Rede de varejo pede perdão aos credores (waiver) para os próximos meses
O consumidor já adotou um comportamento mais racional, passando menos tempo nas lojas reabertas e comprando apenas o necessário, segundo o comando da Marisa, varejista de moda com 360 lojas. Nesse cenário com mais incertezas, a rede passou a prever descumprimento de índices financeiros em contratos de dívida e abriu negociação com bancos.
Para o comando, a empresa pode até ser beneficiada por um movimento de redução de gastos dos clientes, considerando que a rede vende “moda acessível”, mas isso ainda é uma expectativa, e não impedirá uma piora de alguns indicadores no curto prazo, especificamente do lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda, na sigla em inglês).
Em teleconferência com analistas, a empresa disse que, em 31 de março, cumpria os limites de nível de endividamento (relação entre dívida e Ebitda) determinados em contratos de financiamento e de emissões de debêntures. Mas, com a crise, decidiu pedir o chamado “waiver” (perdão) aos credores porque vai descumprir os índices.
“Nos antecipamos e formalizamos isso aos bancos, com um pedido de ‘waiver’ para os próximos meses. Vínhamos numa recuperação de Ebitda, mas isso ainda vinha sendo recomposto e pode até ficar negativo um ou dois períodos”, disse a analistas na sexta-feira, Adalberto Pereira Santos, vice-presidente financeiro e administrativo.
Em geral, os covenants, ou itens dos contratos, definem obrigações que não podem ser descumpridas pelos devedores, como aumentar acima de certo patamar a relação entre dívida líquida e Ebitda ou mudar o quadro societário. Se isso ocorre, o credor pode executar a dívida antecipadamente.
A relação entre dívida líquida e Ebitda da Marisa estava em 3,3 vezes em março – um ano antes, atingia 1,5. Mas os contratos atuais exigem que esse limite fique abaixo 3,5 vezes, algo que não deve ocorrer com a piora do Ebitda.
Pelos números publicados na quinta-feira, o Ebitda de janeiro a março (ajustado) apresentou redução de R$ 75 milhões em relação ao ano anterior, refletindo o menor resultado da operação de varejo, impactado pelo fechamento das lojas. A receita líquida caiu 5,4%, para R$ 572 milhões, enquanto as despesas operacionais subiram 9%, acima do ritmo das vendas.
O prejuízo subiu 162%, na comparação anual, para R$ 107,1 milhões, puxado pela queda na receita e pelo aumento nos custos e nas despesas operacionais.
Segundo Marcelo Pimentel, diretor-presidente da Marisa, a empresa identificou, nas últimas semanas, uma alta no número de peças vendidas por cada compra, sem queda no valor do tíquete. Mas hoje há um cliente “muito mais objetivo, que sabe o que quer e fica menos tempo na loja”, o que pode ser uma vantagem para a empresa, afirma ele, historicamente com preços mais competitivos.
As vendas mesmas lojas (em operação há um ano) estavam mais devagar em abril frente a março, mas ao longo de maio isso foi se aproximando do patamar registrado no ano passado.
A rede tem 70 lojas reabertas para todo tipo de operação (venda, pagamento de faturas), equivalente a cerca de 20% do total.
Sobre o ritmo de ofertas, a empresa disse que vê “muita competitividade de preço”, em parte pelo excesso de estoques no setor, mas a Marisa não vê “necessidade de fazer nada absurdo” quanto aos preços.
Fonte: Valor Econômico