Acostumado a apresentar bons números, mesmo diante de crises econômicas severas, o franchising brasileiro não passará imune ao desastre econômico causado pela disseminação do novo coronavírus pelo mundo.
A previsão de crescimento de 8% em 2020 feita pela Associação Brasileira de Franchising (ABF) no início do ano, já caiu por terra. A perspectiva do presidente da ABF, André Friedheim, é de que, na melhor das hipóteses, os resultados empatem com o conquistado no ano passado.
Pesquisa realizada pela consultoria Praxis Business na última semana de março, mostrou que antes da pandemia do Covid-19, 64% das franquias estimavam um crescimento de mais de 10% para este ano. Agora, cerca de 51% preveem queda no faturamento e 49% afirmam que a empresa irá se manter no mesmo patamar ou crescerá até o final do ano.
“Como o franchising é multissetorial, temos categorias em expansão como redes de farmácias, supermercados e operações que têm como base o delivery e outras completamente paradas, especialmente aquelas que dependem exclusivamente dos shopping centers. Tudo isso vai acabar nos levando de volta aos princípios básicos do modelo de franquias que é o trabalho em rede e colaboração. Acredito que franqueadores e franqueados nunca estiveram tão próximos e teremos um ganho de eficiência no futuro”, afirma Friedheim.
A busca de modelos mais simples e baratos de negócios deve impulsionar a formato home based. A tendência para o novo normal é de que muitas operações passem a optar por lojas menores e voltem, em alguma medida, a se interessar por pontos de rua, fugindo dos altos custos dos shopping centers.
Além disso, a tecnologia será cada vez mais determinante na vida de franqueados e franqueadores. “Todo mundo olhou para dentro e começou a ‘queimar gordura’, colocando foco no negócio. Posso entender, por exemplo, que as lojas podem ser menores e continuar vendendo o mesmo. Também embarcando tecnologia nos processos de comunicação, relacionamento, venda e controle de caixa, entre outros. Os custos das franqueadoras também vão diminuir com menos visitas, percebemos que o on-line funciona. A colaboração será mais latente, os comitês mais ativos, mais participativos, com o franqueador ouvindo mais o franqueado”, pontua o presidente da ABF.
Para o CEO da Loja de Franquia, Lucien Newton, o Covid-19 pode oferecer às franquias uma grande oportunidade de desenvolvimento de novos mercados – ou internos -, em busca de territórios menos atingidos pela pandemia.
“A perspectiva de termos a partir de agora períodos alternados de maior e menor fechamento, vai fazer com que as franqueadoras reavaliem seus planos de expansão. Isso pode fazer com que marcas brasileiras se internacionalizem – com a devida preparação – que o Brasil atraia novos players e que cidades do interior também se tornem mais atrativas. Nesse sentido, Minas Gerais pode apresentar uma vantagem competitiva muito interessante porque temos um grande território, com boas cidades e ainda pouco assistidos por diversas marcas importantes”, explica Newton.
E-commerce – O desafio do e-commerce será outro ponto estratégico para a sobrevivência das operações. A omnicanalidade – tendência já há muito tempo discutida – deverá se consolidar. Modelos de operação como “clique e retire” e parceria entre franqueadora e franqueado dividindo responsabilidades e resultados sobre o comércio on-line deverão ser fortalecidos.
“O e-commerce, apesar de ser um futuro óbvio, sempre foi uma questão para o franchising. Grandes redes passaram anos tentando desenvolver esse canal. Com a pandemia, não teve jeito, todos, em 10 dias, tiveram que desenvolver o digital porque era a única forma de continuar. Já existem muitas estratégias de omnicanalidade com venda na loja e entrega em casa, vende por aplicativo e retirada na loja, por exemplo. A herança positiva é esse desenvolvimento. Muitas redes incentivando franqueados e colaboradores a entrarem para o digital, vendo que o compartilhamento é um caminho de sucesso para esse negócio”, avalia o CEO da Loja de Franquias.
Fonte: Diário do Comércio