Painel no Seminário Digital BTR-Varese mostra que é possível internacionalizar o varejo brasileiro por meio do e-commerce cross border
O varejo online chinês é uma oportunidade de US$ 2 trilhões e os produtos brasileiros se beneficiam em todo o mundo de uma visão positiva que o mundo tem sobre o país. Então por que, afinal de contas, existem tão poucas marcas de varejo com presença internacional? Um painel no Seminário Digital “China pós Covid-19: o papel da Inovação e Ecossistemas” trouxe várias respostas.
“A China é um mercado muito aberto a marcas internacionais e é o segundo maior do mundo no franchising, com 4.368 franqueadores e mais de 400 mil lojas”, enumera André Friedheim, presidente da Associação Brasileira de Franchising (ABF). No entanto, há somente três franquias brasileiras no país: Ronaldo Academy, Vip Dental Clinic e Oak Berry.
Para Friedheim, ao mesmo tempo em que questões como câmbio, investimentos e cultura local dificultam a ida ao exterior (não somente à China, mas à maioria dos mercados internacionais), o Brasil é um mercado imenso. “A soma desses fatores desestimula a internacionalização das nossas marcas, mas é um caminho que deveria ser buscado, porque pode trazer resultados muito interessantes”, comenta.
O Grupo Boticário, que desde 1986, com investimentos em Portugal, enxerga fora do Brasil, levanta outras barreiras. “Não é porque você conhece o consumidor brasileiro e tem sucesso aqui que vai ter sucesso lá fora. Além disso, existem trâmites relacionados ao registro das marcas e à questão sanitária de cada país, por exemplo, que são complexas e caras”, afirma Artur Grynbaum, presidente do Grupo. Modelos tradicionais de expansão internacional são caros e exigem aportes constantes, o que leva as empresas a conseguir operar no azul somente depois de muito tempo. “Precisa ter resiliência, insistência e caixa para aguentar”, comenta.
Como se não bastasse, o Brasil não é reconhecido internacionalmente pela exportação de varejo. “Somos muito conhecidos por commodities, mas precisamos explicar nossos produtos sempre que vamos para fora do país. O Brasil tem o label de lifestyle, não o de produto. É algo que precisamos melhorar”, diz.
Para Cris Franco, ex-presidente da ABF e conselheira da Calçados Bibi, a ida das marcas brasileiras para o exterior é um trabalho de evangelização. “Nossa vida tem que ser no mundo todo, não só no Brasil”, defende. Nesse sentido, modelos de e-commerce cross border em que é possível exportar diretamente do Brasil sem contar com uma presença física em outro país trazem vários benefícios. “Diminui muito não só o custo da operação, com também uma série de burocracias que para nós poderiam ser muito complicadas, mas que parceiros locais resolvem com mais facilidade”, avalia. “Com planejamento, foco, time dedicado e esforço, não somente é possível, como é uma oportunidade interessante para as marcas brasileiras”, acredita.
Rafa Forte, presidente da VTEX, é um defensor do cross border para o exterior. “É uma forma barata e eficiente de testar mercados. Em um modelo tradicional, é preciso analisar com muito cuidado a estratégia de mercado, os produtos, o canal, o marketing, a logística, as questões fiscais… No cross border, existem players focados em fazer tudo isso para você, o que permite começar pequeno, ir testando o mercado sem investir pesado”, afirma.
Para o executivo, uma grande vantagem de operar internacionalmente é o aumento da margem. “Um produto que você vende a R$ 50 no Brasil pode ser vendido por 50 euros lá fora, porque existe receptividade para o produto, explica. E a China não é o único destino internacional, por sinal. “Vejo gente no Sul tendo problema para vender no Nordeste, e poderia vender nos países do Mercosul, por exemplo. É preciso quebrar o paradigma de que primeiro é preciso conquistar o Brasil para depois se internacionalizar”, completa.
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