além disso, ele destaca que lojistas estão oferecendo diferentes vantagens para quem opta pelo pagamento instantâneo, como descontos de até 10% do valor à vista.
A pesquisa mostra ainda que o cartão de crédito, historicamente um grande alavancador do comércio eletrônico, segue consolidado na primeira posição do ranking de meios de pagamento aceitos. Funcionalidades como o parcelamento sem juros e pontuação em programas de milhagem incentivam o consumidor a utilizá-lo, diz a consultoria.
Apesar da importância da modalidade, a pesquisa observa que o parcelamento sem juros com cartão de crédito parece não ter a amplitude desejada pelos lojistas para atender todas as demandas de parcelamento dos consumidores on-line. “Está estagnado”, afirma Mattos. Nesse sentido, outras formas de parcelamento têm sido introduzidas, usando o boleto como forma de liquidação ou através de outras plataformas ou bancos.
“Provavelmente essas modalidades que estão aparecendo já são testes para quando chegar o Pix parcelado, que deve viabilizar um tipo de parcelamento mais inteligente”, afirma, citando a importância de uma maior individualização da oferta de crédito ao consumidor. “Com o Pix parcelado, e outras eventuais tecnologias, vai ser possível vislumbrar uma inovação grande no parcelamento, coisa que não acontece há 30 anos.”
Já as “wallets” (carteiras digitais) registraram relativa estabilidade de aceitação ao longo do ano, sendo disponibilizadas em 45,8% das lojas analisadas em janeiro. A modalidade fica à frente apenas do cartão de débito.
Fonte: Valor Econômico