Rede de vestuário feminino pode receber quase R$ 250 milhões e resolver passivo de curto prazo
Por Luiz Henrique Mendes
Após considerar uma porção de alternativas — inclusive a venda — para tirar a Lojas Marisa de uma desconfortável concentração das dívidas no curto prazo, a família Goldfarb decidiu capitalizar o negócio, eliminando os riscos de liquidez.
A transação — um aumento de capital privado que pode chegar a quase R$ 250 milhões se os minoritários aderirem — sairá com desconto de 15% sobre o já combalido preço de tela de sexta-feira. No ano, AMAR3 acumula uma desvalorização de mais de 40%, com a rede de vestuário valendo cerca de R$ 1 bilhão. Na emissão privada, as ações sairão a R$ 3,08. O papel fechou a R$ 3,62 na sexta-feira.
A família Goldfarb, que controla a Marisa com 57,2% do capital, se comprometeu a injetar R$ 89,9 milhões na companhia. A decisão, anunciada na sexta-feira à noite, foi bem recebida pelos investidores, e também deve provocou uma correria nos shorts. Marisa era o papel mais alugado da bolsa, com 18,2% do free float emprestado até sexta-feira.
Às 15h, o papel disparava 14,9%, cotado a R$ 4,16. A leitura do mercado é que o aumento de capital vai mesmo resolver o problema do endividamento, que se acentuou durante a pandemia — as lojas de rua da Marisa ainda sofrem com o fluxo mais fraco dos clientes.
Na prática, a Marisa já está contratando um duplo aumento de capital. Para convencer os acionistas, a companhia dará um bônus de subscrição que poderá ser exercido entre 15 de setembro e 15 de novembro de 2022, com o que rede poderá injetar mais R$ 250 milhões no caixa. O preço de exercício do bônus ficou em R$ 3,62 — e dará direito a 0,85 da ação. Se os papéis da Marisa se recuperarem mesmo, os acionistas que aderirem já poderão sair no lucro com o exercício do bônus.1 de 1 Marisa: Dívida de curto prazo superava recursos em caixa no fim de setembro — Foto: Divulgação
“Marisa anunciou aumento de capital forte, na bacia das almas. O planilheiro vai reclamar da diluição. Já eu fiquei feliz que vai resolver o problema da dívida, e mais ainda, que tenho grana para subscrever. Problema de quem não tem. Voa fênix”, escreveu o gestor Luiz Fernando Alves, da Versa, no Twitter.
Pelos últimos dados disponíveis na CVM, a Marisa era uma das principais posições do Versa Long Bias — um dos principais fundos da casa —, com 13% do patrimônio alocado na rede de moda feminina. A gestora é a maior acionista depois da família Goldfarb, com mais de 5% do capital.
Ao Pipeline, o gestor da Versa argumentou que a capitalização da Marisa remove um risco de cauda que poderia fazer mais dificuldades para a companhia, sobretudo em um ambiente de alta de juros. “Se ela pegasse um vento contra, como uma outra pandemia, ela teria um problema”, frisou.
Além disso, a capitalização dá recursos para modernizar as lojas — convertendo para o modelo testado com sucesso no Shopping Dom Pedro, em Campinas — e abrir mais unidades em shoppings, tipo de loja que vem apresentando melhores resultados. “A Marisa não conseguia investir na expansão, e estava gastando muito para pagar juros”, disse Alves.
Com menos caixa que vencimentos de curto prazo, a Marisa mesmo reconhecia que algo teria de ser feito — tanto é que a companhia chegou a contratar a Lazard para avaliar alternativas para melhorar a estrutura de capital, o que poderia envolver o MBank — a vertical de serviços financeiros do grupo. A venda à Americanas também chegou a ser discutida.
Há um mês, durante a teleconferência com analistas para comentar os resultados do terceiro trimestre, a Marisa tentou minimizar a preocupação dos investidores. “Não entendemos que o volume total de dívida líquida como excessivamente elevado”, disse Adalberto Santos, o CFO da Marisa. Em setembro, a dívida de curto prazo somava R$ 466,3 milhões e a rede tinha apenas R$ 275,4 milhões em caixa.
Na ocasião, o executivo disse que a Marisa vinha conseguindo rolar os passivos com os bancos e que o MBank vem captando com títulos distribuídos pelas plataformas de investimentos. Apesar disso, a porta estava bem aberta para uma solução mais estrutural.
“A cada reunião do conselho de administração, levamos opções de adequação, avaliando a cada momento se seria mais viável opções de equity ou dívida. Mas com os números que temos, não vemos nenhum problema”, frisou Santos.
Ao anunciar o aumento de capital privado no fim da sexta-feira, a Marisa reconheceu que o ambiente macroeconômico é mais desafiador. “Apesar da retomada de atividades econômicas, a recuperação vem sendo mais lenta do que esperado, impactando emprego, renda, e confiança do consumidor. Consequentemente, isso diminui a visibilidade de curto e médio prazo em termos de normalização de demanda”, escreveu a companhia.
A inflação e o aumento dos juros, que podem afetar os consumidores e também as despesas financeiras da Marisa, também foram citados pela companhia para justificar o aumento de capital. “Tendo em vista o cenário de incerteza, somado a um aumento de inflação e juros, novas medidas se fazem necessárias para a preservação do equilíbrio financeiro”.
O Itaú BBA assessora a Marisa no aumento de capital.
Fonte: Pipevalor