O volume de vendas no varejo restrito recuou 0,1% em novembro na comparação com outubro, já descontados os efeitos sazonais, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E a primeira taxa negativa após seis meses de altas seguidas neste indicador. Na comparação com novembro de 2019, o varejo restrito subiu 3,4%.
Na avaliação do gerente da Pesquisa Mensal do Comércio, Cristiano Santos, no entanto, o resultado não pode ser interpretado como queda, mas estabilidade das vendas frente a outubro e uma acomodação após tantos meses de alta. “A leitura é de estabilidade em relação ao mês passado, muito próximo de zero, uma certa acomodação em novembro. Não é uma leitura de queda”, afirma Santos.
Com o resultado, o comércio restrito acumula alta de 1,2% em 2020 até novembro de 2020 e aumento de 1,3% em 12 meses.
O resultado de novembro para outubro veio pior que a mediana das projeções coletadas pelo Valor Data, apurada junto a consultorias e instituições financeiras, que era de uma alta de 0,3% . O indicador ficou dentro do intervalo das estimativas, que iam de recuo de 0,6% até elevação de 1,5%. A alta de 3,4% ante novembro do ano passado também foi pior que a esperada. A expectativa era de alta de 4,6%.
No varejo ampliado, que inclui as vendas de veículos e motos, partes e peças, e material de construção, o volume de vendas subiu 0,6% em novembro na comparação com outubro, já descontados os efeitos sazonais. Os analistas esperavam alta de 1%, conforme a mediana das estimativas apurada pelo Valor Data. Na comparação com novembro de 2019, o volume de vendas do varejo ampliado subiu 4,1%. A expectativa era de alta de 5%.
No acumulado de 2020 até novembro, o varejo ampliado cai 1,9% e, em 12 meses, recua 1,3%.
Já a receita nominal do varejo ampliado aumentou 1,6% em novembro. Em relação a novembro de 2019, a receita sobe 12,4%. A receita do varejo ampliado aumenta 2,4% no acumulado do ano e sobe 2,9%% em 12 meses.
Cinco das oito atividades tiveram avanço
As vendas do comércio na passagem de outubro para novembro avançaram em cinco das oito atividades pesquisadas no varejo restrito, que não inclui automóveis e material de construção.
Em novembro, o setor de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-2,2%) foi o principal fator negativo no mês nas vendas do varejo restrito. Também houve quedas de vendas em combustíveis e lubrificantes (-0,4%) e móveis e eletrodomésticos (-0,1%).
No varejo ampliado, que inclui automóveis e peças e material de construção, houve alta de 3,5% no volume de vendas de Veículos, motos, partes e peças. O setor de material de construção teve recuo de 0,8.
Em novembro de 2020, das 27 Unidades da Federação, 14 apresentaram alta no volume de vendas, na comparação com o mês imediatamente anterior. Na comparação com novembro de 2019, houve expansão no volume de vendas em 19 unidades da Federação.
BlackFriday
As vendas de Black Friday ajudaram o comércio em novembro, mas não foram suficientes para compensar a influência negativa da queda nas vendas de supermercado
O desempenho foi influenciado, segundo Santos, pela inflação e também por um impacto menor do auxílio emergencial. “A queda de hipermercados e supermercados explica muito o indicador de maneira geral. O setor teve uma queda de receita e de volume, por conta da inflação. (…) E o auxílio emergencial tem um impacto menor no mês de novembro”, diz.
O gerente da pesquisa ressalta, no entanto, que a Black Friday ajudou o comércio, movimento também favorecido pela expansão do crédito. Quatro de seis atividades ligadas às promoções da data tiveram expansão: móveis e eletrodomésticos, material de construção, outros artigos de uso pessoal e doméstico, e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos.
Santos afirmou também que as empresas que apontaram a Black Friday como influência no desempenho das vendas em novembro tiveram forte impacto. O crescimento das vendas nessas companhias foi de 9,6%, muito acima da taxa média. Nas demais, a taxa foi de 0,4%.
“A Black Friday ajudou muito o comércio em novembro. Quando se olham os dados da série anual, as empresas que tiveram estratégias para a data e apontaram isso nas explicações da pesquisa tiveram um crescimento muito maior que as demais”, afirma o gerente da pesquisa.
O IBGE considera como parte desse grupo as empresas que apontaram explicitamente a Black Friday em suas observações ao responderem as perguntas do levantamento da PMC e também aquelas que têm peso expressivo na pesquisa em cada atividade e que publicaram informações sobre o evento em sites e redes sociais.
Para se ter uma ideia, da alta de 3,4% do varejo restrito, 3,1 pontos percentuais vieram dos estabelecimentos com ligação ao Black Friday. Os demais negócios responderam por apenas 0,3 ponto percentual da alta. No caso do varejo ampliado, da alta de 4,1%, 2,5 pontos percentuais vieram do grupo Black Friday e o restante das demais.
Fonte: Valor Econômico