Tecnologia, fusões e integração de canais devem crescer. Avaliação é do presidente da Associação Brasileira de Franchising (ABF), André Friedheim
Abrir uma franquia é a opção de muitos empreendedores que desejam ter um negócio próprio. No Brasil, existem quase 3 mil marcas que oferecem esse modelo de expansão, de acordo com a Associação Brasileira de Franchising (ABF). No terceiro trimestre de 2019, o setor faturou R$ 182,6 bilhões, um crescimento de 6,8% em relação ao mesmo período do ano passado.
Nos últimos anos, o setor acompanhou as transformações econômicas do Brasil. Surgiram mais marcas de microfranquias (com valor de investimento inicial de até R$ 90 mil) e as redes tradicionais reduziram o aporte inicial, ou passaram a parcelar o valor.
Segmentos também ganharam desdobramentos, como beleza, que passou a contar com redes especializadas em depilação, sobrancelhas, esmalterias, cílios, entre outras, e alimentação, que foi fortemente influenciada pela onda da saudabilidade – que envolve alimentos mais saudáveis.
Para 2020, o presidente da ABF, André Friedheim, acredita que o franchising evoluirá conceitos que foram testados nos últimos anos, como a gestão colaborativa. “Veremos também, cada vez mais, uma descentralização de estruturas franqueadoras. Os franqueados têm participado mais ativamente de programas de treinamento, consultoria de campo, e estão mais integrados aos processos de gestão das redes”, comenta.
Isso também fará com que as franquias consigam se aproximar mais do conceito de multicanalidade, envolvendo todas as pontas do negócio. “Vamos realmente entender que a omnicanalidade é uma realidade e as franquias passam a ser um vetor importante no processo de atendimento ao consumidor final.”
No próximo ano, o setor também lidará com uma nova lei, que foi aprovada recentemente e aguarda pela sanção presidencial. Há ainda a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), prevista para entrar em vigor a partir de 16 de agosto de 2020.
Confira, a seguir, cinco tendências que devem nortear o franchising em 2020:
1. Lojas multicanal (de verdade)
Friedheim explica que as lojas franqueadas poderão cumprir um papel de last mile (cliente compra na internet e a loja mais próxima entrega), com menos custos, bem como o pick up on store, em que o próprio cliente retira na loja. “Já temos softwares que permitem isso e passamos a ver de maneira mais prática no dia a dia.” Além disso, as redes encontraram maneiras de atender ao multicanal dentro da tributação adequada, por meio de práticas similares às câmaras de compensação, usadas pelas instituições financeiras.
Neste ano, algumas inovações já foram feitas nesse sentido. A Calçados Bibi, por exemplo, difundiu para a rede o conceito de “prateleira infinita”, que é a integração entre as lojas físicas e o canal online. Se o cliente está em uma unidade e deseja um produto que não tenha disponível na loja, a consultora de vendas pode efetuar a compra pelo e-commerce. Além disso, o cliente opta se quer retirar o produto na loja ou se prefere que a entrega seja feita em casa. O contrário também acontece – no conceito “Clique & Retire”, o cliente pode comprar online e retirar na loja de sua preferência.
2. Fusões e aquisições
O presidente da ABF também acredita que o movimento de consolidação e fusão de franquias deve se intensificar em 2020. A razão para isso são as melhores condições para negociar com ganho de escala.
No último mês de julho, a holding International Meal Company (IMC), dona das redes Frango Assado e Viena, anunciou a fusão com a MultiQRS, do empresário Carlos Wizard e dos filhos Charles Martins e Lincoln Martins, que detêm os direitos de masterfranquia da Pizza Hut e KFC no país.
Em entrevista a PEGN, Wizard confirmou que as lojas com baixa performance do Viena serão transformadas em KFC ou Pizza Hut, e que esta última marca também passará a ser vista dentro das lojas do Frango Assado, nas estradas brasileiras.
3. Consolidação de Serviços
A tecnologia deve continuar a transformar e desmembrar alguns segmentos. A aposta de Friedheim é em franquias de serviços. “Estamos passando por um processo de profissionalização de serviços, em diversas áreas diferentes, de conserto de carros a saúde, e isso passa muito pelo sistema de franquias.”
Na visão do presidente, o setor de saúde continuará em alta, com o desenvolvimento dos nichos de estética, ginástica e clínicas gerais e odontológicas. Recentemente, a Odontoclinic anunciou o lançamento da rede com status de startup Elevel, focada em atendimento às classes A e B, e com amplo apoio em tecnologia.
4. Alimentação deve intensificar atuação em saudabilidade, comida do futuro e delivery
O segmento mais representativo do franchising brasileiro também tem passado por transformações que devem se intensificar em 2020, na visão do presidente da ABF. Delivery, dark restaurants, saudabilidade e comidas à base de plantas devem continuar a revolucionar o setor.
Dark Restaurants são as empresas de alimentação que apostam totalmente em delivery, sem atendimento presencial ao consumidor. Uma das marcas que já nasceu com esse conceito foi a capixaba N1 Chicken, de frangos fritos, criada em 2017. A franquia já tem mais de 80 unidades nesse modelo.
O Spoleto investiu R$ 300 mil para o desenvolvimento de uma almôndega à base de plantas, que já pode ser encontrada em todas as lojas da rede. A expectativa é vender 150 mil pratos nos próximos dois meses.
5. Inteligência Artificial
Tecnologia está presente em todos os tópicos deste texto, mas também deverá ser o alicerce transformador do sistema como um todo, na visão de Friedheim. “Vamos passar por um embarque de tecnologia nas redes, nos mais diversos espectros. Inteligência artificial, machine learning, trabalho de dados. Vamos ver bastante, em todas as redes – cada uma dentro de sua especialidade.”
O Grupo CRM, por exemplo, que controla as operações da Kopenhagen e Chocolates Brasil Cacau, usa inteligência artificial para ajudar a tomar decisões corretas de planejamento, produção e abastecimento das lojas. A plataforma adotada é da Tevec.
De acordo com a rede, a tecnologia ajudou a reduzir 50% no volume de estoque e a ruptura não ultrapassa 5%, chegando a atingir apenas 0,2% em alguns meses.
Fonte: PEGN