08/01/2015 às 05h00
Por Jacilio Saraiva | Para o Valor, de São Paulo
Diante de um cenário de ajustes na economia nacional, os gestores já planejam mudanças e fazem resoluções importantes para 2015. O maior desafio, contudo, será equilibrar demandas profissionais e pessoais. Eles afirmam, por exemplo, que vão sair mais a campo para encontrar clientes, se envolver pessoalmente em ações de formação de recursos humanos e, claro, repetir ou melhorar os resultados obtidos no ano passado. Além disso, querem dedicar mais tempo à família, correr a primeira maratona ou melhorar o saque nas quadras de tênis. Apesar de já ocuparem as principais cadeiras nas organizações, também não devem relaxar quando o assunto é desenvolvimento de carreira. Há planos para fazer cursos de aperfeiçoamento de idiomas e de formação de conselheiros. Para Elias Rogério da Silva, vice-presidente para a América Latina e Caribe da NCR, o novo ano deve trazer mudanças nos cronogramas pessoal e de trabalho. “Quero ter mais disciplina nas atividades físicas e no controle do peso, além de tempo para a família e amigos”, diz o executivo de 49 anos e 20 de experiência no segmento de automação bancária. “Também pretendo concluir um curso de formação de conselheiros de administração, como forma de planejar uma transição de carreira, em médio prazo.” No escritório, a proposta é dedicar mais horas ao relacionamento com clientes, além de desenvolver equipes de trabalho para a finalização de mais projetos. Casado e pai de dois filhos, Silva planeja ter ao menos um jantar reservado durante a semana com a esposa. De acordo com ele, o segredo é incluir essas decisões como parte da agenda e simplesmente fazê-las. “Pode ser um teatro, cinema, ou qualquer atividade para o convívio familiar”, afirma. Com uma média de 12 horas de trabalho por dia e, às vezes, até quatro horas de expediente nos fins de semana, o executivo também precisa equilibrar os compromissos diários com o volume de viagens de trabalho, que aumentou depois que assumiu, há mais de três anos, os negócios da empresa na América Latina. Com até 12 reuniões internacionais por ano, costuma ir à Argentina, Chile, Peru, Colômbia e México, além dos Estados Unidos. O ex-diretor do Unibanco também quer aprimorar a escrita e a comunicação em espanhol em 2015. A NCR, líder global em caixas eletrônicos (ATMs) para instituições financeiras com 29,5% da base instalada mundial, segundo a Retail Banking Research (RBR) , conseguiu um crescimento de dois dígitos e mais do que dobrou o market share no Brasil nos últimos três anos. Já Sérgio Quiroga, 47 anos, presidente da Ericsson para a América Latina e Caribe, é enfático sobre uma de suas principais resoluções para 2015. Ele quer se preparar melhor para correr provas de dez quilômetros. “Tinha um plano de fazer esse percurso em 47 minutos quando atingisse minha idade atual. O projeto foi por água abaixo por conta de lesões. Agora, preciso incrementar a musculação para alcançar um novo patamar.” Quiroga, portanto, vai precisar de dedicação extra para cumprir sua meta. Com 12 horas de trabalho ao dia, comanda diretamente 14 vice-presidentes e viu a quantidade de viagens de negócios aumentar 50% desde que assumiu o principal posto da companhia, em 2006. Além de visitar regularmente os escritórios regionais, vai à Suécia, sede da Ericsson, cerca de dez vezes por ano. Em 2015, a fabricante de equipamentos de telecomunicações lança um programa internacional de trainees, que deve recrutar 15 novos talentos. “Imagine a motivação de um profissional de 20 e poucos anos que, durante 12 meses, tem a oportunidade de circular por vários países?”, enfatiza ele, que pretende se envolver pessoalmente nos desdobramentos da seleção. Para Acácio Queiroz, ‘chairman’ da Chubb, da área de seguros, 2015 será um período desafiador para todos os líderes de corporações. Em sua opinião, o país vai precisar fazer um ajuste fiscal que resultará em menos consumo e mais desemprego. “Diante desse cenário, conseguir mais tempo para a família e o lazer, por mais que eu queira, não será uma tarefa fácil.” Na atual função desde junho, Queiroz promete fortalecer a marca de apólices em todo o território nacional e buscar novos canais de distribuição. Além de ter planejado para este mês suas primeiras férias junto aos filhos e netos, ele já calculou o tempo extra que dedicará para a família ao longo do ano. “Para a minha esposa serão, no mínimo, 14 horas a mais por semana. Para os quatro netos, dez horas, e os três filhos ganharão mais cinco horas.” Na lista de atividades físicas, a caminhada, o golfe e as aulas de pilates também terão espaço na agenda. Práticas saudáveis mais regulares também estão no planejamento de Marcelo Silva, 63 anos, diretor-superintendente do Magazine Luiza. A intenção é fazer ginástica duas vezes e jogar tênis, pelo menos uma vez, a cada semana de 2015. O executivo inicia o expediente às 8h e raramente sai antes das 20h. Para ele, não é simples se desligar totalmente quando fecha a porta do escritório. “É impossível separar a vida do CEO da rotina pessoal”, diz Silva. Para relaxar, um dos seus maiores prazeres é visitar os três filhos e netos que moram em Recife (PE). “Procuro vê-los uma vez ao mês.” Na mesa da superintendência do Magazine Luiza, um dos objetivos para o próximo ano é o crescimento orgânico da rede de 738 lojas. O plano é abrir de 40 a 50 novos estabelecimentos, um volume bem acima dos 23 pontos inaugurados em 2014. Em 2013, o resultado das vendas brutas da empresa alcançou R$ 10 bilhões. Nuno Ribas, gerente geral da Alcatel-Lucent Enterprise no Brasil, também não tira da cabeça os números da empresa que fatura US$ 1 bilhão ao ano no mundo , mas está se preparando para realizar sua primeira maratona em abril de 2015, em Paris. “Também desejo iniciar um mestrado profissional no segundo semestre”, diz o executivo, adepto das corridas de rua. Além disso, quer acompanhar de perto o crescimento da filha, de oito anos. “Quando nos dedicamos à família, é preciso aproveitar bem as oportunidades e não usá-las para responder emails ou pensar no trabalho do dia seguinte.” No batente, a prioridade de Ribas será aprimorar relações com superiores, pares e liderados. Internamente, a Alcatel ganhou um novo investidor, mas a dinâmica de trabalho continua acelerada, sem mudanças significativas. Em outubro, a empresa de origem francesa anunciou a venda de 85% das ações para o grupo chinês Huaxin, da área de telecomunicações. “Estimular o crescimento da equipe será sempre uma função primordial para quem se dispõe a liderar pessoas”, diz.
Valor Econômico – SP