Apesar das incertezas geradas pelo novo coronavírus, o consumo das famílias pode sustentar um novo saldo positivo com a expectativa de serem abertas 18,2 mil lojas no comércio varejista em 2020, embora em volume ainda insuficiente para reverter o saldo negativo da crise. A afirmação é de Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), que fez um estudo sobre a abertura e o fechamento de lojas no país, obtido pelo Valor.
No levantamento, a CNC mostra que o país abriu 15 mil lojas em 2019, o segundo ano consecutivo de saldo líquido positivo do setor e o melhor resultado nos últimos cinco anos. Em 2018, foram abertos 12,1 mil estabelecimentos. Somados, os resultados recuperam 12% das lojas perdidas na crise (222,7 mil unidades fechadas).
Para Bentes, os resultados refletem a continuidade da recuperação das condições de consumo e a reativação do nível de atividade do varejo. Foi um período de inflação baixa, liberação de recursos do FGTS e maior oferta de crédito para as famílias, num ambiente de juros mais baixos da história.
“Embora o maior saldo registrado desde 2013 revele um cenário mais positivo, o atual processo de recuperação do setor segue ocorrendo de forma gradual”, disse o economista da CNC. Em sua opinião, a abertura de lojas tem aderência com o nível de confiança. Assim, se o quadro de infecção pelo novo coronavírus for além do que foi projetado pelos especialistas, há o risco de que as expectativas para este ano no comércio sejam afetadas.
Os primeiros efeitos da recessão sobre o comércio foram vistos em 2014. Naquele ano, as vendas do varejo recuaram 1,7%. As perdas de vendas foram ainda mais intensas nos anos seguintes: 8,6% em 2016 e 8,7% em 2017. Como consequência, o comércio fechou mais lojas do que abriu nesses três anos: 2015 (101,9 mil lojas), 2016 (105,3 mil) e 2017 (15,5 mil).
Em 2019, a receita do varejo ampliado – que inclui as vendas de veículos e materiais de construção. além de outros oito ramos – cresceu 3,8%, em termos reais, na comparação a 2018. Bentes disse que existe uma defasagem de ao menos seis meses entre o aumento contínuo do faturamento e a concretização dos investimentos em novos pontos de venda.
Dos dez ramos do varejo acompanhados pela CNC, nove tiveram saldo positivo de abertura de lojas no ano passado. O principal destaque positivo foi o ramo de supermercados, super e minimercados, com 6,9 mil novos estabelecimentos com ao menos um empregado. Na sequência aparece o ramo de utilidades domésticas e eletroeletrônicos, com mais 2,2 mil.
“Supermercados têm o maior número de pontos de venda, então sempre se destaca mesmo”, disse Bentes, acrescentando que setores de menor tíquete médio tiveram melhores resultados, o que pode estar ligado à recuperação ainda lenta da renda.
O único ramo com saldo negativo em 2019 foi o de livrarias e papelarias, com fechamento de 108 lojas em todo o país. O setor tem sofrido nos últimos anos com mudanças estruturais no mercado de livros impressos. Saraiva e Livraria Cultura pediram recuperação judicial no fim de 2018 e fecharam dezenas de lojas numa tentativa de reduzir seus prejuízos.
São Paulo puxou o resultado nacional, com mais 4.143 lojas, seguido por Minas Gerais (2.136) e Paraná (1.747). O saldo positivo apareceu em 25 dos 27 Estados. Até o Rio registrou alta de 331 estabelecimentos. Os resultados negativos foram no Rio Grande do Norte (56) e Ceará (349).
Fonte: Valor Econômico