06/11/2014
VALDO CRUZ
MARIANA HAUBERT
DE BRASÍLIA
A presidente Dilma Rousseff disse nesta quarta (5) que deixará o anúncio de seu novo ministro da Fazenda para depois do encontro do G20 (grupo dos 20 países mais ricos), nos dias 15 de 16.
A decisão preocupa conselheiros e assessores da presidente. A avaliação é que o ideal seria Dilma ir para a Austrália levando na comitiva o novo comandante da Fazenda, que teria na cúpula o palco ideal para dar as primeiras sinalizações de correções na política econômica.
Além disso, interlocutores da presidente consideram um erro a atual equipe econômica elaborar um pacote fiscal para reequilibrar as contas públicas, já encomendado por ela ao ministro Guido Mantega, que será implementado por seu substituto.
Dilma oficializou o que vinha dizendo a assessores nos bastidores. Indagada por jornalistas nesta quarta se anunciaria o novo ministro antes de sua viagem à Austrália, Dilma respondeu que “não”.
Em seguida, ela foi questionada sobre se iria anunciar só o nome da Fazenda ou todos os novos ministros. Respondeu que seria “por partes”.
“Não escolhi ainda”, disse, acrescentando que as definições de nomes ficariam para quando voltasse.
Conselheiros da petista dizem compreender a homenagem dela a Mantega, ao levá-lo ao encontro do G20, mas argumentam que o ministro já não tem “mensagem” à comunidade internacional. Um assessor afirma que “todo o mundo”, aqui e fora, quer saber o novo nome e ouvir o que tem a dizer o futuro ministro.
Interlocutores de Dilma dizem que, se o escolhido for o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, ele vai querer definir o pacote fiscal. Não tem sentido, diz um conselheiro, o ministro executar medidas do antecessor.
LULA
Meirelles continua sendo o nome preferido do ex-presidente Lula para a Fazenda. O petista apoia ainda outros dois nomes: Nelson Barbosa, ex-secretário-executivo da Fazenda, e Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, que sinalizou não querer deixar o atual emprego.
Barbosa é visto como o nome que mais agrada ao PT e indicaria um ajuste gradual na política econômica. Meirelles, porém, é considerado por Lula o nome ideal para o momento. A definição do ministro foi tema da conversa de quase seis horas de Dilma e Lula, na terça em Brasília.
Nesta quarta, assessores diziam que nenhuma definição fora tomada no encontro na Granja do Torto, o que acabou confirmado por Dilma.
Na avaliação da equipe presidencial, Dilma reconhece o momento delicado da economia, mas pretende fazer correções sem provocar desemprego nem cortar programas sociais, com ajustes de médio e longo prazos.
Assessores afirmam que uma nova política econômica baseada só em ajuste fiscal não funcionará e citam a Europa como exemplo de falta de resultados do aperto.
Mercadante nega alta de tributos para ajustar contas
DE BRASÍLIA
O ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) disse que o governo não aumentará tributos para pôr as contas públicas em ordem.
Segundo ele, o governo deve, sim, cortar gastos. “Dá para cortar sempre. Corte em gasto público é que nem cortar cabelo, tem que ir, sentar no barbeiro e cortar. Sempre tem o que cortar. O que não dá para fazer é um corte drástico que imponha uma trajetória recessiva. Temos que manter renda e emprego.”
Mercadante afirmou que áreas sociais, como educação, devem ser poupadas e não indicou onde o governo deve passar a tesoura.
O ministro, que participou da abertura do Encontro Nacional da Indústria, da CNI, falou que a oposição no Congresso deve aprovar as alterações da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), com nova meta para o resultado fiscal de 2014, que o governo deve enviar nos próximos dias por não cumprimento da meta de poupança para reduzir a dívida pública.
“Temos que reduzir superavit primário e fazer política anticíclica, fizemos uma escolha. Espero que o Congresso entenda.”
Folha de S. Paulo – SP