Marcas próprias de redes varejistas e até mesmo a Olimpíada, que vai servir refeições aos atletas apenas com alimentos produzidos sem agrotóxicos nos 45 dias do evento, devem ajudar a impulsionar setor no país
Erica Ribeiro
eribeiro@brasileconomico.com.br
Rodrigo Carro
rodrigo.carro@brasileconomico.com.br
Com um crescimento médio de 30% ao ano, o mercado de alimentos orgânicos no Brasil vai fechar 2014 com um faturamento de R$ 2 bilhões, volume considerado incipiente diante do US$ 35 bilhões que os americanos consomem em seu país.
MingLiu, coordenador executivo do Projeto Organics Brasil, programa de promoção dos produtores orgânicos, diz que as marcas próprias desses itens, desenvolvidas pelas grandes redes varejistas, são hoje o caminho para que os produtores brasileiros possam escoar parte de sua produção, ainda que o nome de sua empresa não apareça nesse processo.
Poucas conseguem ganhar mercado com uma marca só sua e, quando isso acontece, a distribuição acaba sendo para o pequeno varejo regional ou lojas especializadas.
Hoje, o mercado é composto por 12 mil unidades de produção, que podem ser individuais ou cooperativas de produtores.
Pelo lado dos supermercadistas, ter mais itens orgânicos nas gôndolas vindo de pequenos produtores ajuda na construção de suas marcas próprias e de sua imagem institucional dentro desse segmento, que cresce com a busca de uma alimentação mais saudável pelo consumidor, acrescenta Ming Liu.
O papel de educar o consumidor acaba sendo feito pelas redes varejistas, pela sua visibilidade e capilaridade. Mas ao mesmo tempo que a relação com o varejista é boa, também cria uma dependência dos produtores às redes. E assim, suas marcas não aparecem muito. O segmento, de uma forma regulamentada, está em vigor há pouco tempo. A Lei dos Orgânicos foi criada em 2011 e há muito o que se trabalhar neste mercado, diz Ming Liu.
Segundo ele, desde 2012 a Organics Brasil vemmonitorando, junto com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), a evolução do segmento, que tem no preço um grande desafio.
Pensar que um produto como este pode um dia ter preços mais competitivos é utopia. Mas com a educação do consumidor sobre seus benefícios, o preço em algum momento acaba ficando em segundo plano, acredita ele.
O Grupo Pão de Açúcar (GPA) concentra na bandeira Pão de Açúcar a venda de alimentos orgânicos da marca Taeq. Desde 2011, todas as lojas Pão de Açúcar passaram a ter uma seção exclusiva de orgânicos.
No início, eram poucos produtos e restritos a categoria de frutas, verduras e legumes. Hoje, já temos energético, macarrão instantâneo, balas e óleo de soja. São mais de 600 itens. Vamos fechar o ano com 182 lojas no Brasil e todas que estão sendo inauguradas já nascem com a seção de orgânicos. Os mais vendidos são as folhagens, morangos e azeites, diz Sandra Sabóia, gerente comercial do Pão de Açúcar.
Para manter o mix de produtos atualizado e também dispor de alguns itens específicos para fabricação de alimentos processados a partir de ingredientes orgânicos, Sandra diz que a varejista investe na capacitação dos fornecedores para a sua marca própria.
Há oito anos temos um programa de capacitação com cerca de 65 produtores orgânicos de diversos tamanhos. Muitos são pequenas propriedades rurais. Também preparamos estes fornecedores para desenvolver itens para produtos como barras de cereais ou pães orgânicos vendidos em nossas lojas, diz ela.
Segundo uma fonte do setor, o GPA faturou em 2013 R$ 150 milhões com a venda de orgânicos.
O concorrente Carrefour tem em sua marca própria Viver cerca de 115 itens orgânicos.
De acordo com a empresa, o aumento da oferta de produtos vem estimulando o consumo, ainda mais concentrado nas classes A e B.
Os orgânicos também entraram na pauta das Olimpíadas de 2016, no Rio.
Todos os atletas que estarão no Brasil para a competição vão ter no cardápio somente alimentos produzidos sem adição de agrotóxicos.
Francisco Marins, coordenador do projeto Sebrae no Pódio, diz que a iniciativa visa ampliar o número de produtores orgânicos no país e também o consumo pela população.
O projeto inicial era de fornecer alimentos orgânicos para atletas e todo o pessoal envolvido na organização. A previsão é de 10 milhões de refeições em 45 dias de competição. Mas nossa produção não é suficiente para isso e apenas os atletas vão ter em seu cardápio produtos orgânicos. Isso nos leva a buscar meios de incentivar a agricultura orgânica no país para que possamos, no futuro, também exportar. Estamos montando rodadas de negócios para aproximar produtores de empresas de catering.
Brasil Econômico – SP