Para Eduardo Terra, presidente da SBVC, varejista tem sido ativa em fazer todo o mercado assumir melhores práticas de gestão e controle
Por Redação
OMagazine Luiza chegou à marca de 100 mil lojistas virtuais. Além de comemorar a conquista, a empresa faz questão de destacar: “todos os nossos sellers (vendedores) são legalizados e emitem nota”, diz Leandro Soares, diretor de marketplace da companhia. A observação é uma alfinetada em alguns concorrentes que, na visão do Magalu, “não têm o mesmo comprometimento com o Brasil”.
A observação da empresa é quase um desabafo. Na prática, o Magazine Luiza já poderia ter muito mais vendedores cadastrados se não buscasse se certificar da legalidade de todos eles, segundo Soares. A cada cinco lojistas que tentam se cadastrar para vender pela plataforma do Magalu, um já é descartado de cara por não atender às exigências de documentação da empresa. Os quatro que continuam no processo ainda passam por mais peneiras. Segundo Soares, a companhia checa não apenas se a empresa tem CNPJ, mas se o seu registro permite a venda dos produtos que o lojista busca cadastrar.
Há ainda uma empresa externa que escaneia os anúncios da plataforma, além de as próprias marcas serem chamadas a vistoriar os anúncios dos vendedores e sinalizar aqueles que vendem produtos sem licença. Além disso, as notas fiscais são conferidas em três campos para evitar um golpe famoso: quando o lojista envia a mesma nota para diferentes plataformas, pagando os tributos apenas uma vez.
Fiscalização do Magazine Luiza
De acordo com Soares, o diferencial do Magazine Luiza nesse processo de fiscalizar a venda de produtos ilegais ou falsificados é que os lojistas são banidos quando um anúncio do tipo é encontrado, enquanto em outras plataformas os anúncios são derrubados, os lojistas advertidos, mas — em muitos casos — demoram a ser banidos.
O líder do comércio eletrônico no Brasil, Mercado Livre, já apertou o seu cerco em relação a esse problema. A empresa divulgou seu primeiro relatório de transparência em maio deste ano dizendo que suspendeu pouco mais de 5% dos anúncios publicados em sua plataforma, no segundo semestre de 2020.
Nesse relatório, o Mercado Livre mostrou mecanismos automatizados para achar voluntariamente os anúncios problemáticos, bem como o processo de chamar grandes marcas para participar da fiscalização. Antes da publicação do relatório, a companhia havia sido citada como destaque negativo em consulta pública da União Europeia, que gerou uma lista de empresas que devem ser observadas devido aos relatos de práticas inadequadas em relação à pirataria.
Procurado para comentar, o Mercado Livre enviou documento em que elenca as medidas do Brand Protection Program (BPP), programa que concentra a inteligência artificial e tecnologia automatizada de combate à pirataria, falsificação e fraudes da plataforma na América Latina.
Segundo o documento, de janeiro de 2020 a julho deste ano, o programa permitiu a exclusão de cerca de 30 milhões de anúncios, culminando na exclusão de vendedores irregulares. Além disso, 1,3 milhão de produtos ilegais no período foram barrados “proativamente” pela plataforma. “A partir do BPP, estabelecemos um sistema de parceria com mais de 5,7 mil titulares de propriedade intelectual, com milhares de direitos na América Latina, que podem denunciar gratuitamente eventuais produtos irregulares na plataforma”, informa o Mercado Livre.
A melhora da fiscalização na gigante argentina, porém, pode ter causado alguma migração de lojistas para outros aplicativos que chegaram mais recentemente ao mercado. “Somos uma empresa brasileira puro-sangue e temos um compromisso social com o Brasil. Existem plataformas que vêm de outros países que não têm o mesmo compromisso”, diz Soares, do Magalu, quando questionado sobre por que empresa tem insistido no discurso de que não fará “gol de mão” para crescer em marketplace.
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), Eduardo Terra, o movimento forte de pilares ESG (relacionados às boas práticas ambientais, sociais e de governança) tem pressionado as plataformas e ecossistemas a encontrar mecanismos de mais controle sobre lojistas e produtos que não estão em conformidade com a legislação. “O que o Magazine Luiza tem feito é puxar um pouco essa régua e provocar o mercado nessa direção”, afirma.
Crescimento do marketplace
Não é por isso que o Magalu deixa de crescer. Em dois anos, a companhia multiplicou o número de lojistas virtuais por nove: de 11 mil, em setembro de 2019, para 100 mil, em setembro deste ano. Em GMV (volume bruto de mercadoria), esses vendedores saíram de R$ 583 milhões em junho de 2019, para R$ 2,9 bilhões em junho de 2021, segundo os dados financeiros mais recentes.
A estratégia da companhia é usar as lojas físicas como recrutadoras de lojistas que ainda não vendem online. Ou seja, em uma praça com ponto físico, o Magalu mira cadastrar seus próprios vizinhos, buscando assim comerciantes menores, porém estruturados. “De cada 10 sellers novos, 6 vêm das lojas físicas da rede. Em geral, eles são pequenos e analógicos”, diz o diretor de marketplace do Magazine Luiza.
Fonte: E-Commerce Brasil