O GPA tem uma nova estratégia digital. O plano gira em torno de seu novo marketplace, espécie de shopping virtual, que deve ser desenvolvido nos próximos meses. O cronograma é ambicioso. Segundo o presidente de varejo do grupo, Jorge Faiçal, envolve o fornecimento de serviços de logística para os vendedores da plataforma, a monetização em cima de dados, a venda de mídia e ainda a criação de uma carteira digital no futuro.
A estimativa do diretor de e-commerce, Rodrigo Pimentel, é que, em três meses, existam cerca de 30 mil itens de parceiros na plataforma. Em 12 meses, a expectativa é que o número chegue a 400 mil. A operação logística para vendedores do marketplace da companhia deve começar no primeiro trimestre de 2021, segundo Faiçal. No momento, o marketplace está em funcionamento, mas o grupo ainda não opera a distribuição dos produtos de parceiros.
Para especialistas, varejistas de alimentos querem fazer com que clientes gastem mais em seus sites e ampliarão oferta
Os especialistas dizem que essa notícia influencia a corrida dos ecossistemas de varejo brasileiros. “Estávamos prevendo. Vimos as empresas de bens duráveis aumentando seu sortimento e avançando sobre o setor de supermercados”, diz Eduardo Yamashita, diretor de operações da consultoria de varejo Gouvêa. “Agora é o movimento contrário: supermercadistas buscando aumentar o sortimento e ganhar mais share of wallet (quanto o cliente gasta em seu ecossistema).”
O concorrente Carrefour também anunciou recentemente um novo plano de transformação digital. Na comparação com o GPA, ele sai na frente por ter um marketplace para o braço de atacarejo, o Atacadão. Essa plataforma é voltara para a venda para outros negócios, no modelo “B2B” (de empresa para empresa, na expressão em inglês). No entanto, o modelo proposto pelo GPA conta com o James Delivery, que opera a última milha de entrega, pilar importante na composição de ecossistemas digitais. Fontes do setor avaliam que a maior diferença de estratégia entre as duas é que o Carrefour busca ser uma plataforma de referência no ramo de alimentos, enquanto o GPA tenta diversificar suas receitas e avançar sobre outros setores.
Para Walter Sabini Jr., presidente da HiPartners Capital & Work, os ecossistemas têm de desenvolver ao menos quatro pilares: tecnologia, meios de pagamento, venda de mídia e oferecimento de logística, pontos que o projeto do GPA pretende abordar. Para ele, o dono das marcas Pão de Açúcar e Extra entra na corrida com vantagens competitivas em dados e recorrência de compra, na comparação com as empresas de bens duráveis. Por outro lado, as plataformas dessas empresas que chegaram antes na corrida digital têm seus demais pilares mais desenvolvidos.
GPA ganha dinheiro com insights gerados a partir de dados dos clientes
O CEO de varejo do GPA, Faiçal, disse – no evento de divulgação – que a empresa já monetiza seus dados como forma de insights para fornecedores, no entanto, com a transformação digital da companhia, isso pode passar de uma receita marginal para um negócio, de fato. “Vamos, sim, passar a fazer monetização de mídia”, disse no evento. A ideia é que os anúncios sejam hiper personalizados, baseados nos dados de compras dos usuários da plataforma.
Já para a futura carteira digital do grupo, ele afirmou que a empresa ainda analisa o mercado e a competição das várias carteiras que existem, além de aguardar para entender os efeitos do PIX e do open banking no setor. Aqui, o concorrente Carrefour também indicou que deve fazer lançamentos, com uma conta digital por meio do Banco Carrefour.
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), Eduardo Terra, a estratégia do GPA faz sentido. “Eles buscam estabelecer sinergias entre as vendas recorrentes e de menor tíquete médio que já tem, com as de menor recorrência e maior tíquete”, diz. Segundo ele, dessa maneira, os supermercadistas aumentam sua base de consumidores e fortalecem esse ambiente almejado de ecossistema.
Fonte: Estadão