Até o fim de 2021, a companhia vai inaugurar sete novas lojas, totalizando 20 unidades e aumentando sua presença de sete para 11 cidades
Nascida na internet, a varejista Amaro resolveu que é hora de fortalecer sua atuação no mundo físico. Até o fim de 2021, a companhia vai inaugurar sete novas lojas, totalizando 20 unidades e aumentando sua presença de sete para 11 cidades, chegando a Salvador (BA), Recife (PE), Brasília (DF) e Goiânia (GO).
As inaugurações acompanham a estratégia mais recente da Amaro de deixar de ser apenas uma varejista de moda para entrar também em novas categorias, como beleza, bem-estar e casa. Hoje, a companhia vende itens de 300 marcas parceiras que são selecionadas pela empresa e têm todo o processo de venda gerido por ela. Por conta disso, as guide shops, como são chamadas as lojas da marca, também chegam com nova cara. Além da expansão geográfica, a empresa está ampliando a área das lojas que passam a ter de 1.000 m² a até 1.500 m², onde será possível experimentar produtos, retirar compras feitas no site ou fazê-las na loja, retirando no ato da compra ou recebendo em casa.
O movimento de virar uma varejista de estilo de vida aumentou a oferta e deu “certa confiança” para colocar em prática a expansão física, diz o presidente da Amaro, Dominique Oliver. “Começamos a olhar pontos maiores, nos maiores shoppings do país e nas maiores cidades. E recebemos muita proposta também de shoppings em que os clientes queriam ter a Amaro próxima”, conta.
Todas as novas lojas serão âncoras em shoppings centers — unidades maiores do que a maioria das lojas do estabelecimento e que costumam atrair os consumidores para o shopping. Atualmente, a Amaro só tem duas lojas de rua, na Oscar Freire, na capital paulista, e em Ipanema, na capital fluminense. “Os shoppings que escolhemos são shoppings que acreditamos muito no longo prazo, que vemos como ‘winners’ [vencedores].”
Oliver não revela quanto a companhia está investindo na expansão, mas diz que esse é um dos maiores aportes já feitos pela companhia desde sua criação, em 2012, e afirma que novas aberturas para 2022 já começaram a ser estudadas.
Para o plano deste ano, a lógica na escolha dos locais se dá justamente pelos dados das vendas on-line. Com a pandemia, a Amaro viu uma grande mudança no perfil de compradores, com gente de mais Estados, de fora das capitais e pessoas mais velhas. “A gente sempre teve a ambição de ter mais capilaridade nacional.”
Por isso, além de uma segunda loja em Porto Alegre (RS) e ampliações em unidades de São Paulo (SP) e Curitiba (PR), a varejista optou Estados no Centro-Oeste e no Nordeste. “Vimos muitos compradores on-line nesses locais e isso é indicativo de que há demanda para lojas físicas também”, diz o executivo acrescentando que a primeira loja física numa cidade ajuda a dar credibilidade à marca e a crescer a taxa de conversão on-line.
O objetivo da Amaro é que as compras em lojas físicas, que hoje correspondem a 25% das vendas passem a ser algo entre 30% e 35% do total. Embora saiba navegar bem no on-line, a companhia destaca que o consumo no Brasil ainda é majoritariamente presencial: a cada 100 transações no varejo, 89 acontecem no canal físico. “Nossos ‘guide shops’ são a extensão do nosso aplicativo e do site. Pelos dados do on-line estimamos a demanda na loja física e com a loja podemos impulsionar os negócios on-line com o ‘ship from store’ [entrega a partir da loja] e o click and collect [compra on-line retirada na loja]. Tem muitas variáveis que podem nos deixar mais competitivos”, diz Oliver. Nas cidades em que a Amaro vai chegar, a entrega que era em cinco dias passará a ser feita no mesmo dia.
Outra vantagem, diz Oliver, são as devoluções. “São muito atrativas porque não temos o custo e a cliente tendo a experiência melhor no atendimento na loja aumenta o ‘life time value’, o gasto que ela faz na Amaro ao longo do ano”, explica ele. A devolução funciona como a primeira compra da cliente na loja, em que é preciso conquistá-la e torná-la fiel.
O investimento na expansão é bancado pelo caixa da companhia. De capital fechado, a Amaro não divulga faturamento, mas diz que deve terminar o ano com crescimento de 50%. A expectativa para o varejo de moda é de um crescimento de 16%, segundo dados da consultoria IEMI -Inteligência de mercado.
A base de comparação favorece o desempenho em 2021: em 2020, o setor de moda foi fortemente afetado pela pandemia da covid-19, com as pessoas ficando mais em casa e consumindo menos alguns itens ligados aos eventos sociais, por exemplo.
Mas a varejista também atribui o potencial salto de vendas à entrada em novas categorias, que segundo o executivo, aumentam o mercado de atuação para a Amaro de R$ 150 bilhões para R$ 380 bilhões.
Agora, Oliver diz que a Amaro está mais confiante no cenário micro do que no macro. “O Brasil tem um desafio muito grande no poder aquisitivo, com juros e inflação aumentando. Os itens básicos do mês capturam cada vez mais do bolso. Sem fazer nada, os brasileiros estão pagando mais para escola, saúde alimento e obviamente isso não é bom para o cenário de um setor como o nosso”, afirma. Ele pondera, no entanto, que na Amaro, três em cada quatro pedidos são on-line, um mercado que cresce 25% ao ano. “Estamos em um mercado que tem crescimento estrutural forte. Além disso, estamos expandindo em várias praças importantíssimas. Embora o mercado esteja andando de lado, sentimos que criamos uma marca tão forte em atributos de valor e causa.”
É por isso que o executivo acredita que a companhia vai continuar com bom desempenho e atrativa. Nos últimos meses, com o varejo da moda efervescendo em operações de fusões e aquisições, a Amaro entrou no radar de grandes do setor. Oliver aponta que, do lado das varejistas do setor há uma visão muito clara de criar “houses of brands”. Já os marketplaces (shopping centers virtuais), que não são específicos por categoria, ficaram gigantes nos últimos cinco anos no Brasil e estão muito bem capitalizados, mas também pressionados por crescimento, o que também os leva às compras. Diante disso, diz ele, nativas digitais como a Amaro tendem a ser atrativas.
“A Amaro tem uma marca muito querida no mercado e forte, com atributos. Conseguimos atrair marcas incríveis para vender na Amaro e isso também atrai outros players. Mas, por enquanto, acho que a Amaro tem um ‘roadmap’ [trajetória] muito promissor, de continuar crescendo e sendo independente”, afirma Oliver, adiantando, também, que uma abertura de capital ainda não está nos planos. “O mercado de capitais no Brasil é diferente dos Estados Unidos, em que se tem um entendimento melhor do que significa ser uma empresa em crescimento, como isso impacta e que tipos de investimentos precisam ser feitos”, diz.
Fonte: Valor Econômico