27/10/2014 às 05h00
Por Aline Cury Zampieri | De São Paulo
O desempenho do Ibovespa no ano mostra que o mercado de ações brasileiro tem muito mais a oferecer do que as valorizações ligadas à corrida eleitoral. No ano, o índice acumula alta de apenas 0,84%. Mas há 29 ações com desempenho superior ao do indicador. E muitas delas passam longe do “kit eleições”.
Empresas dos ramos de educação, alimentos, exportação e serviços financeiros estão entre os destaques. Aparecem na lista mescladas às estatais, aos bancos e às ações de energia elétrica, claramente influenciadas pela acirrada disputa à Presidência da República. A líder da lista é Kroton, com valorização de 51,40%, seguida por Marfrig (39,0%), BB Seguridade (24,09%), Embraer (20,84%), Estácio ON (18,17%), Brasil Foods (18,05%), Lojas Renner (15,96%), Cielo ON (15,18%) e JBS (11,72%).
Segundo Eduardo Roche, sócio da Canepa Asset Management, empresas que entregam crescimento de negócios e rentabilidade estão no topo. “Os setores com bons fundamentos tiveram performances significativas”, diz. Ele acredita que, passadas as eleições, alguns papéis que lideraram essa lista podem ceder espaço à realização de lucros. “Pode haver um pouco de rotação de carteiras”, diz.
O setor de educação é representado por Kroton e Estácio. “As companhias mostraram números positivos de captação de alunos”, diz. “Oferecem crescimento consistente ao longo dos anos, com rentabilidade maior. A queda na evasão dos alunos reforçou ganhos de margens”, afirma. Além disso, houve consolidação no segmento. “É um setor de destaque nos últimos três anos e será em 2015.”
“O Brasil está atrasado em educação, há espaço para crescer e a Kroton é a maior do setor”, acrescenta Pedro Galdi, estrategista da SLW Corretora. Em relatório recente, o BTG Pactual afirmava que o crescimento da base de alunos e melhores políticas de preços devem garantir à empresa crescimento nos resultados até 2015. O banco dizia ainda que a empresa reduziu a equipe de funcionários após a fusão com a Anhanguera, o que pode trazer redução de custos e ganhos de sinergia.
Também merecem menção empresas com resultados promissores como BB Seguridade, Cielo e Lojas Renner. “O setor de serviços financeiros tem performance parecida com educação. As empresas continuam entregando crescimento, não só de receita, mas de geração de caixa”, diz Roche, da Canepa.
A Renner divulgou no dia 23 o resultado do terceiro trimestre do ano, com desempenho que superou a expectativa de analistas.
Já as empresas de alimentos Marfrig, JBS e Brasil Foods ganharam com as restrições impostas pela União Europeia e Estados Unidos à Rússia, o que ampliou as compras de carnes pelos russos. No caso da Marfrig, Galdi lembra que a empresa passou por dificuldades e realizou forte venda de ativos, o que a desalavancou. Agora, as ações têm ajuste técnico.
Em meados de outubro, a agência de classificação de risco Standard and Poor’s elevou os ratings de Marfrig e JBS. No caso da Marfrig, a elevação reflete melhoras na estrutura de capital da companhia, liquidez e geração de fluxo de caixa livre, como resultado da gestão de passivos na estrutura de dívida e aumentos nos volumes exportadores e nos preços no Brasil. Também houve crescimento gradual das vendas em operações internacionais. Já para a JBS, a alteração reflete perspectiva de índice de alavancagem reduzido e de continuidade de forte geração de caixa.
Outro papel que subiu foi Brasil Foods. Roche, da Canepa, lembra que a empresa passou por troca na administração, com Abílio Diniz na liderança. Em relatório recente, o Banco Fator iniciou a cobertura das ações da companhia, com recomendação neutra. Segundo a casa, os impactos positivos da nova administração já estão no preço dos papéis. A casa afirma que as mudanças estão colocando a empresa no caminho certo. O Credit Suisse, em relatório recente, também previu forte rentabilidade para a empresa no terceiro trimestre do ano.
Embraer, por fim, chama a atenção por ganhar com o câmbio. Em 15 de outubro, a empresa divulgou sua carteira de pedidos, que atingiu US$ 22,1 bilhões no terceiro trimestre, a maior da história.
Valor Econômico – SP