Fundado na Argentina ainda no século passado, o Mercado Livre é hoje a empresa mais valiosa da América Latina. No começo de agosto, a companhia ultrapassou Vale, Petrobras e Itaú Unibanco, de acordo com levantamento da Economatica. A empresa vale 61,44 bilhões de dólares, em grande parte, devido ao aumento expressivo de vendas no segundo trimestre deste ano, 123,4% em relação ao mesmo período em 2019.
Para Julia Rueff, diretora de marketplace no Mercado Livre, a empresa estava preparada para a quarentena do novo coronavírus que causou aumento de vendas no comércio eletrônico. “A construção ao longo dos anos, trimestre a trimestre, tem mais a ver com o momento de virar a empresa mais valiosa da região do que com o contexto da pandemia”, diz. Leia, a seguir, a entrevista com Rueff.
Como o Mercado Livre lidou com o aumento do volume de vendas no e-commerce em 2020?
Por vários fatores, não chegamos sem planejamento a uma pandemia. O Mercado Livre tem 21 anos de existência e, nesse tempo, criamos uma malha logística com capacidade grande absorver um aumento repentino de volume de vendas. Isso permitiu que a gente conseguisse lidar com a alta da demanda na quarentena. Somos um ecossistema completo, com o MercadoPago e o MercadoEnvios. Nossa plataforma é robusta e permitiu parcelamento de compras para consumidores e oferta de crédito para capital de giro para vendedores. Foram muitos anos de preparação para um futuro mercado de e-commerce muito maior do que o anterior e fomos colocados à prova. E deu certo.
Houve aumento de novos vendedores durante a quarentena?
A pandemia acelerou a digitalização do comércio para vendedores e compradores. Quem tinha resistência mudou a mentalidade rapidamente. O Mercado Livre, por ser líder de e-commerce, tem a maior plataforma em termos de vendedores e produtos. Atingimos 11 milhões de vendedores no segundo trimestre de 2020.
Por que vocês aumentaram a oferta de capital de giro para empreendedores?
No Mercado créditos, oferecemos crédito tanto para compradores quanto para vendedores. É ele que oferece a opção de parcelamento sem o cartão de crédito. Para o vendedor, conhecemos o potencial de venda dos vendedores e oferecemos crédito de capital de giro para eles. A pandemia enxugou o crédito no mercado. Nós fizemos o contrário e oferecemos mais de 600 milhões de credito na pandemia, tanto no Brasil quanto na América Latina.
Como a empresa lidou com a entrega dos produtos vendidos, que é um dos principais gargalos do comércio eletrônico de alto volume?
No segundo trimestre, entregamos 157 milhões de produtos por meio do Mercado Envios, nossa área de logística. Foi um crescimento de 123,4% de entregas. A nossa logística própria ultrapassou penetração de 50%. Apesar de o volume de pedidos ter sido maior, tivemos recorde de satisfação do consumidor. Isso foi possível porque temos três centros de distribuição, nos quais armazenamentos produtos de vendedores. Eles nos permitem entregar em até 24h em seis cidades no Brasil.
Quais categorias tiveram maior volume de vendas na pandemia?
O setor que eu mais destacaria seria o de produtos de supermercado e necessidades básicas. Fizemos o lançamento da nossa área de supermercados no Mercado Livre, que é diferente das demais áreas. Chama-se SuperMercado Livre. Os produtos saem de um único lugar e são mais de 30 mil itens entregues para todo o Brasil. Trabalhamos com marcas como Danone, Unilever, Heineken, Johnson & Johnson, entre outras. Lançamos um processo de navegação intuitivo e fácil, combinado com entregas rápidas. Foi uma conjunção de aumento de interesse desse por esses produtos. Tivemos um crescimento 300% em saúde e 164% em bens de consumo e alimentos. O supermercado é uma categoria que traz muitos novos compradores online. Houve aumento de 5 milhões de novos no Mercado Livre. Só no Brasil, foram 2,6 milhões de novos compradores. No total, a nossa área de supermercado hoje tem mais de 3,5 milhões de compradores. Fora isso, produtos para casa tiveram aumento de mais de 80% e aparelhos de exercícios também tiveram vendas acima de 60% do nível pré-pandemia. Artigos para home office, computação e móveis de escritório também venderam acima do normal.
As vendas da empresa estão mais concentradas no celular ou no computador?
Elas acontecem mais no celular. 69% das nossas vendas são feitas por meio do celular, seja pelo aplicativo ou pelo site. Um em cada três usuários de celulares no Brasil tem o app do Mercado Livre instalado. Houve um crescimento de 272% nas vendas via smartphone nos últimos doze meses. Isso demonstra uma mudança importante no comportamento do consumidor.
O Mercado Livre se tornou a empresa mais valiosa da América Latina. Como a empresa chegou ao topo?
Isso é resultado de uma construção de longo prazo. Sempre mantivemos os olhos no futuro e na satisfação do cliente. Isso se reflete trimestre a trimestre. A pandemia reforça a importância do e-commerce e mostra que ele pode ser ainda maior no futuro. A construção ao longo dos anos, trimestre a trimestre, tem mais a ver com o momento de virar a empresa mais valiosa da região do que com o contexto da pandemia.
Há uma disputa pela posição de “super app”, um único aplicativo que ofereça diversos produtos e serviços. O Mercado Livre almeja se tornar um “super app”?
Nosso aplicativo tem a missão de oferecer ao cliente qualquer coisa que ele queira comprar. Não temos ambição de ser um app onde ele encontre serviços que desviem desse foco. Essa estratégia é acertada porque nosso aplicativo é visto como um destino de compras. Essa é a missão que temos para o nosso aplicativo.
Quais são os próximos passos do Mercado Livre em 2020?
Vamos continuar a fazer melhorias de usabilidade e navegação no nosso aplicativo, sempre mantendo um foco muito grande em entregar os produtos rapidamente ao consumidor em todo o Brasil.
Fonte: Exame