O tradicional espetinho vai desembarcar em terras norte-americanas no próximo ano. Após um estudo de três anos sobre mercado dos Estados Unidos, a rede Espetto Carioca abrirá filiais na Califórnia e na Flórida.
— Nosso produto tem uma aderência grande a muitas culinárias mundiais. Enxergamos esse passo como um movimento natural. — explica Bruno Gorodicht, diretor de negócios da rede, que tem 30 lojas.
Leandro Souza, presidente da franquia, completa:
—Estamos indo sem afobação. Entendendo bastante o perfil do consumidor e qual o melhor formato de negócio para testar.
Assim como a empresa carioca, o número de franquias que têm tentado a sorte em terras estrangeiras cresce ano após ano. De acordo com um estudo da Associação Brasileira de Franchising (ABF), divulgado na última quarta-feira, em 2019, 163 redes nacionais marcaram presença em 107 países. Em 2018, eram 145 redes, em 114 países.
Na opinião de André Friedheim, presidente da ABF, a internacionalização reflete um otimismo com os resultados nacionais, o que gera segurança para pensar em outros mercados. Outro fator citado por ele são as missões empresariais promovidas pela ABF/ Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), com a participação em congressos e feiras internacionais. Atualmente, 150 empresas fazem parte deste convênio.
Ao utilizar a plataforma do projeto da ABF/APEX, a HNT, de frango frito, expôs em feiras de franquias de EUA, Colômbia e Argentina.
— Conseguimos encontrar investidores interessados em expandir para outros países — diz Dany Levkovits, fundador da marca.
Frango frito nos EUA
Em parceria com o indiano Jay Pandya, megainvestidor em franquias de fast food nos Estados Unidos, a rede HNT abrirá 50 restaurantes na Costa Leste nos próximos cinco anos. As três primeiras já foram inauguradas. Para atender ao novo mercado, Dany fez pequenos ajustes no cardápio.
— O fried chicken já é bastante popular nos Estados Unidos, portanto não há necessidade em mudar o produto principal. A diferença é que nossos cortes de frango são desossados.
Os Estados Unidos permanecem como o principal destino das marcas brasileiras no exterior, com 67 redes operando localmente. Portugal se mantém como o segundo país mais procurado, com 44 marcas, e o Paraguai em terceiro, com 36 redes.
Friedheim acredita que tal preferência se dá pelo tamanho do mercado dos EUA:
—Quem faz sucesso lá, faz em qualquer lugar — afirma, acrescentando que Portugal é a porta de entrada para a Europa e o Paraguai está na lista pela proximidade do Brasil, que permite que o sistema seja gerenciado daqui.
A América Latina é o foco da Maple Bear, escola bilíngue. Atualmente, a rede tem quatro escolas no México e implantações em andamento no Peru, Argentina, Paraguai e México. No Brasil, são 142.
— O plano de negócios prevê atingirmos 380 escolas na região até 2023 — revela o CEO Arno Krug.
A professora da ESPM Thelma Rocha, uma das autoras do “Livro Verde”, que acompanha a internacionalização das franquias brasileiras no exterior desde 2010, afirma que os erros mais comuns são desconhecer a cultura local, ou fazer tantas adaptações para agradar ao cliente estrangeiro que a essência acaba se perdendo.
— Outra recomendação é que o franqueador não aceite o esquema “passou, levou”. Ou seja, não permitir que a marca seja levada para o exterior sem um estudo prévio.
Foi desta situação que a Pello Menos, rede carioca de depilação, escapou. Regina Jordão, CEO da empresa, conta que, em 2012, uma irlandesa, de férias no Brasil visitou uma das unidades e quis levar a marca para Dublin.
— Conversamos por meses, contratamos advogados e contadores locais para entender como as empresas funcionavam por lá. Após os estudos, concluímos que não abriríamos. As dificuldades trabalhistas, tributárias e normativas não se encaixavam no nosso negócio — explica ela que não pretende retomar o processo:
— Não me arrependo em não prosseguir. Nosso foco é o Brasil — afirma ela, que tem 47 unidades, no Rio, São Paulo e Brasília.
Moda: 35 marcas brasileiras têm lojas no exterior
Ainda de acordo com o estudo da ABF, o segmento de moda é o mais representativo no exterior, com 35 marcas brasileiras. Saúde, beleza e bem-estar vêm a seguir, com 32, e alimentação em terceiro lugar, com 25.
A professora Thelma Rocha, da ESPM, salienta que, no estudo anterior, realizado em 2018, os segmentos casa e eonstrução, educação e serviços de comunicação, informática e eletrônica já mostravam potencial de crescimento nos próximos anos.
A fabricante de piscinas iGUi, por exemplo, já está em mais de 50 países.
— Esse crescimento lá fora é uma decisão estratégica. Nossa empresa teria dificuldade de se expandir ainda mais no Brasil trabalhando com o mesmo produto. Portanto, o exterior passa a ser uma boa opção —explica Filipe Sisson, fundador da iGUi, que tem 40 fábricas instaladas no Brasil, Argentina, Paraguai, México, Portugal e Estados Unidos.
João Brito, diretor comercial do Grupo Bittencourt (consultoria de expansão de franquias) lembra que, muitas vezes, o primeiro movimento de uma marca rumo ao exterior se dá por meio de algum canal internacional de vendas online, o que ajuda a empresa a sentir a aceitação de seu produto em outros países.
Um exemplo de teste de mercado é o da Calçados Bibi, marca de sapatos infantis, que exporta desde os anos 1970, mas abriu sua primeira loja no exterior apenas em 2017, no Peru. Hoje, são oito lojas no exterior, em Peru, Bolívia, Equador e Romênia.
—Em 2020, queremos inaugurar mais dez unidades internacionais e o foco são países da América Latina, que têm clima e períodos de estações do ano semelhantes ao do Brasil, para, em seguida, galgar espaços físicos nos Estados Unidos e na Europa — prevê a presidente Andrea Kohlrausch.
Fonte: O Globo