O design focado no ser humano não consiste em uma disciplina nova e há algum tempo está presente nas reuniões corporativas e dinâmicas ágeis de grandes empresas. No estudo da Fjord, agência de design da Accenture, no entanto, esse conceito ganha uma nova conotação para 2020. O Design da Vida está agrupado como uma das sete tendências para o próximo ano apontadas pelo levantamento e consiste na mudança de uma mentalidade focada no “eu” para “nós”.
“Por anos, o design centrado no usuário e nas pessoas tratou de separar o indivíduo do seu contexto. Agora, as pessoas começam a ser vistas como elementos de ecossistemas, em vez de serem o centro de tudo. Esse deslocamento exige pensamento sistêmico e projetos para dois conjuntos de valores: pessoais e coletivos”, diz o texto que acompanha o Fjord Trends 2020. O estudo foi baseado nas opiniões de mais de 1.200 designers e desenvolvedores da Fjord espalhados por 33 estúdios no mundo todo coletadas durante o ano de 2019.
Brian Whipple, CEO da Accenture Interactive, explica que, com base na percepção de que os clientes da Accenture estão se reorientando em direção a uma transformação intencional, entende que “a próxima década verá um desafio de fundamentos, que oferece uma oportunidade para as empresas transformarem suas ofertas em algo mais consciente, significativo e com visão de futuro. A mudança de uma mentalidade de ‘eu’ para ‘nós’ exigirá a necessidade do design mudar de uma abordagem centrada no usuário para uma abordagem centrada na vida”, afirma Whipple, em nota.
Veja abaixo as sete tendências e suas definições de acordo com o próprio estudo:
As muitas faces do crescimento
“As pessoas estão desafiando as organizações a definir seu sucesso de outras formas além do crescimento financeiro, marco histórico da prosperidade. Hoje, as companhias pecisam perseguir um conjunto mais amplo de objetivos de negócio que estejam em equilíbrio com o fato real de que os lucros são vitais para a longevidade. Isso abre portas para oportunidades de imaginar formas inteiramente novas de criar e sustentar valor. Esta tendência fala sobre a reavaliação de crenças antigas. As organizações estão sob a pressão de seus investidores, clientes e funcionários. Por isso, precisam responder aos novos valores sociais, às preocupações com as mudanças climáticas e o esgotamento dos recursos naturais, além da instabilidade econômica e política”
Novos significados do dinheiro
“A forma de lidar com o dinheiro está mudando – o que ele é e o que pode fazer. A própria ideia e formato de dinheiro estão se transformando, além da nossa percepção e do modo como nos relacionamos com ele, impactando também a maneira como enxergamos o ato de pagar pelas coisas. Essas mudanças nos levarão a fazer mais do que simplesmente comprar, gerando oportunidades para um novo nicho de produtos e serviços. Esta tendência fala da nova relação com o dinheiro, da evolução dos ecossistemas – liderada por empresas não tradicionais no setor financeiro – e de como sistemas integrados, ou praticamente invisíveis, de pagamentos estão deixando nossa ligação com o dinheiro mais ambígua”
Códigos de barras humanos
“As tecnologias de reconhecimento facial e corporal nos deixam tão rastreáveis no mundo real quanto somos há anos no mundo virtual. O 5G criará oportunidades para novos produtos e serviços, mas precisamos aprender com os erros do mundo digital e priorizar privacidade e segurança acima de tudo. Esta tendência analisa como nossos corpos estão se transformando nas nossas assinaturas. À medida que as máquinas ficam melhores em ler nossas características corporais, temos uma fusão entre nossa identidade digital e física. Neste ponto, também exploramos a migração gradual de serviços cotidianos – sofisticados, contextualizados e digitais – do mundo virtual para o real. Conforme isso acontece, anúncios e experiências sob medida se tornarão a norma nos ambientes físicos”
Liquid people
“As pessoas ainda querem consumir e trabalhar, mas elas não querem mais ser definidas apenas pelos seus bens ou pelos seus empregos. As organizações precisam apoiar seus consumidores e funcionários na mudança crescente de seus desejos e nas suas buscas por uma vida com mais significado. Esta tendência aborda o lado humano da discussão sobre as várias faces do crescimento. Em outras palavras: o consumo está mudando. Orientadas por diversos fatores, como a maior compreensão da importância da saúde mental e do bem-estar, e sobre mudanças climáticas e sustentabilidade, as prioridades das pessoas estão mais fluidas”
Design da inteligência
“A Inteligência Artificial (IA) está evoluindo. Se antes era usada principalmente para aumentar a eficiência por meio da automação inteligente, seu novo propósito passa a ser agregar valores e apoiar a criatividade humana. Com o desenvolvimento de sistemas que mesclem as competências humanas com IA, seremos capazes de desenvolver estratégias de negócios disruptivas, empoderar as pessoas para que possam lidar com a complexidade crescente no ambiente de trabalho e melhorar as experiências humanas. Esta tendência trata do amadurecimento da IA como tecnologia e da forma como as empresas começam a enxergá-la além da automação, buscando ferramentas melhores e mais cautela com os seus efeitos econômicos e sociais. Neste caso, é fundamental que haja um compromisso de projetar para a inteligência humana e otimizar o relacionamento entre pessoas e máquinas”
Dublês digitais
“Gêmeos digitais como modelos de dados e em 3D são ferramentas comuns em fábricas e indústrias. Agora, elas se tornam pessoais com a corrida pela criação de manifestações virtuais de nós mesmos. Esta tendência explora a evolução dos nossos dublês digitais. Inicialmente, eles devem oferecer oportunidades personalizadas de entretenimento. Em pouco tempo, serão combinados a outros serviços, até se tornarem a base virtual de todos os nossos dados, totalmente controláveis por nós (pelo menos na teoria). Marcas e serviços públicos precisam ao menos aprender a desenvolver produtos para nossos gêmeos digitais, enquanto alguns agentes devem descobrir como criá-los. As pessoas em breve usarão seus dublês digitais para controlar seus dados pessoais com foco em seus próprios interesses e não nos de agentes externos que venham a coletá-los e usá-los”
Design centrado na vida
“O foco do design está passando do “eu” para “nós”. Estamos começando a questionar a natureza egocêntrica do foco no usuário acima de qualquer outro, gerando a necessidade por um design centrado na vida. A solução lógica é a mudança para o design centrado na vida. Por anos, o design centrado no usuário e nas pessoas tratou de separar o indivíduo do seu contexto. Agora, as pessoas começam a ser vistas como elementos de ecossistemas, em vez de serem o centro de tudo. Esse deslocamento exige pensamento sistêmico e projetos para dois conjuntos de valores: pessoais e coletivos. Economia e política, capitalismo e recursos, tecnologia e sociedade são elementos há muito tempo entrelaçados, mas só recentemente suas consequências irromperam à consciência pública – ironicamente, impulsionados pelas próprias tecnologias que tornaram essa interconectividade possível”
Fonte: Meio & Mensagem