11/11/2014 às 05h00
Por João Luiz Rosa | De São Paulo
Como qualquer fabricante de produtos de consumo, a Apple quer que você compre – mas diferentemente da maioria delas, prefere que você deixe a carteira em casa. Há um mês a companhia colocou no ar o Apple Pay. Por enquanto disponível apenas nos Estados Unidos, e sem data para chegar a outros países, o sistema substitui o cartão de crédito em compras via internet ou em lojas credenciadas. Em vez de tirar a carteira do bolso, basta aproximar o smartphone de um leitor instalado nas lojas para efetivar a compra.
Não é a primeira vez que uma empresa de tecnologia tenta isso. O Google e o PayPal, o braço de pagamentos do eBay, já fizeram suas próprias incursões na área, sem muito sucesso. Para garantir que desta vez dê certo, a Apple cercou-se de cuidados. No momento da compra, por exemplo, o usuário precisa manter pressionado o botão Touch ID. O mecanismo, que identifica as impressões digitais do consumidor, está presente no iPhone 6 e 6 Plus, lançados em setembro, e no iPad Air 2, apresentado no mês passado. A expectativa é expandir a compatibilidade para a linha iPhone 5 com o lançamento do relógio Apple Watch, previsto para 2015.
O Apple Pay funciona sob a tecnologia sem fio conhecida pela sigla em inglês NFC, que poderia ser definida como comunicação por proximidade. O usuário pode usar os cartões de crédito que já constam do iTunes, o serviço de música e vídeos da Apple, ou acrescentar novos números, tirando uma foto do cartão com o próprio celular e acrescentando dados. Os números reais dos cartões não ficam armazenados no dispositivo ou nos servidores da companhia, segundo a Apple. Em vez disso, cada transação é autorizada por um número único gerado no momento da compra. No caso das compras via internet, basta usar o Touch ID.
A Apple também tem frisado que não terá acesso ao histórico de compras do consumidor ou a suas informações financeiras. Os caixas nas lojas também não terão acesso ao nome do cliente, o número do cartão de crédito ou o código de segurança.
Parece o tipo de coisa capaz de mudar a maneira como as pessoas fazem compras porque adiciona algo que todo consumidor adora – uma dose extra de conveniência. Para se firmar, porém, a Apple tem muitos desafios a superar. Um deles é garantir que o sistema seja, de fato, tão seguro quanto seus criadores sugerem ser. Com os hackers cada vez mais ousados, qualquer vazamento de dados pode afastar o consumidor desse tipo de tecnologia durante muito tempo.
A companhia inaugurou o serviço com o apoio das três grandes bandeiras de cartão de crédito – Visa, MasterCard e American Express – e instituições como Bank of America, Chase e Citibank. Mas é do lado dos varejistas que a Apple terá de trabalhar mais arduamente em princípio. O número de companhias que aderiram ao serviço até agora é restrito, apesar de contar com marcas como Bloomingdale’s, Disney, Macy’s, McDonald’s e Sephora.
A questão é se os grupos de varejo vão permitir que a Apple explore sozinha esse novo campo. No fim de outubro, o “The New York Times” publicou uma reportagem segundo a qual companhias como Walmart, Best Buy e Gap não tinham intenção de aderir ao serviço da Apple porque participam de uma aliança para criar sua própria carteira digital, a MCX.
O ideal seria garantir a criação de um sistema único, que funcionasse em qualquer loja e não estivesse atrelado a uma ou outra companhia de tecnologia. Ou, pelo menos, que sistemas diversos conversassem entre si. Ninguém quer trocar uma carteira com inúmeros cartões por uma bolsa repleta de celulares.
Valor Econômico – SP