22/12/2014 às 05h00
Por Tripp Mickle | The Wall Street Journal
Se a decisão da administração Obama de normalizar as relações com Cuba provocar o fim do embargo dos Estados Unidos, novas batalhas serão travadas pelos direitos americanos de venda de dois dos itens de exportação mais valorizados da ilha: charutos e rum.
O anúncio da semana passada num primeiro momento significa apenas uma mudança gradual para os amantes americanos dos charutos e destilados cubanos. Para aqueles que agora poderão viajar legalmente a Cuba, o governo americano está permitindo trazer da ilha um valor de US$ 100 em charutos e álcool por pessoa.
Dann Carr, presidente da General Cigar, uma das maiores fabricantes e varejistas de charutos de alto padrão, estima que um viajante comum seria capaz de comprar cerca de dois charutos cubanos de alto padrão para levar para os EUA. Mas eles não podem ser revendidos. Ele disse que o impacto será mínimo para o setor de charutos americanos ao menos que os EUA retirem seu embargo sobre Cuba, o que exige a ação do congresso.
Os charutos cubanos são considerados entre os melhores do mundo pelos aficionados. Suas vendas nos EUA – o maior mercado mundial, com estimados US$ 6,7 bilhões em vendas anuais, segundo a Associação de Charutos da América – provocariam um grande impulso na indústria de charutos cubana, que atualmente fatura mais de US$ 400 milhões anualmente, segundo Richard Feinberg, um professor da Universidade da Califórnia, em San Diego, que escreve relatórios sobre a economia cubana.
A Imperial Tobacco, com sede na Inglaterra, atualmente distribui todos os charutos cubanos vendidos no mundo através de uma joint venture com a empresa estatal de tabaco de Cuba, a Empresa Cubana Del Tabaco, ou Cubatabaco. As vendas de charutos cubanos contribuíram com 28 milhões de libras (US$ 43,9 milhões) ao lucro líquido total de 1,45 bilhão de libras da Imperial no ano fiscal encerrado em 30 de setembro.
No passado, a Imperial afirmou que elevaria a produção e tentaria tirar vantagem do mercado americano se o embargo fosse retirado. Por enquanto, um porta-voz da empresa disse que “a única coisa que estamos fazendo agora é observar de perto a situação”.
A retirada do embargo pode reabrir uma disputa sobre os direitos da marca Cohiba nos EUA. A Cohiba é uma das marcas mais conhecidas de charutos cubanos. As versões feitas em Cuba do charuto, distribuídas pela Imperial, estão disponíveis fora dos EUA. Uma versão alternativa da marca Cohiba feita na República Dominicana está disponível nos EUA. Ela é de propriedade da Scandinavian Tobacco, que é dona da General Cigar.
Em 2013, a Scandinavian Tobacco ganhou uma disputa de marca registrada, de 16 anos, contra a Cubatabaco pelos direitos da Cohiba nos EUA. Como resultado, a Imperial teria que contar com outras marcas como Romeo y Julieta, um charuto dominicano disponível nos EUA através da Altadis USA, da Imperial. A Scandinavian Tobacco e a Imperial Tobacco não quiseram comentar sobre a disputa pela marca Cohiba.
No caso do rum, as disputas sobre marcas existem desde a revolução cubana. A Bacardi foi fundada em Cuba mas saiu do país depois que suas operações foram nacionalizadas pelo governo de Fidel Castro. Mais tarde, a empresa entrou em uma disputa com Cuba e a fabricante francesa de bebidas Pernod Ricard pelos direitos da marca de rum Havana Club.
A Bacardi comprou a Havana Club de seus fundadores em 1997 e ganhou uma série de processos na justiça americana que lhe deram direito de uso da marca nos EUA. Ela começou a distribuir uma versão do rum feita em Porto Rico em 2006.
A Pernod Ricard, que formou uma joint venture para distribuir o Havana Club mundialmente em 1993, contestou os direitos de distribuição da Bacardi. A empresa distribui uma versão cubana da marca em outros 120 países ao redor do mundo e planeja concorrer com a Bacardi nos EUA com uma nova marca de rum cubano, chamada Havanista, que ela planeja lançar se os EUA retirarem o embargo a Cuba.
A Pernod Ricard informou que a decisão dos EUA de permitir que americanos importem até US$ 100 de bebidas alcoólicas permitirá que as pessoas levem para casa “uma garrafa do verdadeiro rum cubano Havana Club”.
A Bacardi não fabrica rum em Cuba desde que saiu do país em 1959. O presidente do conselho de administração da Bacardi, Facundo Bacardi, disse que a empresa pretende voltar a Cuba, mas que a decisão está vinculada à melhoria dos direitos humanos no país.
Em uma declaração feita na semana passada, a Bacardi disse: “Nós precisaremos esperar e ver quais são os impactos. Nós esperamos melhorias significativas na vida do povo cubano e acompanharemos qualquer mudança com grande interesse”.
Valor Econômico – SP