Maior rede de fast food do País, com 1.026 restaurantes que recebiam, em média, 2 milhões de clientes ao dia, o McDonald’s se prepara para a reabertura ao público com metade das mesas vetadas aos clientes para garantir o distanciamento social e cardápio com 30% menos opções em relação ao oferecido antes da pandemia do coronavírus.
A volta do atendimento ao público nos salões, interrompido há exatos 100 dias, está prevista para 6 de julho, data anunciada pelo governo de São Paulo para restaurantes e bares reabrirem as portas na capital paulista, ainda com algumas restrições. A capital paulista é o maior mercado do McDonald’s, mas a rede afirma que seguirá as diretrizes da Prefeitura de São Paulo.
A cadeia de fast food retomará atividades em situação menos vulnerável em relação a maioria dos estabelecimentos que, durante a quarentena, ficaram sem dinheiro em caixa. As vendas pelos sistemas drive-thru e delivery cresceram 50% e 150%, respectivamente, e deram ao grupo fôlego para enfrentar o período de fechamento a partir de 23 de março.
“Sofremos do mesmo jeito que todos, tivemos dificuldade em pagar as contas, tivemos de renegociar com fornecedores, mas com o drive-thru, o delivery e algumas lojas atendendo o público com venda para viagem conseguimos equilibrar as contas e em maio já estávamos estabilizados”, afirma Paulo Camargo, presidente da divisão Brasil da Arcos Dorados, franquia independente do McDonald’s e dona de 60% dos restaurantes do País. Os demais são franqueados da empresa.
O grupo também conseguiu manter a mão de obra utilizando a MP 936, que permite a suspensão temporária de contratos e redução de jornada e salário. Dos 50 mil funcionários da rede, mais de 30 mil são contratados diretos da Arcos Dorados.
Até agora, informa Camargo, não houve corte de pessoal da Arcos Dourados e a manutenção do quadro vai depender da retomada dos negócios. A maioria dos funcionários teve jornada e salários reduzidos em 50%. O próprio executivo teve seu salário cortado à metade por seis meses e os diretores por três meses.
Camargo informa que a rede registrou bons resultados no Brasil em 2019, aumentou a rentabilidade e ganhou participação de mercado, ampliando a distância entre os concorrentes. No primeiro bimestre deste ano registrou crescimento de 7,9% nas vendas em relação a igual período do ano passado. Aí veio a crise da covid-19 e os negócios despencaram 32,5% em março.
Com isso, no acumulado do primeiro trimestre as vendas no mercado brasileiro tiveram queda de 6% comparadas ao mesmo período de 2019. O Ebtida (lucro antes de impostos, depreciação, juros e amortização) recuou 31,6% no período. A Arcos Dorados não divulga dados locais de lucro líquido por trimestre. Globalmente, a rede McDonald’s – também a maior do mundo –, teve queda de 17% no lucro líquido e de 6% na receita.
Pesquisa nacional feita pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) no mês passado concluiu que o faturamento do setor caiu mais de 75% para 64% das empresas. Entre os 1.558 empresários pesquisados, 62% disseram que estão com dificuldades para repor estoques para a reabertura. Segundo a entidade, só no Estado de São Paulo 20% do setor – cerca de 50 mil estabelecimentos – fecharam as portas.
Volta mais enxuta
No período de quarentena, a rede enxugou o cardápio em 30%, retirando opções de menor demanda, e essa medida será mantida no retorno. Entre os itens que não estarão disponíveis estão Egg Cheese Bacon, Big Tasty Chicken Bacon e alguns sabores de bebidas.
“A tradição da rede de todo mês lançar um novo produto, seja uma sobremesa, um sanduíche, um acompanhamento, uma mudança na batata agora não faz muito sentido”, diz Camargo. “É muito provável que esse enxugamento vá até o último trimestre. Se até lá as coisas começarem a voltar ao normal a gente reativa esses produtos e volta a ter lançamentos”, afirma ele. “A palavra de ordem agora é diminuir a complexidade”.
O McDonald’s vai seguir no Brasil os protocolos adotados nos demais países onde as lojas voltaram a funcionar. As mesas só poderão ser ocupadas de forma intercaladas. Vai ter demarcação nos pisos para que os clientes mantenham distância segura nas filas, haverá barreiras acrílicas no contato entre funcionário e cliente, maquininhas de pagamento e totens para pedidos serão higienizados após cada uso.
Também obrigatoriedade de máscaras de tecido e protetores faciais por parte de todos os funcionários. Boa parte dessas medidas já são adotadas nos serviço de drive-thru e vendas para viagem.
Abertura de portas com os pés
Medida já adotada nos EUA, de instalar um dispositivo em que as pessoas possam usar os pés para abrir as portas está sendo testada, informa Camargo. Álcool gel estará disponível em vários locais e mesas e cadeiras serão higienizadas após a saída de cada cliente. O intervalo de limpeza dos restaurantes, antes a cada meia hora, vai ser reduzido para 15 minutos ou em menor tempo, se necessário.
Para entender melhor o que os consumidores buscam, o McDonald’s tem realizado pesquisas constantes com clientes. A medição mais recente, realizada entre 12 e 14 de junho com mais de 3,5 mil pessoas indicou que 92% dos entrevistados estão preocupadas ou muito preocupadas com temas relacionados à covid-19.
Perguntadas sobre o critério mais importante na escolha de um lugar para comer após a crise, 41% consideram limpeza e higiene o ponto decisivo e 64% reconhecem o McDonald’s como a rede em que mais confiam no que diz respeito à segurança, higiene e cuidados com a saúde.
O executivo afirma que, atualmente, cerca de 85% dos restaurantes da rede operam de alguma forma com delivery, drive-thru ou com pedidos para viagem). “No início da pandemia era metade”. A maioria dos estabelecimentos totalmente parados são aqueles instalados em shopping centers. Mesmo em cidades onde o funcionamento foi liberado muitos concluíram que não valia a pena abrir por apenas quatro horas, horário estabelecido em vários locais.
“No nosso planejamento, no último trimestre as coisas já devem estar melhor, embora num patamar ainda baixo, mas voltando a se normalizar, prevê o presidente do McDonald’s. Ele acha que haverá mudanças no consumidor, muitos vão continuar fazendo compras online, mas não acredita que o brasileiro, “considerado um povo caloroso”, vá mudar completamente seus costumes. A retomada, afirma, vai depender do sucesso das autoridades da saúde no combate ao vírus e à chegada de uma vacina.
Ações na pandemia
No período da pandemia, o McDonald’s criou curso on line para pequenos empresários para mostrar o que a rede tem e recomenda em termos de higiene e limpeza. Recebeu 2 mil inscrições, informa Camargo. Outro curso em parceria com uma empresa de tecnologia, ofereceu aulas de informática aos funcionários, familiares e amigos, ambos gratuitos.
A rede distribuiu, até agora, mais de 71 mil combos (normalmente inclui sanduíche, refrigerante e batata frita) para trabalhadores da área da saúde, moradores de rua e motoristas de caminhões, entre outros. A meta é entregar 100 mil combos, num custo total de R$ 2,5 milhões. Também fez doações de 50 toneladas de produtos in natura (carne, pão, queijo, ovos, batata, alface e tomate) ONGs que repassam para pessoas necessitadas.
Fonte: Estadão