30/10/2014
Por Tony Barber | Financial Times
Assim como nas melhores equipes de futebol da Espanha, os principais ingredientes do sucesso da Inditex, dona da rede de vestuário Zara, são a velocidade, a criatividade e a atenção na finalização. E da mesma forma que as táticas do Barcelona ou Real Madrid variam um pouco de temporada a temporada, a maior varejista mundial de moda em valor de mercado também introduz mudanças sutis, mas importantes, para manter-se na liderança.
Um dos exemplos mais recentes e esclarecedores disso foi o lançamento pela Inditex, em 13 de outubro, de uma loja na internet para sua marca principal Zara dentro do Tmall, um site de comércio eletrônico chinês controlado pelo grupo Alibaba. Superficialmente, pareceria ser apenas uma decisão comercial rotineira. Nada mais enganador. A China é um mercado crucial para a Inditex, não apenas pelos milhões de consumidores cada vez mais preocupados em estar na moda. Para as empresas ocidentais, a China evoluiu a ponto de tornar-se uma espécie de laboratório para descobrir a forma mais lucrativa de explorar o apetite por vendas de roupas on-line – um mercado que começa a decolar, mas que ainda está a anos de distância de seu potencial máximo.
Com exceção da Espanha, que representa pouco menos de 20% da receita mundial, a Inditex não divulga as vendas separadamente por país. Sabe-se, no entanto, a partir do balanço semestral do grupo, divulgado em meados de setembro, que a Ásia agora é fonte de 21,7% das vendas globais. Analistas setoriais estimam que a China pode representar cerca de 8%.
Para a Inditex, recorrer à Tmall tem um preço. A unidade do Alibaba fica com algo entre 0,5% e 5% de cada venda da empresa no site. Mas se a Inditex é princesa entre as varejistas de moda nos bulevares mais glamorosos mundo, o Alibaba é o imperador inconteste do comércio eletrônico na China. Aliar-se à Tmall é uma forma de reconhecer a realidade da força do poder da China na internet.
O grupo espanhol informa não ter planos para fechar a zara.cn, a loja virtual aberta na China há dois anos. Na prática, no entanto, a Inditex admitiu o que os blogueiros chineses vêm dizendo há meses: as roupas da Zara são muito populares na China, mas a zara.cn é quase invisível perto da Tmall.
Faz sentido, portanto, que a Inditex se curve em reverência ao inevitável e deixe a Zara juntar-se a Burberry, Calvin Klein, Gap e outros grupos de moda ocidentais já presentes na plataforma Tmall. Afinal, a subsidiária do Alibaba controla cerca da metade do mercado on-line na China entre empresas e consumidores. Conta com mais de 100 mil marcas, incluindo 2 mil estrangeiras. Pull & Bear e Bershka, duas marcas menores da Inditex, já estavam hospedadas na Tmall. A verdade crua é que as grandes empresas estrangeiras que se empenham em progredir na China sem a ajuda da Tmall – como a Hennes & Mauritz (H&M), rival sueca da Inditex – são parte de um grupo cada vez menor.
O ponto principal, que não passou desapercebido para os executivos da Inditex, é o fato de o comércio eletrônico da China ter saído da obscuridade para tornar-se o segundo maior do mundo em vendas, atrás do americano, em apenas seis anos. Segundo alguns especialistas setoriais, o mercado chinês de roupas na internet vai somar US$ 100 bilhões em vendas neste ano, 40% a mais do que o montante registrado em 2013.
O comércio de roupas corresponde a mais de 20% das vendas on-line totais na China. Como muitos milhões de chineses de poder aquisitivo mais baixo ainda nem começaram a comprar produtos pela internet, há muitos motivos para acreditar que as compras on-line de roupas vão continuar em expansão, acompanhando o crescimento da renda e o avanço da conectividade à internet.
A tendência de aceleração nas vendas pela internet na China, e no mundo, exigiu que a Inditex não abandonasse seu modelo de negócios, mas que o ajustasse, depois de conduzir as amplas pesquisas de mercado pelas quais a varejista é famosa.
Depois de sua fundação em 1975, a Inditex voltou o foco para a abertura de grandes lojas em endereços prestigiados pelo mundo. Até certo ponto, a prática continua: entre as recentes inaugurações estão as lojas na Queen’s Road, em Hong Kong, na Lincoln Road, em Miami, e na Bahnhofstrasse, em Zurique. Em contraste, as vendas da Inditex pela internet eram insignificantes até quatro anos atrás.
A empresa atualmente tem 6.460 lojas em 88 países – e 456 delas estão na China. A maior ênfase na internet, no entanto, ficou evidente desde 2012 e a Inditex agora tem operações on-line em 27 países, sendo o México e a Coreia do Sul os mais recentes.
O grupo espanhol divulga poucos dados sobre suas operações na internet, mas analistas estimam que as vendas on-line em 2012 chegavam a 2,5% das vendas totais. O acordo com a Tmall e outros pequenos ajustes em seu modelo de negócios sinalizam uma guinada da Inditex para o mundo on-line e uma maior rentabilidade. (Tradução de Sabino Ahumada)
Valor Econômico – SP