A pandemia do novo coronavírus trouxe impactos severos para o setor de food service e isso inclui as franquias do setor de alimentação. De acordo com estudo divulgado pela Associação Brasileira de Franchising (ABF), em parceria com a consultoria Galunion, o setor deve ter uma queda no faturamento de 26% em 2020. Os dados foram apresentados durante a ABF Franchising Week Digital, que ocorre nesta semana.
De acordo com o vice-presidente da ABF, Antonio Moreira Leite, mesmo com a perspectiva de um resultado negativo, o número é inferior ao que tem sido projetado pelo setor de bares e restaurantes em geral: algo em torno de 35% de queda.
“Este melhor desempenho [que a média do setor de alimentação] certamente se deve à forte agenda de adaptação e digitalização implantada pelas franquias no período, sendo que nosso estudo aponta os principais caminhos adotados”, afirma.
A pesquisa foi respondida por 85 marcas, que representam R$ 20,6 bilhões e têm cerca de 15 mil lojas. O balanço até o momento é de 7% de unidades fechadas definitivamente, com impacto de 24% no faturamento e encerramento de 13% de redes. Cerca de 78% das franqueadoras respondentes tiveram queda no faturamento. Destas, 19,8% registraram perdas entre 50% e 40%.
Uma das redes que participaram do painel foi o McDonald’s Brasil, que optou por fechar os restaurantes antes mesmo das determinações governamentais. De acordo com o presidente nacional da marca, Paulo Camargo, a decisão foi baseada no movimento que outros países já vinham tendo em relação à pandemia.
No primeiro trimestre, a marca registrou uma queda de 6% no faturamento, que subiu para 50% no trimestre seguinte. No entanto, o McDonald’s conseguiu aproveitar o momento para acelerar o atendimento digital. “Em três meses fizemos coisas que demorariam três anos”, comentou Camargo.
As pesquisas encomendadas pela rede de fast-food mostraram que o cliente queria maior controle sobre a jornada de consumo. Com isso, as alterações passaram pelo aprimoramento do aplicativo da rede, que permite pedir refeições sem fila, e também no atendimento via WhatsApp. “A grande sacada não é inovar por inovar, mas agregar valor ao que já agrega valor à marca. É o que fará chegar mais próximo do cliente e possibilitará conversar com ele”, afirma.
Ainda de acordo com a pesquisa da ABF e Galunion, o delivery dobrou a importância no faturamento das empresas. Passou de 18%, em 2019, para 36%.
Os serviços de terceiros para a entrega (last mile), como os aplicativos de marketplace, passaram de 71% para 78%, mas o maior crescimento foi verificado em delivery próprio, que passou de 31% para 44%. Entre os aplicativos de terceiros, o líder é o iFood, com 62%, seguido diretamente pelo delivery próprio, com 32%.
O delivery próprio já responde por 23% do faturamento das unidades. Na visão do vice-presidente da ABF, a dependência de plataformas terceirizadas era muito presente no pré-pandemia, mas já existe um debate sobre a independência das empresas. “É um sentimento sobre alternativas complementares e não excludentes. As marcas devem desenvolver canais próprios de venda para continuar a ter a propriedade dos dados da própria audiência”, comenta.
De fato, essa foi uma preocupação percebida pela pesquisa. Os franqueadores mencionaram que, entre 2020 e 2021, pretendem investir em tecnologias como captura de dados sobre o comportamento do consumidor, gestão do negócio e da rede e soluções tecnológicas na cozinha.
O delivery foi adotado em 2020 por 73% das redes de franquias de alimentação, seguido de take away (56%), grab’n’go (32%), drive-thru (23%) e vendas no varejo (20%). Também foram citados o catering (15%) e venda por assinatura (11%). “Fora as duas primeiras opções, as demais têm porcentagens ainda baixas, o que mostra um grande potencial a ser explorado”, analisa Simone.
Pontos de venda que priorizam o delivery também marcam os novos modelos alternativos para expansão. Cerca de 45% pretendem apostar em dark kitchens, 33% em lojas com menu reduzidos e 30% em pontos de venda avançados.
Rodrigo Barros, CEO do Boali, falou sobre como a rede já vem se adaptando às diferentes jornadas de consumo do cliente, desde o ano passado. Em janeiro deste ano, a marca já teve um aumento de 5% no delivery e a pandemia acabou acelerando alguns planos. Entre eles, o lançamento de dois restaurantes virtuais, que funcionam dentro das cozinhas das próprias franquias.
A pesquisa também identificou que 43% das marcas se preocuparam com lançamento de produtos exclusivos para delivery durante 2020, mais que o dobro do ano passado. Itens para almoço (43%), lanche/snack (37%) e jantar (33%) predominaram.
As redes ainda disseram que 39% dos novos produtos são sazonais e 34% desenvolveram um cardápio exclusivo para o delivery. Itens saudáveis (23%) e vegetarianos (18%) também foram mencionados entre as inovações.
A comunicação com o consumidor na pandemia foi para dentro dos smartphones. O principal veículo foi o Instagram, com 82%, seguido do Facebook, com 67%, influenciadores, com 66% e WhatsApp, com 60%.
“Já vínhamos acompanhando esse movimento no dia a dia, mas o estudo deixou claro que as franquias abraçaram a mudança e já estão colhendo frutos. Não por acaso, identificamos inclusive redes que registraram aumentos no faturamento. Ficou claro também a importância de ter o cliente no foco das mudanças, da entrega final e o uso de dados para abordagens mais assertivas”, comenta o coordenador do comitê de food service da ABF, João Baptista Silva Junior.
A recuperação do faturamento é a principal preocupação das marcas, com 43% de menções, seguida da relação entre franqueados e franqueador durante a pandemia, com 32%, e manutenção do CMV, 25%. O repasse de unidades encerradas devido à pandemia foi mencionado por 17% dos respondentes.
Fonte: PEGN