CLAUDIA ROLLI
JOANA CUNHA
DE SÃO PAULO
Com a piora da economia, o crédito mais caro e o bolso mais apertado, o consumidor muda o comportamento e fraciona as compras de Natal.
Parte dos consumidores já migrou para o comércio eletrônico, parte postergou as compras para janeiro (época de liquidações e saldões) e parte antecipou as compras durante a Black Friday, que ocorreu em 28 de novembro.
O impacto da mudança foi visto no resultado do varejo tradicional. Os shoppings tiveram o menor crescimento nas vendas dos últimos oito anos, com 3% neste período sobre 2013, segundo a Alshop, a associação que reúne lojistas de shoppings.
“Esse percentual considera as quase 5.000 lojas abertas neste ano em 25 novos shoppings. Se o critério for mesmas lojas, não há crescimento e sim estabilidade em relação a 2013”, diz Luis Augusto Ildefonso da Silva, diretor da Alshop.
A previsão é fechar o ano no zero, segundo as avaliações mais otimistas, destaca o executivo. O gasto médio por presente também foi 15% menor neste ano.
Enquanto isso, o faturamento do e-commerce continua em ritmo acelerado: as vendas somaram R$ 5,9 bilhões, o que representa crescimento (nominal) de 37% em relação às vendas de 2013.
Os dados foram compilados pela E-bit, empresa especializada em informações do comércio eletrônico, e levam em consideração 15,2 milhões de pedidos feitos entre 15 de novembro e 24 de dezembro, período considerado para calcular as vendas de Natal.
A E-bit atribui o desempenho positivo ao efeito Black Friday, que representou 20% de todo o faturamento. O ingresso de 1,5 milhão de novos consumidores, comprando principalmente por meio de smartphones e tablets, também impulsionou as vendas.
“As datas promocionais tendem a ficar cada vez mais fortes do que as tradicionais, a exemplo do que ocorre no varejo dos EUA”, diz Eduardo Terra, presidente da SBVC (Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo), que reúne executivos e empresários do varejo.
A opinião é compartilhada por empresários do setor. “O Natal está sendo fatiado em três: na Black Friday, em dias anteriores à data propriamente dita e nas liquidações posteriores, que devem se estender até meados de janeiro”, diz Ubirajara Pasquotto, diretor-geral da Cybelar, rede com 150 lojas em SP e MG. “O consumidor alongou as compras, principalmente nos itens de maior valor.”
NO VERMELHO
Pela primeira vez desde 2003, a Serasa Experian verificou queda nas vendas em que houve consultas ao CPF (vendas feitas no cheque e no crediário) na semana de 18 a 24 de dezembro: o percentual foi -1,7% menor do que o visto em 2013. No ano passado, foi 2,7% superior ao registrado em 2012.
“Esperávamos que fosse fraco, mas não negativo”, diz o economista Luiz Rabi.
Já o movimento registrado pelo Serviço de Proteção ao Crédito nas vendas a prazo caiu 0,7% de 18 a 24 deste mês ante igual período de 2013.
Também houve movimento 3,1% menor de pessoas no varejo entre 1º e 24 de dezembro ante 2013, diz a SBVC.
Folha de S. Paulo – SP