04/11/2014 às 05h00
Por Vanessa Barone | Para o Valor, de São Paulo
Aos 20 anos, a vida está só começando. Mesmo que alguma experiência já tenha sido adquirida, o futuro é um campo vasto para o aprimoramento ou para a correção de rotas. E é nesse clima que a São Paulo Fashion Week chega ao fim de duas décadas de existência, durante as quais ajudou a transformar a moda em um ativo cultural e comportamental do país. “É hora de enxergar novas perspectivas, de olhar para a moda não apenas como um desejo de consumo, mas como uma importante atividade da indústria criativa”, diz Paulo Borges, idealizador e diretor-geral do evento, que segue até o fim desta semana no Parque Villa-Lobos, em São Paulo.
A edição de outono-inverno 2015 marca o início das comemorações de 20 anos da SPFW, que seguirão ao longo de 2015 com a realização de exposições e de eventos especiais. Nesta temporada, novas marcas, como a Llas e a Apartamento 03, dividem espaço com veteranas, como Ellus, Iódice e Gloria Coelho. Criada pelas irmãs estilistas Laura e Lorena Andrade, a Llas foi a marca vencedora da 1ª edição do Movimento HotSpot, que premia jovens estilistas. Como prêmio, a dupla ganhou uma vaga no evento e um contrato com a Riachuelo, para desenvolver uma coleção especial. No desfile marcado para a noite de sexta-feira, a Llas vai exibir peças próprias e da coleção desenhada para a Riachuelo. “Fazemos questão de ter essa mistura entre grifes estabelecidas e jovens estilistas”, diz Borges. “Dessa forma, conseguimos ter um evento plural”.
Esta edição da SPFW terá, também, algumas marcas que migraram do Fashion Rio (que vai pular a edição de inverno 2015), caso da Patrícia Vieira e da Sacada. A semana terá a participação de duas estrelas da moda internacional. Stella McCartney vem a São Paulo na quarta-feira lançar a sua segunda coleção em parceria com a C&A. Já Donatella Versace apresenta, na quinta-feira, o desfile de sua linha assinada junto com a Riachuelo.
Ao final de um ano conturbado – com Copa do Mundo e eleições presidenciais -, o clima do setor é de esperança por melhores dias. E não deveria ser diferente, na opinião do organizador do calendário da moda nacional. “O varejo está forte, a moda ainda cresce e temos um vasto mercado interno para explorar”, diz Paulo Borges. Mesmo com desafios pelo caminho, é hora de incentivar esse setor a olhar para frente.
Obviamente, isso inclui a aceitação dos desafios desse novo tempo – em que o varejo de moda é cada vez mais dominado pelo fast fashion e por marcas globais. Entre os mais importantes, está o de construir marcas brasileiras sólidas – que possam ser reconhecidas aqui e no exterior. Porque se criar moda é algo relativamente fácil, criar desejo não. “Cada vez mais, as pessoas consomem aquilo que elas admiram”, diz Borges. É urgente, portanto, construir marcas admiráveis.
O processo de construção de marca, diz o diretor da SPFW, passa por uma comunicação efetiva com o consumidor. “E o desfile é uma excelente maneira de promover esse diálogo”, afirma Borges. “Para algumas empresas, ela é a única”. Daí a importância dessa ferramenta de marketing.
De acordo com o diretor da SPFW, para além do marketing, é o momento de valorizar a vocação da moda nacional. Nesse quesito, estão incluído os setores de jeanswear e de moda praia, que já mostraram a sua força. A moda feita com técnicas artesanais, ainda forte no Brasil, é outro ativo importante como diferencial de estilo – principalmente aos olhos do consumidor estrangeiro. E é dessa forma, olhando ora para dentro, ora para fora, que a moda brasileira segue o seu caminho – rumo a muitos anos de vida.
Valor Econômico – SP