Desde que os aplicativos de entrega entraram no mercado, os entregadores uniformizados de restaurantes têm sido substituídos pelos profissionais autônomos, que prestam serviço para plataformas como iFood, Rappi e Uber Eats. Desde o fim do ano passado, porém, grandes redes de alimentação têm investido no lançamento e em melhorias de seus aplicativos próprios de entrega, com o retorno de motoboys contratados. A ideia é que essas empresas passem a depender menos dos superaplicativos, que cobram um percentual significativo das vendas, além de estreitar a relação com o consumidor.
— Para grandes redes, o custo operacional de ter um aplicativo próprio é mais baixo do que utilizar uma plataforma como o iFood, Rappi ou Uber Eats. Isso porque com um aplicativo independente o restaurante consegue concentrar os pedidos e dinamizar a produção, além de ter um banco de dados com a rotina de compra dos clientes e quanto gastam. É mais um canal de comunicação que se abre com o consumidor — afirmou André Diz, professor de Economia do Ibmec/SP.
Outra vantagem é a possibilidade de garantir a qualidade da entrega. Esse é um dos objetivos da Domino’s, que tem investido nos últimos meses na melhoria da experiência do cliente. Em novembro, a rede começou a atender pedidos pelo WhatsApp no Rio, serviço que será ampliado para todo o país em abril.
— Pelo nosso app, não há riscos de mal entendidos em relação aos pedidos. Nossos entregadores são profissionais exclusivos e treinados para preservar a qualidade da pizza — explicou o diretor de Marketing da Domino’s, Edwin Junior.
Já o Habib’s lançou seu aplicativo em julho de 2019. E a Ragazzo, do mesmo grupo, em setembro do mesmo ano. Segundo Rafael Polachini, superintendente de Marketing das empresas, os entregadores são próprios para ter um controle maior da operação.
— O aplicativo próprio valoriza a marca e permite a fidelização do cliente — apontou.
Plataformas são vitrines para empresas
Apesar de estarem apostando em seus próprios aplicativos, as grandes redes não pretendem abandonar os ‘marketplaces’, ou seja, as plataformas que reúnem diversos estabelecimentos. De acordo com o professor André Diz, é preciso estar nesses aplicativos para disputar o mercado consumidor.
— Atualmente, não participar dessas plataformas não parece ser uma estratégia interessante. No começo, quando esses aplicativos surgiram, eles precisavam dos restaurantes para conseguir usuários. Mas, hoje, os restaurantes precisam dessas plataformas. Cada vez mais, quando um consumidor pensa em pedir comida, o primeiro passo é abrir um aplicativo que reúna diversos restaurantes — avaliou.
Para Rafael Polachini, do Grupo Habib’s, tanto o aplicativo próprio, quanto a presença em outras plataformas são estratégias fundamentais.
— Quanto mais pontos de contato com o cliente, melhor. Ambas as estratégias são importantes, dado o alcance dos marketplaces e a capacidade de gerar pedidos incrementais e novos clientes.
O iFood informou ter crescido 116% em novembro de 2019, na comparação com o mesmo mês de 2018. A plataforma oferece mais de 30 tipos de culinária atualmente.
‘Alguns terão condições de existir fora dos apps’
Christian Perrone, pesquisador do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS-Rio)
“Há alguns anos, se alguém dissesse que uma empresa estava planejando deixar de vender seus produtos na Amazon, as pessoas olhariam com estranheza. Mas hoje já existem empresas, como a Nike, que não querem vender diretamente nessa plataforma. Algumas empresas terão condições, em função de terem uma marca forte, de sobressaltarem os superaplicativos e marketplaces.
Mas a tendência, para o futuro, é que essas plataformas funcionem como um ecossistema, mesclando diversos serviços. É o caso do WeChat, da China, em que você pode fazer absolutamente tudo, desde conhecer pessoas, até fazer compras. O Rappi também surgiu com esse objetivo. Mas será importante que o mercado seja regulado para tornar as regras desse jogo mais transparentes.”
MC DONALD’S
O aplicativo próprio foi lançado em julho de 2018 e oferece promoções exclusivas. As entregas são feitas em parceria com a Loggi.
HABIB’S
O Habib’s lançou seu aplicativo em julho de 2019 e, a Ragazzo, em setembro do mesmo ano. Hoje, 30% das entregas é pelo aplicativo próprio, onde podem ser usados cupons de desconto.
DOMINO’S
Em novembro a rede passou a receber pedidos pelo WhatsApp no Rio. Pelo aplicativo e pelo site da Domino’s o cliente tem benefícios, como montar a pizza, agendar a entrega e acompanhar cada passo do pedido até a porta de casa.
CHINA IN BOX
A rede relançou o novo aplicativo em parceria com a Oracle em 2019. A plataforma oferece preços e ofertas diferenciadas.
BOB’S
O app foi lançado em 2014, mas a rede está desenvolvendo novas funcionalidades, com vantagens para o cliente.
Fonte: Extra