Crescimento é menor que em 2020; desaceleração também reflete a reabertura das lojas físicas ao longo do ano
Por Daniela Braun
Com menor poder de compra, o consumidor brasileiro apostou em roupas, itens de perfumaria e alimentos nas compras de Natal pela internet este ano, que tiveram um avanço bem mais tímido do que em 2020.
De 10 a 25 de dezembro, as vendas on-line alcançaram um faturamento de R$ 6,6 bilhões, uma alta nominal de 17,9% sobre os R$ 5,6 bilhões obtidos no mesmo período de 2020, segundo levantamento da empresa de análise de dados Neotrust. Descontando a inflação de 10,42% no ano, considerando o IPCA-15, houve um crescimento real de 7,5% no período.
Mesmo levando em conta a alta nominal de 17,9%, o desempenho é bem menos significativo que o salto de 69,7% nas vendas on-line do Natal do ano passado frente ao resultado de 2019.
Segundo Paulina Dias, líder de Inteligência da Neotrust, a desaceleração do crescimento também reflete a reabertura das lojas físicas, após os períodos mais críticos da pandemia. “No ano passado, parte do crescimento se deu porque as lojas estavam fechadas e a única opção era comprar on-line.”
Neste ano, o volume de 16,1 milhões de pedidos on-line foi 18% superior ao registrado no Natal de 2020, mas o tíquete médio teve leve recuo de 0,8%, para R$ 412.
Além das categorias tradicionais de moda e perfumaria, que mantiveram o primeiro e segundo lugar em volume de vendas, respectivamente, compras de itens de alimentação se destacaram na terceira posição no Natal deste ano. “A categoria de alimentação estava em oitavo lugar no ano passado”, afirma Paulina. “As pessoas passaram a procurar mais essa categoria por conta da situação econômica.”
Em faturamento, o segmento de telefonia, onde estão os smartphones, sustentou a liderança em vendas on-line, assim como os eletrodomésticos, na segunda posição. Já os eletrônicos perderam o terceiro lugar em faturamento para a categoria de moda e acessórios, que subiu uma posição.
Os brasileiros deixaram para fazer as compras on-line de Natal um pouco mais tarde este ano, o que gerou um pico de vendas no dia 15. Em 2020, o pico foi registrado no dia 11 e, em 2019, no dia 10. “Como as entregas estão mais rápidas, isso leva a crer que as pessoas confiaram mais nos prazos do comércio eletrônico”, diz Paulina.
De janeiro a novembro, o e-commerce faturou R$ 146,5 bilhões, uma alta de 27% sobre o resultado de R$ 115,6 bilhões no mesmo período de 2020. Em todo o ano passado, a pandemia provocou um boom no comércio eletrônico e o faturamento subiu 68,1% sobre 2019.
Para 2022, uma projeção feita pela Neotrust no início do mês indica um faturamento de R$ 172 bilhões para o segmento – crescimento de 7,9% em relação a 2021. Os dados, segundo Paulina, devem ser revistos por conta do cenário político-econômico, da incerteza sobre a realização das festas de carnaval, e por ser um ano em que a Copa do Mundo de futebol ocorrerá em novembro, no mesmo período da Black Friday – datas que nunca se cruzaram.
A participação das vendas on-line no faturamento do comércio vem crescendo. Com base no índice do Comércio Varejista Ampliado do IBGE, referentes a outubro, o e-commerce representou 11,7% das vendas totais do varejo, ante uma fatia de 9,6% em 2020, e de 5% em 2019.
Mas o crescimento do meio digital não deve ter sido suficiente para impulsionar as vendas totais do comércio neste Natal. Os dados que incluem o desempenho das lojas físicas não estavam fechados até ontem, mas a expectativa da Confederação Nacional do Comércio (CNC) era de um aumento nominal de 9,8% sobre o faturamento de 2020. Descontada a inflação no varejo, de 12% a 13%, a entidade estimava uma queda real de 2,6% nas vendas totais no período natalino.
Fonte: Valor Econômico