Locação de lojas e estoque estão sobre a mesa, enquanto editoras discutem ajustes no plano de recuperação judicial
A rede de livrarias Saraiva está em conversas com seus credores para avançar na venda de parte de sua operação (contratos de locação e estoques consignados) por até R$ 380 milhões. A assembleia para deliberar sobre a questão ocorre na próxima terça-feira. Editoras de livros fazem parte de grupo de credores a quem foi aberta a possibilidade de apresentar ofertas à varejista.
O Valor apurou que, nas últimas semanas, as partes estiveram ajustando pontos da quinta versão do plano de recuperação judicial, finalizada em julho e que incluía a venda de ativos para quitar as dívidas. Um dos pontos em questão é alterar condições do uso de créditos em aberto das editoras para adquirir alguns dos bens.
A Saraiva teve o seu pedido de recuperação homologado em setembro de 2019 e tem R$ 595 milhões em saldo a pagar a credores, sendo R$ 530 milhões relativos ao plano de recuperação.
Pela nova versão encaminhada aos credores em julho, a Saraiva separou seus negócios em dois grupos. Apenas um lote será vendido a quem apresentar a melhor proposta, em leilão cuja data ainda será marcada.
No pacote estão contratos de locação de lojas em shoppings (com transferência do contrato ao comprador), os estoques de produtos consignados e os acordos de locação de área (chamada “store in store”).
Trata-se de um volume pequeno de ativos comparado ao que a empresa tinha quando teve o pedido homologado em 2019.
As lojas, por exemplo, não são próprias e parte dos estoques já foi devolvida às editoras, que pleitearam a devolução na Justiça. Mas há uma tentativa de se buscar um acordo com o que está sobre a mesa.
No primeiro lote estão 41 contratos de locação de lojas (e estoques dessas lojas) por um valor mínimo de R$ 301 milhões e um preço alvo de R$ 376 milhões. Preço-alvo indica proposta com potencial para ser fechada. Contratos de trabalho também serão transferidos.
O segundo lote tem 44 unidades, por preço mínimo de R$ 277 milhões e preço-alvo de R$ 346 milhões. Há unidades que se repetem nos dois grupos de ativos. A Saraiva tem 57 lojas, com vendas mensais de R$ 12,5 milhões, cerca de um quarto do valor do faturado há um ano. O lote que não for vendido continuará com a família Saraiva, controladora da companhia, que não pôs a marca à venda.
É possível que valores e condições de pagamento mudem até a próxima assembleia, disse uma fonte a par do assunto – a primeira convocação é no dia 1º de setembro e a segunda, no dia 9. Um dos aspectos que pode mudar trata do pagamento, caso a oferta seja de credores, e do conteúdo dos dois grupos de ativos.
Pelo que foi definido na versão do plano de recuperação judicial, em julho, a empresa aceitou receber créditos como parte de pagamento desde que houvesse uma espécie de desconto nesse crédito. Atualmente, as conversas caminham para uma mudança nessa relação, mais favorável aos credores, disse a fonte.
Outro ponto trata do prazo de pagamento das dívidas com o dinheiro da venda dos ativos. Mesmo que uma editora faça alguma proposta, é preciso pagar todos os credores.
Pelo plano apresentado em julho, os credores sem garantia terminariam de ser pagos em 2051 se o lote 1 for vendido, e em 2048 se for o lote 2 – um período muito longo, na opinião de alguns credores.
Os descontos sobre a dívida, acertados em 2019 entre as partes, continuam válidos. A família Saraiva controla a empresa, com 58% das ações ON. José Saraiva Neto é o presidente da companhia.
Fonte: Valor Econômico