26/11/2014 às 05h00
Por Simone Cavalcanti | De São Paulo
O varejo tem sido peça-chave para a expansão dos negócios de meios de pagamentos eletrônicos. Para os consumidores que não têm conta em banco, o cartão de loja (private label) é a porta de entrada para o mundo do crédito. Para as empresas e instituições que fazem parte desse sistema, uma grande chance de ampliar a oferta de serviços financeiros.
“O private label se sofistica como instrumento para alavancar as vendas do varejo. Toda vez em que a economia aperta, o cartão é a válvula de escape do varejista”, afirma Antonio Soares, diretor-executivo da Conductor, empresa de processamento de plásticos tanto para o varejo quanto para instituições financeiras.
Os clientes com cartão da Lojas Renner, por exemplo, gastam mais no estabelecimento do que aqueles que não têm. De acordo com o balanço divulgado pela empresa com dados até setembro, o ticket médio das compras com o plástico foi de R$ 169,37 enquanto o geral da empresa foi de R$ 122,28. Esse volume representa ampliação dos gastos de 8% e 7,7%, respectivamente, em relação aos nove meses de 2013. Atualmente 50,5% do total de vendas da varejista do vestuário são pagas com private label.
Mesmo após anos consecutivos de forte expansão, o potencial de negócios nesse segmento ainda é muito alto. Soares lembra que existem muitas oportunidades entre os grandes varejistas regionais que começam a apresentar o plástico para seus consumidores. Lojas Avenida, com origem na região Centro-Oeste, a Fort Brasil, conhecida no Nordeste, e a Camisaria Colombo, do Sudeste, são exemplos de marcas que fazem parte da carteira de 40 clientes da Conductor. A empresa estima faturar 20% a mais neste ano e elevar entre 25% e 30% as vendas em 2015.
“Antes apenas os grandes varejistas conseguiam colocar bandeira em seus cartões, mas, agora, essa possibilidade existe para os pequenos”, diz executivo.
Segundo últimos dados disponíveis da CardMonitor, até o ano passado, os 13 maiores representantes do varejo, entre eles Casas Bahia, C&A, Lojas Americanas, concentravam 158,2 milhões de cartões. Desse total, 105,8 milhões eram os chamados “puros”, que só podem ser usados no estabelecimento, e 52,4 milhões híbridos, que são habilitados também para outras funções financeiras, como débito, crédito e saque.
“O brasileiro tem um comportamento muito peculiar, pois adora comprar algo para pagar depois e também parcelar suas compras”, diz Neide Montesumo, presidente da Associação Brasileira de Marcas Próprias (Abmapro). Para ela, na medida em que as culturas do cheque pré-datado e do carnê são substituídas pelas facilidades do plástico, a oferta de serviços financeiros vinculados ao cartão cresce.
Em 2012, o Carrefour firmou parceria com o Itaú Unibanco para oferecer seu cartão híbrido. Nas lojas da rede de supermercados, o cliente tem descontos ou pode parcelar suas compras tanto em itens da cesta básica quanto em produtos mais caros. Fora, pode usar o plástico de acordo com as regras das bandeiras (Visa ou Mastercard) que escolheu.
“Trazer cada vez mais para o sistema essa parcela da população que já usa os private label, mas não tem conta no banco ou nem mesmo um cartão cuja emissora é uma instituição financeira é um dos desafios”, diz Peterson Pais, gerente de Parcerias da Accesstage. Para ele, esse público representa reforço extra para o todo o modelo chamado de adquirência, que abrange a emissão, captura, processamento, compensação e liquidação do meio de pagamento.
Valor Econômico – SP