Marketplace aguarda análise da Anvisa sobre a venda de artigos farmacêuticos e revela estratégia para os próximos anos
Por Anderson Figo
Empurrado pelo boom do e-commerce na pandemia de coronavírus, o marketplace argentino Mercado Livre (MELI34) teve receita de US$ 1,3 bilhão no quarto trimestre de 2020, com crescimento de 97% sobre o mesmo período do ano anterior. No acumulado de 2020, a cifra chegou a US$ 4 bilhões, numa alta de 73%.
Apesar desse desempenho, que teve fôlego especialmente por causa do Brasil, onde as operações representaram mais da metade da receita trimestral da companhia, o Mercado Livre terminou o quarto trimestre de 2020 com prejuízo de US$ 50 milhões — e não estima voltar a pagar dividendos tão cedo.
A entrevista faz parte do projeto Por Dentro dos Resultados, no qual CEOs e outros executivos importantes de empresas da Bolsa comentam os balanços do quarto trimestre de 2020 e o desempenho anual das companhias, e falam também sobre perspectivas. Para não perder as próximas lives, que acontecem até o início de abril, se inscreva no canal do InfoMoney no YouTube.
De acordo com Stelleo, embora o Brasil tenha puxado a fila dos mercados que mais cresceram dentro do grupo, houve uma surpresa positiva com o bom desempenho de mercados secundários, como Colômbia e Chile — o Mercado Livre atua em 18 países, sendo as operações mais fortes no Brasil, México e Argentina.
Por aqui, a companhia está otimista com o crescimento de seu marketplace, especialmente com a chegada de um novo segmento na plataforma de vendas on-line: o de supermercados.
“O GPA, dono da marca Pão de Açúcar, já anunciou nossa parceria, por exemplo. Por enquanto, só conseguimos fazer a entrega de produtos secos, mas a expectativa, e estamos estudando a melhor logística para isso, é de que nos próximos meses a gente também possa entregar produtos congelados”, afirmou Tolda.
“Tem alguns players grandes que conseguem fazer a logística por conta própria, mas o mercado é pulverizado e tem muitas redes menores de farmácias que poderiam ser nossos clientes neste serviço”, disse. Sobre remuneração ao acionista, porém, o Mercado Livre está mais conservador, e acredita que ainda não é hora de focar nisso.
“Nós já pagamos dividendos no passado, mas agora estamos numa fase de investimentos, por isso não temos previsão para voltar a pagar dividendos ainda”, destacou o presidente do Mercado Livre. Apenas no Brasil, a companhia planeja investir R$ 10 bilhões em 2021 — boa parte em logística, mas também em outras áreas, como crédito para pequenas empresas.
O Mercado Pago, fintech do grupo, ajudou na performance positiva das operações brasileiras. “Tivemos crescimento em todos os seguimentos, de wallet, de maquininhas. Apenas os pagamentos online saltaram 143% de um ano para o outro, e a área de crédito também cresceu”, afirmou Tulio Oliveira, vice-presidente do Mercado Pago no Brasil.
Embora a inadimplência entre a baixa renda tenha crescido nos últimos meses no segmento de crédito do Mercado Pago, Oliveira disse que a companhia está provisionada para lidar com isso e segue pronta para colocar a todo vapor seu novo produto: o cartão de crédito. “Hoje, 4 milhões de clientes já utilizam nosso cartão de débito. Vamos começar por eles”, afirmou.
O executivo citou que o Mercado Pago teve bom crescimento não apenas nas vendas via Mercado Livre, mas fora também. Ele também ressaltou que a pandemia pode ter acelerado o processo de digitalização, mas que a fintech do Mercado Livre no Brasil estava preparada para absorver a escala — somente entre o segundo e terceiro trimestres do ano passado o Mercado Pago ganhou mais de nove milhões de novos clientes no país.
Isso é fruto de investimentos em novas tecnologias e também em parceiras fechadas com grandes empresas, segundo o VP da marca. Os executivos falaram ainda sobre a não intenção do Mercado Livre de comprar os Correios em um eventual leilão de privatização no futuro.
“Em 2017, nossas entregas eram 95% feitas via Correios. Hoje, são menos de 10%. Se os Correios forem privatizados, e eu como brasileiro quero isso, podemos até pensar em voltar a aumentar nossas entregas com a empresa, sob uma gestão melhor. Mas a gente comprar os Correios não é uma possibilidade”, enfatizou Tolda.
Fonte: Infomoney