O Carrefour voltou a registrar lucro líquido em 2019, revertendo um prejuízo de quase € 600 milhões do ano anterior, aumentou seu fluxo de caixa e reduziu sua dívida. O ajuste das contas abre perspectivas para o grupo francês fazer aquisições, inclusive no Brasil, após a compra de 30 lojas do Makro por R$ 1,95 bilhão este mês.
“O Carrefour está em uma trajetória de crescimento rentável”, afirmou Alexandre Bompard, CEO da varejista, ao apresentar ontem o balanço anual da companhia. O executivo frisou, no evento em Paris, que o grupo mudou nos últimos dois anos, quando foi lançado o plano estratégico, chamado “Carrefour 2022”.
Segundo Bompard, foi feito um trabalho “colossal” para gerar fluxo de caixa (€ 1,3 bilhão em 2019, aumento de 17% em relação ao ano anterior). “É isso que nos permite ter meios hoje para aproveitar as oportunidades”.
Há apenas um ano, disse o CEO, o Carrefour não estava nessa dinâmica de analisar possibilidades de compras de empresas. Na França, duas fintechs foram adquiridas recentemente. “Estou convencido de que oportunidades vão surgir no mercado. Há muita concorrência e empresas que não estão bem”, acrescentou.
Segundo Matthieu Malige, diretor financeiro do Carrefour, podem ser feitas novas aquisições no Brasil. Em outubro, o grupo adquiriu 49% da fintech Ewally, para lançar um banco digital, com opção de assumir o controle da operação em 2022. A compra de 30 unidades do Makro fora de São Paulo, neste mês, foi o primeiro investimento significativo da varejista desde que Bompard assumiu o comando, em 2017. Os pontos de venda serão transformados em lojas Atacadão.
“Estamos muito abertos em relação às aquisições”, disse Malige. O fato de o grupo ter definido no Brasil modelos estáveis de operação dos diferentes tipos de lojas (Atacadão, conveniência, supermercados e hipermercados) e ter ajustado seu balanço permite “aproveitar as oportunidades que se apresentarem no país”, afirmou o diretor.
As vendas brutas do grupo no mercado brasileiro em 2019 somaram R$ 62,2 bilhões, um avanço de 10,4% sobre o ano anterior.
Possíveis novas aquisições do Carrefour no Brasil e no mundo têm um objetivo “extremamente preciso”, ressaltou ontem o CEO. “Tem de ser um motor de crescimento que acelere uma atividade rentável. Somos extraordinariamente seletivos”, disse Bompard, acrescentando que só anunciará algo quando for concretizado.
Com receita de € 80,7 bilhões em 2019, em aceleração de 3,1% considerando o critério “mesmas lojas” (que considera unidades abertas há pelo menos um ano), o Carrefour registrou um lucro líquido de € 1,1 bilhão no ano passado, impulsionado sobretudo pela venda da filial chinesa. O prejuízo em 2018 havia sido de € 582 milhões. Na França, o lucro operacional subiu 15,6% em 2019.
A varejista anunciou ontem também a ampliação de seu plano de corte de custos em três anos, que passou para € 2,8 bilhões, ou seja, € 200 milhões a mais do que o previsto. No ano passado, a empresa fez uma economia de cerca de € 1 bilhão.
A dívida financeira do grupo foi reduzida em cerca de € 900 milhões em 2019, passando de € 3,5 bilhões para € 2,6 bilhões. O Carrefour informou ainda o novo objetivo de vender mais € 300 milhões em ativos imobiliários não estratégicos até 2022.
A varejista já reduziu mais de 100 mil metros quadrados de áreas comerciais em hipermercados, a metade na França, principalmente de produtos não alimentícios e confirmou a meta global de cortar 350 mil metros quadrados até 2022.
Fonte: Valor Econômico