28/10/2014
Por Adriana Mattos | De São Paulo
As duas maiores redes de material de construção e decoração dos Estados Unidos, Home Depot e Lowe’s, têm interesse em entrar no mercado brasileiro, mas há entraves que impedem um avanço mais acelerado nos planos, segundo fontes do setor que estiveram em contato com as cadeias neste ano.
Parte dos obstáculos está fora do Brasil: para a Home Depot, o baque do fracasso da rede na China – a cadeia americana fechou as lojas que tinha naquele país em 2012 – ainda pesa na decisão de ir a um novo mercado emergente de imediato. Já a Lowe’s, segundo fontes próximas à rede, sabe que precisa buscar novas receitas no exterior, mas o mercado americano ainda requer um volume de investimentos significativo no curto prazo.
Por isso, a decisão da Lowe’s de entrar no Brasil depende da localização de ativos cujo preço não comprometa sua capacidade de investir lá fora. Segundo fontes do setor, a companhia está analisando aquisições de redes regionais no país há pelo menos três meses e contratou a assessoria do Goldman Sachs para buscar ativos no Sul e no Sudeste. A intenção é comprar uma rede, em vez de investir na construção de lojas do zero, para iniciar a operação no país com um volume maior de vendas.
“Há anos, eles vêm, olham e vão embora. Hoje, eles falam que Brasil fica para após 2015. Pode ter a ver também com esse momento de indefinição política”, diz uma fonte de uma rede brasileira de material de construção. Procurada, a Lowe’s informa que não comenta rumores. Em 2013, a empresa apurou vendas de US$ 53,4 bilhões e somava 1,8 mil pontos de venda.
Em 2013, executivos da Home Depot, com US$ 79 bilhões em vendas e 2,2 mil lojas, visitaram o país e estiveram em lojas e shoppings, aumentando as apostas sobre um anúncio de investimentos neste ano. Uma fonte do setor de shoppings, que esteve meses atrás com representantes da rede, diz que os erros cometidos na expansão da cadeia na China ainda repercutem internamente.
Em 2012, a Home Depot fechou as sete lojas que tinha naquele país, que exigiram investimentos de US$ 160 milhões. “Eles dizem que não dá para ignorar o Brasil por muito tempo, por isso mantém análises do mercado local para estar aqui a médio e longo prazo. Mas falam que não poderiam voltar a errar tão cedo num outro país emergente, que é preciso passar a ‘ressaca chinesa'”, conta a fonte. A rede não se manifestou.
Com forte presença de redes regionais, o que abre espaço para consolidação, o varejo de material de construção resiste a uma concentração maior, em parte, pelos altos custos – reflexo de elevados impostos de importação e sistema tributário considerado complexo pelas redes. Isso dificulta a reprodução do modelo de lojas “faça você mesmo”, com os preços competitivos vistos nos EUA e na Europa.
Valor Econômico – SP