A varejista vai lançar um marketplace com produtos e serviços para mulheres no terceiro trimestre de 2021. Além disso, planeja criar um superapp com serviços financeiros acoplados.
Desde 2017, quando começou um amplo processo de reestruturação, a Lojas Marisa decidiu focar suas atenções nas vendas digitais e entrou em marketplaces como Mercado Livre, Lojas Americanas e Submarino, Zatini, Netshoes e Magazine Luiza. Agora, a empresa se prepara para ter o seu próprio marketplace, sem abandonar os canais onde ela já está presente.
“Estamos com o projeto avançado para o nosso próprio marketplace”, disse Marcelo Pimentel, CEO da Lojas Marisa, com exclusividade ao programa Conselho de CEO, da Jovem Pan, apresentado por Carlos Sambrana, cofundador do NeoFeed. O plano, diz Pimentel, é inaugurar em caráter experimental no segundo trimestre de 2021 e lançar no terceiro trimestre do ano que vem.
“A visão é a mesma do nosso slogan: de mulher para mulher”, afirma o executivo. E prossegue. “Vamos ter um ambiente transacional focado em experiências, produtos e serviços para a mulher.” Nesse cenário traçado pela companhia, entrariam produtos de moda, beleza e perfumaria.
Mas, além de venda de produtos, Pimentel afirma que a empresa estuda oferecer até cursos de educação financeira ministrados por mulheres. “Essa é uma demanda das nossas clientes. Elas querem saber como se preparar para o futuro”, diz ele.
Para não dar nenhum tipo de guidance, o executivo não se arrisca a dizer o tamanho que esse negócio terá e quanto movimentará, mas explica que o marketplace faz parte do plano da companhia para aumentar as vendas digitais. “Em até cinco anos, a meta é fazer com que o ecommerce represente 25% do nosso faturamento”, diz Pimentel.
A julgar pelo crescimento do comércio eletrônico e o impacto que ele está tendo no resultado da companhia, não é uma tarefa tão difícil de ser concretizada. Se em 2018 as vendas online representavam 2% do faturamento da rede, no terceiro trimestre deste ano elas já respondiam por 16,3%.
A empresa, que no ano passado anotou um faturamento líquido de R$ 2,8 bilhões, teve uma receita líquida de R$ 532,2 milhões e um prejuízo de R$ 124,5 milhões neste terceiro trimestre. O resultado foi melhor do que no segundo trimestre, quando o vermelho no balanço alcançou R$ 171,7 milhões.
A melhora, ainda que com prejuízo, se deu por conta da reação digital em meio a pandemia, que obrigou a rede a fechar lojas temporariamente e agora vê suas unidades novamente abertas. O crescimento das vendas online no trimestre foi de 115,3% num total de R$ 98 milhões.
As vendas online, aliás, também têm trazido tráfego e gerado mais receitas no varejo físico. Mais de 40% das pessoas que compram online, retiram os produtos nas unidades da rede e, quando visitam as lojas, acabam comprando mais. “Do total de pessoas que vão nas nossas lojas retirar produtos, 40% compram”, diz Pimentel.
Desde o início da pandemia, a companhia lançou um aplicativo e registrou 1,5 milhão de downloads. Além disso, fez de suas 360 lojas físicas hubs logísticos para a última milha do e-commerce. No segundo trimestre de 2021, avisa o executivo, deve lançar a sua fintech. “Temos uma base de 6 milhões de clientes dos quais 2 milhões são ativos”, diz ele.
O executivo afirma que pretende aproveitar essa base para gerar mais ganhos e deve embutir os serviços dessa fintech dentro de seu aplicativo. “Tudo ficará concentrado em um único app”, diz ele. Será uma espécie de superapp com o e-commerce, o marketplace e a fintech.
A estratégia, dizem alguns analistas, chega com um pouco de atraso. Afinal, a Marisa foi uma das primeiras varejistas a vender online e, por uma série de erros de gestão no passado, acabou perdendo o bonde da inovação. E, de certa forma, ela está fazendo o mesmo que seus concorrentes.
A Riachuelo, por exemplo, vai lançar um superapp e um grande marketplace integrado. A notícia foi antecipada com exclusividade pelo NeoFeed em julho. “É a prioridade para este ano”, disse Flávio Rocha, presidente do conselho de administração da Guararapes.
Nesse grande marketplace, afirmou o empresário, será possível vender tudo o que está relacionado com moda e estilo de vida como fitness, gastronomia, turismo, cultura. “Esse é um mundo ainda não preenchido no meio digital brasileiro”, disse.
Além de Riachuelo, outras rivais estão no mesmo caminho. A Renner vai criar o seu próprio marketplace e a C&A já está rodando a todo vapor com o seu. “Essa será a grande disputa entre essas companhias”, diz Alberto Serrentino, sócio da Varese Retail, consultoria especializada em varejo.
Desde o início do ano, as ações da Marisa caíram 49,5%: de R$ 13,67 para R$ 6,90 na cotação de segunda-feira, 16 de novembro. Seu valor de mercado está em R$ 1,8 bilhão. E, para fazer a empresa dar novos saltos, Pimentel terá alguns desafios pela frente.
“Embora o terceiro trimestre tenha apresentado melhora no desempenho em relação ao segundo trimestre da Marisa, os números gerais ainda foram fracos. Continuamos a ver uma recuperação gradual para a empresa nos trimestres seguintes, mas ainda impactada negativamente pelo menor tráfego em suas lojas, aumento das taxas de desemprego e menor intenção de compra das famílias”, escreveram Luiz Guanais e Gabriel Savi, analistas do BTG Pactual.
Fonte: Neofeed