Álcool em gel na entrada das lojas, demarcações nas filas, placas de acrílico e higienização dos carrinhos de compras. Se nas últimas duas semanas você fez compras em supermercados de Belo Horizonte, certamente se deparou com essas medidas em alguns estabelecimentos. Para proteger funcionários e clientes da contaminação pelo coronavírus, as redes supermercadistas vêm adotando uma série de medidas. Há supermercados que, inclusive, já medem a temperatura dos clientes logo na chegada.
O supermercado EPA, na Avenida Nossa Senhora do Carmo, no Bairro São Pedro, adotou cuidados antes mesmo do início das compras dos clientes. Ao entrar, o consumidor se depara com uma funcionária que oferece álcool em gel para higienização das mãos. “Minha mão já está até derretendo de tanto álcool em gel, menina!”, brincou ontem um cliente que se recusou a usar o produto.
Também na entrada do estabelecimento, uma outra funcionária que usa luvas e segura desinfetante higieniza os carrinhos de compras a todo momento. “Acho isso ótimo. Estava preocupada porque tenho que vir ao supermercado várias vezes, estou cuidando de idosos”, ressaltou Maria Regina, de 43 anos, cliente que fazia compras.
Do outro lado da placa de acrílico que dividia o caixa do cliente, estava Luana Martins, funcionária que também está gostando das medidas. “É melhor porque a gente tem menos contato com as pessoas. Mas tem vez que isso não adianta, porque é muito difícil a pessoa não sair da área que o acrílico cobre”, adverte. Luana vive em Nova Lima com a mãe diabética de 48 anos e com uma filha de 1 ano – a cidade é a segunda que mais registra casos de contaminação no estado. “Não tem como eu evitar contato com elas, mas minha mãe está evitando sair de casa”, conta.
Apesar da recomendação para que as pessoas evitem transitar pelas ruas, a unidade do EPA tem observado o mesmo fluxo de pessoas na loja em comparação com os dias anteriores à pandemia. “Houve apenas uma pequena redução. Os idosos não estão vindo em horários especiais”, conta o gerente da unidade, Leanderson Lopes. Mesmo com o fluxo quase igual, o profissional conta que foi possível reduzir 10% da equipe habitual.
Alguns quarteirões mais à frente, o supermercado Super Nosso também reforçou medidas de proteção. Com a recomendação de ficar em casa, a empresa tem apostado no incremento do serviço de entrega a domicílio. “A demanda está muito alta”, conta a assistente operacional Marcelina Alves.
Cliente da loja, Carlos Fernando, de 63 anos, elogiou as medidas de higiene no local: “Se não tivessem esses cuidados de prevenção, como álcool em gel, eu nem viria”. A cerca de 3 quilômetros dali, logo na entrada do supermercado Carrefour do Bairro Funcionários, na Região Centro-Sul de BH, o cliente se depara com uma funcionária oferecendo álcool em gel para higienizar as mãos. Simultaneamente, um outro funcionário se aproxima e mede a temperatura de cliente que chega ao estabelecimento; caso o termômetro registre pontuação acima de 37,5ºC, é impedido de fazer as compras.
“Estamos medindo a temperatura de todos os funcionários e também dos clientes. Há casos em que entram duas pessoas ao mesmo tempo, aí fica mais difícil de medir a de todo mundo. Nessa loja, nunca ocorreu de um cliente não poder entrar, mas em outros estabelecimentos da rede já houve”, explica o gerente da unidade do Bairro Funcionários.
Inimigo invisível
A despeito das “barreiras sanitárias” houve quem ‘tentasse fugir’ dos controles nas lojas. Enquanto o Estado de Minas conversava com os funcionários, um homem que não quis se identificar, mas que aparenta ter mais de 60 anos, entrou na loja sem passar pela triagem. Imediatamente, uma funcionária o chamou a atenção e ofereceu o álcool em gel.
Na unidade, os funcionários utilizam máscaras e luvas, além de estarem protegidos por uma placa de acrílico que os separam dos clientes, no momento de pagar as mercadorias. No setor de padaria, agora o cliente já não pode mais pegar os pães franceses que antes ficavam expostos em um compartimento. Desde que a pandemia se alastrou pelo país, o produto fica embalado, já pronto para ser levado ao caixa.
O consumidor Jaime Hosken, de 31 anos, mora com idosos e pessoas que sofrem de bronquite e asma. Justamente por isso, vestia máscara enquanto passava os produtos pela esteira do caixa. “Acho que todas essas medidas são necessárias porque o inimigo é invisível. O mundo não pode subestimar e não podemos deixar uma brecha para que o vírus se propague”, defende.
Por segurança
O diretor comercial do grupo DMA, controlador do EPA e do atacarejo Mineirão, Roberto Gozende, afirma que as 150 lojas das redes estão sendo modificadas desde meados de março para aumentar a proteção dos clientes e funcionários. Segundo Gozende, os funcionários estão higienizando as mãos e os carrinhos dos clientes assim que eles entram nas lojas.
Além disso, foram instalados vidros que separam os operadores de caixas dos clientes, bem como sinais no chão que indicam a necessidade de as pessoas manterem distância recomendada. “São medidas para preservar ao máximo a saúde. Sem dúvida, é um diferencial para o cliente. Quando ele chega na loja e vê esse esforço, ele se sente mais seguro”, afirma Roberto Gozende.
Segundo o vice-presidente do grupo Super Nosso, Rodolfo Nejm, as medidas de prevenção à COVID-19 foram implementadas desde o início do mês em todas as 52 lojas da rede, localizadas em Belo Horizonte, Contagem, Nova Lima e Lagoa Santa. O empresário explica que o cuidado com a higienização dos caixas foi redobrado, e os funcionários foram orientados a seguir as recomendações de prevenção.
A rede de supermercados também reduziu o horário de funcionamento das lojas, além de fechar os restaurantes e lanchonetes que funcionam em algumas unidades. Para evitar que os idosos – que são do grupo de risco – saiam de casa, o Super Nosso isentou o frete dos pedidos de delivery para pessoas acima de 60 anos. *Estagiários sob a supervisão da subeditora Marta Vieira
Verdemar: Álcool gel a R$27,98
A Associação Mineira de Supermercados (Amis) divulgou nota em que considera como “um desafio” o reajuste de preço dos fornecedores e alega que o setor é apenas “o elo final” da cadeia de abastecimento entre os fabricantes e consumidores. “Os supermercados apenas repassam o custo dos produtos que adquirem da indústria”, afirma a nota. O presidente da associação é Alexandre Poni, dono da rede Verdemar Supermercado e Padaria, a mesma que no último dia 20 pediu desculpas por ter cobrado R$ 27,98 por uma unidade de álcool gel 500 ml da marca Emfal. “O Verdemar se aproveitou da epidemia para vender álcool gel a preço absurdo”, denunciou um cliente no Twitter. “Os preços subiram! Detergente, água sanitária, hortifrutis, congelados, tudo! Não é hora de supermercado aumentar lucros!”, criticou outro cliente, também via Twitter. Em comunicado, a diretoria do Verdemar alegou que o produto foi parar, “de maneira equivocada”, nas prateleiras.
Fonte: Estado de Minas