Dotz, conhecida pelo programa de fidelidade, vai lançar uma conta digital para sua base de quase 40 milhões de clientes. A ideia é iniciar uma campanha de marketing agressiva e conquistar cerca de 10 milhões de clientes em dois anos.
Segundo o sócio e executivo-chefe da Dotz, Roberto Chade, apesar de entrar em um novo segmento, o objetivo da companhia continua sendo o mesmo: fazer o dinheiro dos clientes render mais. Além de ter a conta digital gratuita e um marketplace com diversos serviços, o usuário ganha pontos Dotz ao realizar vários tipos de transação.
Ele afirma que o diferencial da companhia é já possuir uma base grande de clientes e ter um banco de informações muito amplo, possibilitando a oferta de produtos e serviços mais direcionados. “Existem diversas opções de carteira digital, mas a grande dificuldade é o ‘cash in’, ou seja, fazer o usuário colocar dinheiro dentro da carteira. Nós não teremos esse problema, porque o cliente já tem seu saldo em Dotz, que pode ser convertido em reais a qualquer momento”, afirma.
Com o acúmulo de pontos Dotz em diversos tipos de movimentação, o programa vai se assemelhar também a uma espécie de “cashback”, quando o consumidor recebe parte do dinheiro de volta ao fazer uma compra. A questão é que, diferentemente de outras empresas que oferecem o serviço — e, assim, dependem da capacidade financeira do lojista ou da empresa que administra o programa —, na Dotz o benefício vem por meio de pontos. “Eu sou uma espécie de banco central dessa moeda”, diz Chade.
A Dotz é uma das pioneiras no Brasil em programas de fidelização no modelo de coalizão, ou seja, com várias empresas parcerias ao mesmo tempo. São quase 150 lojas on-line e aproximadamente outras 100 físicas, totalizando mais de 250 parceiros. “Assim, meus varejistas e parceiros ajudam a financiar os benefícios da conta digital”, explica Chade.
Para lançar a conta, a Dotz investiu R$ 35 milhões em tecnologia e criou uma nova empresa, que será uma instituição de pagamento. Como o volume de transações ainda é inferior a R$ 500 milhões, não precisará de autorização do Banco Central, mas a expectativa é que esse limite seja atingido rapidamente. “Já estamos com toda a documentação pronta”, diz o CEO.
A Dotz já tem parceria com a Elo e fechou no fim do ano passado um acordo com o Banco do Brasil para um cartão “co-branded”, que já tem mais de 100 mil unidades emitidas. No início deste ano, anunciou parceria semelhante com o BV (antigo Banco Votorantim).
Na área de credenciamento, a parceria é com a FirstData e, em crédito, com a Credisfera, mas negocia também com um grande banco. “Nosso volume orgânico de conquista de novos clientes fica entre 200 mil e 250 mil”, diz.
Segundo o executivo, a tendência de aceleração da digitalização do consumo torna o momento propício para o lançamento da conta. “Nossa plataforma on-line já teve aumento nos fluxos. Esse momento de pandemia é bem favorável para o lançamento da conta digital, porque é um período de digitalização mais acelerada e no qual as pessoas têm a necessidade de uma renda extra, de usar benefícios.”
Segundo Chade, ao ter uma ampla base de dados sobre todo o comportamento de consumo e pagamentos dos usuários, a Dotz poderá oferecer crédito com juros mais baixos, inclusive para trabalhadores informais, que muitas vezes estão fora dos sistemas dos bancos e não são inteiramente captados pelos birôs de crédito. Outra possibilidade é usar os pontos Dotz do cliente como garantia da operação de crédito. “Queremos democratizar a concessão de crédito para a parcela da população que tem mais dificuldade.”
De acordo com ele, em um prazo de dois a três anos a Dotz pode considerar realizar uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês). “Nós deixamos de ser um player puramente de fidelização, hoje somos mais uma empresa de tecnologia, com atuação grande em pagamentos.”
Fundada em 2000, a Dotz chegou a ter uma parceria com a canadense LoyaltyOne, que teve uma fatia de 37% na companhia, mas hoje é controlada inteiramente pela família Chade. Em 2018, comprou a rival Netpoints, que havia sido criada por um grupo de sócios que incluía Smiles, Lojas Marisa e Bozano. A companhia não revela números de faturamento
Fonte: Valor Invest