07/11/2014
RAQUEL LANDIM
DE SÃO PAULO
Com as empresas brasileiras em dificuldades por causa da estagnação econômica e com o real mais desvalorizado, o apetite dos estrangeiros por ativos brasileiros nunca esteve tão alto.
A Advent, uma das maiores gestoras de fundos de “private equity”, obteve US$ 2,1 bilhões no exterior para comprar empresas na América Latina. É o maior fundo desse tipo já formado para aplicar na região e 60% do dinheiro deve vir para o Brasil.
Os fundos de “private equity” apostam em empresas em dificuldades, adquirindo participação e/ou fomentando fusões. Eles interferem na gestão das companhias e, alguns anos depois, vendem sua fatia para um sócio estratégico ou na Bolsa de Valores.
Outros gestores também captaram volumes signifi- cativos de recursos recentemente. A Gavea Investimentos e o americano Carlyle conseguiram levantar, respectivamente, US$ 1 bilhão e US$ 200 milhões.
Os fundos de “private equity” vão ganhar espaço no Brasil porque as empresas hoje têm menos alternativas de financiamento. O crédito bancário mingou, e as ações estão em queda na Bolsa.
As empresas também estão precisando de recursos, porque viram seus lucros diminuir, e suas dívidas, aumentar. Nessa situação, os ativos ficam mais baratos.
De acordo com Patrice Etlin, principal sócio da Advent no Brasil, o fundo foi fechado em apenas seis meses e acabou deixando de fora muitos investidores que queriam aplicar recursos.
Mais da metade desse capital veio dos Estados Unidos (48%). O restante ficou dividido entre Europa (21%), Oriente Médio (12%), Ásia (12%) e América Latina (7%).
“Apesar das incertezas provocadas pelas eleições no Brasil, a demanda foi forte, porque a visão desses investidores é de longo prazo. Muitos são fundos de pensão e apostam no futuro do país nas próximas décadas”, diz.
LUCROS EXPRESSIVOS
Os lucros expressivos também são um chamariz para o investidor. Segundo levantamento do GVCepe (Centro de Estudos de Private Equity da Fundação Getulio Vargas), o retorno médio dos fundos de “private equity” é de 17,1% ao ano no Brasil.
O estudo também aponta que, em 86% dos casos, os fundos formados entre 2010 e 2012 venderam sua participação nas empresas por 3,4 vezes mais do que o valor que pagaram inicialmente.
“Essas taxas são quase duas vezes superiores aos melhores retornos dos fundos nos EUA”, disse Cláudio Furtado, diretor do GVCepe.
A Advent, por exemplo, gastou R$ 580 milhões na compra da Cetip (registro de títulos) e da Kroton (educação). Depois de quatro anos, vendeu sua fatia nesses negócios por R$ 5,8 bilhões.
Folha de S. Paulo – SP